Uma grande multidão do povo o seguia. Mulheres batiam no peito e choravam por ele. Vendo aquilo, ele voltou-se e lhes disse: Filhas de Jerusalém, não chorem por mim. Chorem por vocês mesmas e por seus filhos. Dias virão em que se dirá: Felizes as que nunca tiveram filhos, os ventres que nunca deram a luz, os seios que nunca amamentaram. Se isso acontece ao lenho verde, que dirá ao seco? (Lc 23,27-31).
Lembro-me de Dom Hélder, quando escreveu: “Se um dia passares abrigado contra o frio, protegido da chuva, e vires Jesus Cristo ensopado, de roupa colada ao corpo, ossos gelados e alma tiritando, mesmo que não pares, que não haja lugar em teu carro ou que não te seja possível levar para casa o teu Senhor, sai rezando, angustiado, pra que, afinal, um dia haja lugar para ele em todos os carros, em todas as casas, em todas as almas.”
Mas aqui, é ele quem para, quem consola e quer levar junto. Mas não tem casa, não tem carro, não tem sequer mais ser. Tudo é dor e exaustão. Tudo é nada. Debilitado, no limite do ser, ele para e fala, e alto, e sua voz se faz ouvir. O momento é tão único, a cena de tão surreal, faz os próprios guardas se deterem, surpreendidos pela força daquele gesto, daquele momento. E nada puderam fazer.
Momento único. Nunca mais outro igual.
Não chorem por mim. Minha peregrinação termina ali, ao fim dessa rua. O que não vai terminar nunca será o desfile dos filhos de ninguém, atravessando a vida como se ela fosse uma noite fria e sem luar. Reservem um pouco desse calor para eles. E reservem um pouco de ternura para vocês mesmas.
Momento único. Nunca mais outro igual!
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