Saudade dos velhos tempos em que eu era feliz e nem sabia.
Saudade dos intermináveis discursos do Sr. Zequinha Gomes que ouvíamos, todos uniformizados,
quietinhos em sinal de respeito.
O Hino Nacional cantado em frente à Bandeira do Brasil, todos em
posição de sentido conduzidos pela D. Adolfina Faria. Tínhamos orgulho de nossa
pátria, de nossos políticos, nossa bandeira...
Saudade dos saquinhos de doce que ganhávamos nas coroações de N. S.
Aparecida, no Santuário. Do Corinho da Matriz, com a maestrina dona Ruth Simões. Da missa das crianças, onde sentíamos
mais importantes que os adultos.
Saudade de passear com as amigas dando voltas no largo da Matriz enquanto os rapazes, encostados na Igreja, flertavam com as moças.
Dançar de rosto colado no Clube Operário ao som de “Fellings” com Morris Albert , Please don`t
say goodbye com Chrystian e tantas
outras.
Saudade dos Bailes de Grêmio Operário 1º de Novembro, quando a cidade
enchia de gente pra ver a Rainha
descendo a Avenida em cortejo, toda
linda e orgulhosa com o aplauso do povo,
rumo ao grandioso Baile.
Saudade dos carnavais do Clube Wenceslau , com nossos músicos tocando
as marchinhas que o Zezinho Barbeiro e o Dimitre cantavam. Dos bailes maravilhosos
onde íamos de vestidos longos e os rapazes de terno e gravata, recebidos com a
simpatia do Seu Joaquim do Clube.
Das gincanas dos blocos no campo de aviação.
Saudade das festas juninas, das quadrilhas, do pau de sebo, correio
elegante, casamento caipira...
Saudade do Bar do Gustavo, (nossa primeira “boate”) onde moça de
família não devia frequentar, segundo nossos pais, mas mesmo escondidos íamos
ouvir músicas gostosas, encontrar os amigos e tomar uma cuba libre ou um Hifi.
São tantas as saudades...
Saudade da D. Isaura e suas aulas de corte e costura, da D. Lourdes Vergueiro e sua escola
de datilografia, dos pirulitos da D. Julita, das torcidas da D. Rosa, do doce
de batata da Geralda Cintra, do picolé de pistache do Bar do Tronco, do chocolate de garrafinha, com
licor dentro, do Bar do Tip Top, do Lambari frito do Onofre da Candinha, do
pastel do Seu Geraldo, da bolacha preta da padaria do Marinho, do Biju de
farinha do Seu Higino...
Saudade de brincar de pé na lata, pique esconde, amarelinha, boca de
forno, passa anel, cobra cega, batata quente, bafo, alerta, corre cotia, dança
das cadeiras...
Sim, eu era feliz, mas tudo passou... tudo virou SAUDADE...