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AQUI, FÁTIMA NORONHA TRAZ NOTÍCIAS DE SUA PEQUENA BRAZÓPOLIS, CIDADE DO SUL DE MINAS GERAIS.
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26 de dezembro de 2010
DEUS EXISTE (1) – Renato Lôbo
“Quando eu era criança, falava como criança, pensava como criança, raciocinava como cri-ança. Depois que me tornei adulto, deixei o que era próprio de criança.” (1Cor 13,11).
Todo mês de outubro, das torres Matriz, descia uma cascata de luz em forma de rosário, construída por 170 contas feitas de pequenas lâmpadas coloridas. Aquilo era lindo! Eu nem sei o que pensava na época, mas, na certa, acreditava que anjos ali houvessem colocado um sinal do Céu, para nos lembrar que aquele era o mês de outubro e que, no mês de outubro, se rezava o terço.
Todo mês de dezembro, no canto direito Matriz, armava-se o presépio num painel de fundo onde brilhava a cidade de Belém. Papel celofane colorido colado às janelinhas das casas permitia à luz passar, e daquela luz a gente se iluminava. Aquilo também era lindo!
Que anjos teriam dependurado o rosário de luz ou iluminado às janelinhas do presépio? Ora, nenhum!
A gente cresce e percebe que o rosário iluminado era apenas fiação elétrica e a cidade de Belém, apenas um painel pintado à mão. No entanto, quem diz que o encantamento diminui? Quem disse que saber o princípio das coisas faz com que elas percam a capacidade de nos adiantar o fim? Saber onde começa e aonde termina a razão das coisas não altera nem elimina a beleza e a força que elas têm. O rosário iluminado continua atuando por detrás da busca de um sentido maior da vida, ainda que ninguém mais o coloque lá. O painel do presépio permanece iluminado como pano de fundo da reverência ao Mistério Supremo, ali, traduzido da maneira como toda criança pudesse entender. Com o tempo, sumiu de lá. Mas, não importa. Continua acendendo corações, e não paredes.
A criança cresce e é bom que cresça. Mas não desaparece. A criança continua habitando uma sala encantada no castelo adulto. Lá, de onde ela consegue brincar para que o sisudo adulto não se esqueça da alegria, ela é linda, a criança é linda! Como eram igualmente lindos o rosário e o painel de luz. Se for preciso notar alguma coisa, diria apenas que a criança precisa ser conduzida pelo adulto para não instalar rosários de luz no meio do carnaval, ou armar presépio na semana santa. Mas, só isso. De resto, é bom deixar a criança ser criança, mesmo ou sobretudo, quando ela se expressa no corpo de um adulto.
Há coisas que só o silêncio consegue falar: coisas de amor e de contemplação, coisas de transcendência e de Transcendente. Mas há coisas que precisam de palavras para ser ditas. E, na verdade, o que são as palavras, senão a fiação elétrica que conduz a luz do rosário e acende janelinhas no painel de Belém? Sem a energia, pra quê a fiação? Mas sem a fiação, a luz não chega.
Dessa reverência tecida de palavras e de silêncio foi que a vida me fez perceber que Deus existe e que, ainda que não existisse, existiria o desejo de sua presença capaz de iluminar – como a luz do rosário e o painel do presépio – todas as fadigas e desalentos, decepções e frustrações a que simplesmente o fato de viver constantemente nos expõe.
Porque a vida (ah, a vida!) não é bolinho não!
Por enquanto é isso. Continuo depois.
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