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21 de janeiro de 2016

SIMPLICIDADE - Renato Lobo


A rosa não tem porquê. Floresce porque floresce, quando floresce. Não se preocupa consigo nem deseja ser vista.
A simplicidade é nudez, despojamento, pobreza. Sem outra riqueza senão tudo. Sem outro tesouro senão nada. Liberdade, leveza, transparência. Simplicidade é o ar do pensamento, uma janela aberta ao grande sopro do mundo, para a infinita e silenciosa presença de tudo.
O simples não simula, não presta atenção a si, não calcula, não tem segundas intenções.
A simplicidade não é uma virtude da infância, mas uma infância como virtude: uma infância reencontrada, libertada de si mesma, da imitação dos adultos, da impaciência de crescer, da grande seriedade de viver, do grande segredo de ser si mesmo. É a infância do espírito, a que as crianças, mesmo, quase nunca têm acesso.
Olhai as aves do céu, considerai os lírios do campo...
Vamos aqui e ali, à procura de uma alegria por toda parte em migalhas, porque o saltitar do pardal é a única possibilidade de saborear Deus, caso ele esteja espalhado pelo chão. Tudo é simples para Deus, tudo é divino para os simples.
Nossas melhores ações são suspeitas, nossos melhores sentimentos, equívocos. O simples sabe disso e nem se importa. Ele não se leva a sério nem a trágico. Segue seu pequeno caminho, de coração leve, de alma em paz, sem objetivo nem impaciência nem nostalgia. O mundo é seu reino, e lhe basta. O presente é sua eternidade, e o satisfaz. Nada tem a provar, pois não quer parecer nada. Nada tem a buscar, porque está tudo ali.

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