Há um
trem interessante acontecendo que pode e precisa ser notado.
Desde 1958, com a eleição de João XXIII, tem havido um
progressivo despojamento do papado e da figura do papa, e uma consequente maior
simplicidade. Sejam simples como as pombas, falou Jesus.
Pio XII (1939-1958) era um príncipe medieval, alto,
magro, hierático, solene; comia sozinho, vivia sozinho, não se aproximava de
ninguém. Quando João XXIII foi eleito, ao subir na “sedia gestatória”, aquela
cadeira carregada por homens que se usou até João Paulo I, ele, gordo e
bonachão, perguntou aos homens quanto ganhavam eles para carregá-lo. É que, a
partir de agora – concluía o papa – teriam de ganham mais, porque ele era muito
pesado! A história correu mundo.
No ano seguinte, ao receber a rainha Elisabeth II,
ninguém sabia o que poderia acontecer. Depois do rompimento, era a primeira vez
que um chefe da Inglaterra e da Igreja Anglicana visitava um papa. Pois então.
Quando a rainha entrou no salão, João XXIII se levantou, abriu os braços e
disse: Lilibeth, my dear! Já era um novo tempo.
Na abertura do Concílio Vaticano II (1962-1965), o papa
bom, como era chamado João XXIII, saiu à bancada da basílica de S. Pedro, numa
noite de lua cheia, e fez um maravilhoso discurso, falando de improviso (como
era impensável naquela época a um papa fazer!), mostrando “la bella luna” e
recomendando aos pais ali presentes que levassem o carinho do papa para seus
filhos e lhes dissessem que foi o papa quem lhes mandou aquele beijo. Já era
mesmo um novo tempo.
Quando ele morreu, em 1963, o jornal comunista da
Itália (no auge da Guerra Fria) estampou a foto do papa na primeira folha,
lamentou sua morte e arrematou dizendo: Falem mal dos padres e dos bispos, mas
não falem mal desse homem, porque ele era bom. Uau!
Depois de João XXIII, Paulo VI abandonou a tiara, a
tríplice coroa, e a deu de presente a uma favela da Colômbia. João Paulo I e os
papas seguintes não mais foram coroados como reis. Nem ninguém mais usou a
sedia gestatória. Ninguém quis ser rei, porque os reis passam.
Na primeira missa de João Paulo II, quando ele brandiu
a cruz do báculo diante de todos, todos souberam que um novo momento estava
começando, ali, naquele momento. Era meta do papa polonês tirar o anúncio do
Evangelho do seu complexo de inferioridade.
Passou o tempo. Um longo inverno...
E aí, maravilhosamente, esse novo papa se põe a
desmontar toda a bugiganga que os séculos foram acumulando. Põe-se a limpar o
azinhavre. Abandona todos os títulos. Quer ser apenas o que o papa sempre foi:
o bispo de Roma. Estamos de volta aos primeiros tempos do Cristianismo, de volta
às florescentes origens. Deus lhe dê vida longa e saúde!
Há quem diga que não se pode desprezar uma conquista
cultural dos séculos. Mas é preciso estabelecer a justa diferença entre
conquista cultural e entulho. Às conquistas culturais deem-se lhes o lugar que
lhes é devido. E ao entulho, o lugar que lhe compete.
Quando eu estava no seminário, todo domingo, à noite,
havia bênção do Santíssimo pelas intenções do papa. Ao final, cantávamos:
Oremus pro pontífice nostro (hoje... Francisco)!
Dominus conservet eum, et vivificet eum et beatum
faciam eum in terra. Et non tradat eum in anima inimicorum eius.
Oremos pelo nosso pontífice...
Que o Senhor o conserve, e lhe dê vida longa, e o faça
feliz sobre a terra. E não o entregue à sanha dos seus inimigos.
Pelo que andamos vendo, está na hora de voltar a rezar
isso, de no-vo, de verdade!
Abençoado Francisco! Vida longa, saúde e paz!
Shalom
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