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8 de novembro de 2015

UM HERÓI NA PRAÇA - Maurício Braga de Mendonça

Descendo pela Ladeira Santos Lima ou chegando pela Rua Capitão Manoel Gomes ou pela Rua Ten. Francisco Dias, vamos dar na famosa Praça do Mercado. Nesse grande espaço público, se atentarmos para as placas indicativas do nome da praça afixadas nas paredes de seus prédios, visualizamos o nome de “ José Gouvêa”.
           
Quem foi tal cidadão? Infelizmente, a maior parte de nossa população  desconhece esse ilustre conterrâneo que empresta seu nome à uma das mais importantes praças de nossa cidade.Sua história deveria ser contada nos bancos escolares.
           
José Pereira Gouvêa, nascido na então Freguesia de São “Caetano da Vagem  Grande”,hoje Brazópolis, em 1873,era o filho mais velho de Antônio Ferreira de Castro Gouvêa e Rita Pereira da Silva  Gouvêa. O pai era português, vindo para o Brasil ainda jovem, com 15 anos apenas, a procura de seu futuro. A mãe, filha de José Pereira da Rosa e Feliciana Maria da Silva, casal de numerosa prole e do qual originaram inúmeras famílias que  compõem o alicerce de nossa sociedade. José Gouvêa fez o curso de humanidades na cidade do Rio de Janeiro onde trabalhava como jornalista, sendo revisor na redação do famoso  “Jornal do Comércio” .Ingressara bem jovem na Faculdade de Medicina da Praia Vermelha e cursava o 3º Ano de medicina quando deflagrou na então capital federal, em fins do século XIX, a chamada “Revolta da Armada”de que nos conta a História do Brasil. 

            A Revolta da Armada foi um movimento de rebelião promovido por unidades da Marinha do Brasil, em setembro de 1893, contra o governo do marechal Floriano Peixoto, supostamente apoiada pela oposição monarquista, contrária à recente instalação da República, o que ocorrera em 15 de novembro de 1889, com o banimento da família Imperial.  Proclamada a República, instituiu-se imediatamente um governo provisório, chefiado pelo marechal Deodoro da Fonseca. O governo provisório, formado naquela noite de 15 de novembro     deveria dirigir o país até que fosse elaborada uma nova constituição. Em 25 de fevereiro de 1891, O Marechal Deodoro da Fonseca foi eleito pelo Congresso para o cargo de Presidente da República e o Marechal Floriano Peixoto para o de Vice-presidente. O governo republicano obteve pronto reconhecimento interno e externo. Logo no início, porém, o nosso primeiro Presidente da República enfrentou a oposição do Congresso Nacional que tentava restringir os poderes do Executivo Federal. Em conseqüência, Deodoro da Fonseca dissolveu o Congresso e decretou estado de sítio em 3 de novembro de 1891. O Exército e a Marinha protestaram. Deodoro aborrecido com a política e doente, renunciou ao cargo, assumindo a Presidência o Vice Floriano Peixoto, em 23 de novembro do mesmo ano. Seu primeiro ato foi   desfazer o que Deodoro havia determinado, suspendendo o estado de sítio e revogando  a dissolução do Parlamento. Floriano Peixoto, contudo, não quis acatar a disposição constitucional, que determinava nova eleição, no caso de vaga na Presidência ou Vice-Presidência, antes de terem decorridos dois anos do período presidencial ( Deodoro da Fonseca havia renunciado com 9 meses de mandato).Segundo ele, o dispositivo constitucional só se aplicava se ocorresse a vacância dos cargos no caso de eleições diretas, pelo voto universal e não naquela presente situação em que as eleições tinham acontecido pelo sistema indireto,ou seja ,  pelos Congressistas.
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            O gradual afastamento ocorrido entre o Exército e a Marinha durante a passagem política do Império a República às glórias e pompas da Monarquia não conseguiram se ajustar a disciplina republicana que conferia destaque muito mais ao Exército. Os ânimos dentro da Armada (antiga denominação da Marinha do Brasil) estavam bastante exaltados. Além disso, juntou-se a ela o grupo de monarquistas que desejavam depor Floriano Peixoto e restabelecer a Monarquia. Os revoltosos queriam tomar o governo. O cenário político se apresentava  muito conturbado. Vários oficiais da Marinha conspiravam contra Floriano. Exército  e Marinha não se entendiam. Diversas unidades encouraçadas trocavam tiros contra a artilharia dos Fortes em poder do Exército. O Presidente Floriano, indignado, convocou todas as forças militares e solicitou ao povo voluntários para  enfrentar  a  situação  belicosa.
           
Ao contrário do comportamento da mocidade hodierna, que nos anos 90 saiu pacificamente as ruas, de caras-pintadas, exigindo o “Impeachment” do então Presidente Collor que acabou tendo seus direitos políticos cassados, aqueles jovens do século XIX, ano de 1894, formaram um batalhão, o “Batalhão Acadêmico” assim denominado, que se incorporou as demais forças assediadas no Forte Gragoatá, em Niterói, empunhando fuzis , dispostos  a lutar  em defesa do Presidente da República legitimamente constituído. Entre os acadêmicos voluntários  estava o jovem estudante de medicina e jornalista brazopolense José Pereira Gouvêa.

No madrugada de 09  de fevereiro do ano de 1894, os rebeldes que vinham por horas a fio mantendo fogo contra as dependências  da Fortaleza em mãos do Exército, conseguem desembarcar na Armação em Niterói, na tentativa de assalto ao Forte. Os acadêmicos, com o apoio da Fortaleza de  Villegaignon e da Fortaleza da Ilha das Cobras resistiam sob o fogo do Encouraçado “Aquidabã” e do Cruzador “República”.   O tiroteio se intensificava mais em Gragoatá, ferindo vários voluntários. Enquanto José Gouvêa auxiliava a equipe médica no atendimento aos feridos, outra  granada explode no pátio atingindo-o gravemente. Socorrido, não resiste aos ferimentos recebidos, vindo a falecer. O Forte, apesar das baixas sofridas e arruinado pelo fogo, não se rendeu aos revoltosos, que puseram-se em fuga sendo acossados, bloqueados e atacados por uma esquadra governista. Com a rendição dos principais chefes  do movimento revoltoso, este findou logo depois.     

Dias após o ataque, o Forte de Gragoatá recebeu a visita do Presidente Marechal Floriano Peixoto, que em homenagem muda o nome para “Forte Batalhão Acadêmico” .Algum tempo depois, o Comando do Exército Brasileiro presta uma homenagem póstuma ao bravo estudante José Pereira Gouvêa conferindo-lhe a patente militar de Alferes ( que corresponde atualmente a “Sub-Tenente”). O herói Brazopolense foi sepultado no cemitério Muruhy  em Niterói, no mausoléu dos heróis da Revolta da Armada, tendo perenizado seu nome no bronze do monumento ali erigido.
           
Resta agora uma atitude nobre por parte das autoridades brazopolenses que façam inserir junto ao nome de “José Pereira Gouvêa” constante da placa da Praça do Mercado a patente de “Alferes”. Não farão  mais que Justiça àquele que foi o Primeiro Herói Brazopolense, “que deu sua vida em holocausto à nobre causa da Democracia e da Liberdade”.

4 comentários:

Edy Mendonça disse...

Espero que o texto do doutor Mauricio Braga Mendonça seja um incentivo para que outros brazopolenses também pesquisem e divulguem a vida de seus familiares que dignificaram nossa cidade.

Ana Lúcia disse...

Muito linda a história. só fico imaginando de como seria, uma pessoa desta, com tanta capacidade, onde seria capaz de chegar, se ninguém parasse ela....acho que a hitória não teria mais fim...

Martha Braga Mendonça disse...

Parabéns pela escrita do texto, Maurício, história importante que deve ser sempre difundida. A memória cultural colabora para o fortalecimento da sensibilidade de novas gerações, bem como para o carinho e respeito entre todos. Preciso aqui dizer também que a digitação do nome do local de nascimento de José Pereira Gouvêa saiu errada. O correto é: "São Caetano da VARGEM Grande".
Meu abraço, Martha Braga Mendonça (residindo em São Lourenço junto com sua irmã Josette Braga de Mendonça).

Anônimo disse...

e os pobres que carregavam esse povo cheio de titulos, a custa de seu sangue, suor e lagrimas, devia ser homenageado tambem. Ate mais que os coroneis que eram herois a lastro de chibata.

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