E ele carregou, ele próprio, a cruz... É impossível não presenciar Abraão e Isaac subindo o monte. Lá estão eles, eu quase os vejo. “Meu pai, aqui estão o fogo e a lenha. Mas onde está o cordeiro para o holocausto?” (Gn 22,7). Deus providenciará, Deus providenciará. Foi o que Abraão foi repetindo, pra si mesmo, na longa subida do Moriáh. A cada nova repetição, uma força a mais para acreditar no impossível. Deus providenciará. Deus providen... c...
Agora, é o Filho quem tem de repetir: o Pai providenciará, O Pai providenciará. Mas o Pai se cala, silencia toda palavra, todo gesto, toda intenção.
O que mais dói não são as dores nem os insultos nem os insetos que o atormentavam nas feridas, nem a mistura de terra, sangue e vômito que ele engolia cada vez que conseguia respirar. Nesse oceano de dor, o que mais doía era a ausência de quem sempre esteve lá e que não poderia não estar, justo agora, não. “Eli, Eli lammá sabacthaní!” – “Meu Deus, meu Deus por que me abandonaste?” (Mt 27,46). Onde, Pai, estaria o cordeiro para o holocausto? Onde Pai? Onde? Você, meu Filho, você é o cordeiro.
Faltem-me todas as presenças. Faltem-me todas as vozes. Quanto mais funda se tornar a areia sob meus pés, quanto mais cortante e frio for o vento, quanto mais cerrado o nevoeiro, ainda mais nítida se torne tua voz, com uma palavra única, uma palavra só, e somente esta: Sou eu. Não temas!
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