Certa vez, olhando pela janela da sala de
nossa casa – eram duas horas da tarde de um sol escaldante – divisei ao
longo da estrada de terra que leva para roça, um vulto de preto, chapéu e
valise às mãos, que apertava o passo rumo a algum lugar, lá pelas bandas do Chico Eva.
Chamei alguém que estava na sala e pedi que
viesse descobrir comigo de quem se tratava.
Olhamos com atenção e chegamos a mesma
conclusão: era o Padre Quinzinho - de
batina preta, chapéu e valise – que ia em direção à casa de alguém que estava
doente e pedira para se confessar ou receber a comunhão.
Era assim mesmo; para o Padre Quinzinho,
atender um pedido de confissão ou extrema-unção era mais que um dever, era a missão
que lhe incendiava a alma de apóstolo e para qual não havia nada que
postergasse o atendimento na hora certa - isto é – imediatamente.
Ele saía da mesa no meio de uma refeição,
levantava da cama fosse a hora que fosse,
deixava reuniões pelo meio. Já o ví até interromper o início de uma missa,
deixar os fiéis esperando, e ir primeiro atender um chamado de um doente.
Abrasava-lhe o coração a salvação das almas. Esquecia-se
de si próprio em qualquer tempo e lugar. Se entrava no confessionário, era
preciso chamá-lo para alguma cerimônia que devia presidir. Se ouvia dois toques
de sino – era a senha – deixava as coisas pelo caminho: uma prosa, uma
conversação oficial, uma visita ou um laser. Os dois toques de sino significava
que alguém precisava – “in extremis” – da presença do sacerdote e por isso ele
estava lá, dentro do menor tempo possível.
Essa era o Padre Quinzinho, o sacerdote que
punha sua missão acima de qualquer preocupação de ordem pessoal. Extremamente
prudente, sábio e caridoso, tinha a palavra inspirada e o conselho certo para
todos que o procuravam. Seu carisma aliado à simplicidade pessoal atraía pobres
e ricos, crianças e adultos, com os quais se comunicava com a mesma distinção
em qualquer circunstância.
Pastoreou por mais de trinta anos a paróquia
de Brazópolis, sempre com o mesmo entusiasmo apostólico. Recebeu por mérito e
por virtude os títulos de Cônego e Monsenhor, mas gostava mesmo de ser chamado
de Padre Quinzinho.
Padre Quinzinho era um nobre que não
precisava parecer nobre, a sua nobreza era daquelas sem aparência externa. Estava
na simplicidade de seus atos e na singeleza de sua expressão pessoal.
Sábio, porque estudioso, e sempre bem informado, especialmente quanto aos
assuntos da Igreja, era muito respeitado e admirado por seus irmãos no sacerdócio
do Clero Diocesano.
Sua humildade era tão singular que confundia quem
lhe quisesse prestar homenagens, porque ele, diplomaticamente, a endereçava a
seus coadjutores ou a seus auxiliares, quando não inventava um personagem
responsável pelos atos que estavam a merecer elogios e manifestações.
Grande liturgista, era enérgico no
cumprimento das funções rituais, exigindo sempre que as celebrações,
especialmente, a eucarística, fossem cumpridas integralmente e com grande selo
e piedade.
Suas prédicas eram ricas, preciosas e plenas
de unção apostólica. Orador de palavra fácil não tergiversava quando tinha que
levar aos fiéis a doutrina social da Igreja exaradas nos documentos pontifícios
e diocesanos.
Tinha uma grande predileção para com os
pobres e humildes e reservava seu especial carinho para com os internos do
Asilo Maria Adelaide, assim como aos enfermos do Hospital São Caetano e à Vila
Vicentina.
Era, afinal, um homem cujas virtudes lhe
precediam os passos, pois que o ar ao seu redor vibrava de uma maneira tão
positiva, semelhante a aura dos santos, que comovia os mais empedernidos e
frios cidadãos que dele se aproximavam.
Crônica do livro “Saga de um Tabelião”
Um comentário:
r.c. diss...tudo isso que foi dito e pouco pela grandesa desse santo,tenho certeza ele esta ao lado de jesus. so quem o conheceu pode diser isto.
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