Mas Deus queria esmagá-lo com o sofrimento: se ele entregar a sua vida e reparação pelos pecados, então conhecerá os seus descendentes, prolongará a sua existência e, por meio dele, o projeto de Deus triunfará. Pelas amarguras suportadas ele verá a luz e devolverá a muitos à verdadeira justiça, pois carregou o crime deles. Foi ele quem carregou os pecados de muitos e intercedeu pelos pecadores (Is 53,10-12).
Terceira queda. Todo corpo se arrasta pelo chão. Tudo está esfolado, machucado, reaberto. Feridas da véspera, que ameaçavam supurar são de novo abertas com a dor incrível que uma maceração assim provoca. Já chegaram ao Calvário. As mãos são soltas e se unem. É a última vez que elas se unem, daquela forma. Lembrei-me de uma prece: Quando rezando, tua mão direita cobrir de todo a esquerda, palma a palma, dedo a dedo, com luva, pede a Deus que assim, exatamente assim, tua vida corresponda ao plano eterno sobre ti.
Ele põe o ouvido ao chão e interpreta os rumores em volta. Predominam passos: inquietos, agitados, medrosos, passos de amargura, de ódio, revolta... Sequer começaram os primeiros passos de esperança. Ele cola ainda mais o ouvido à terra. Prende a respiração. Solta o interior. É o Pai que circula. O pai está ali. É mais fácil que ele falte nas horas felizes do que nas horas duras dos passos incertos. O pai está ali. Só isso conta. Só isso conta. Só isso conta.
Pronto. Ele chegou. Ele está pronto. Foi até onde devia ir. Caminhou todos os passos. Chegou até o fim. Não irá terminar nada. Irá consumar. São muito diferentes esses verbos. Ele irá consumar.
Não adianta de desfazeres de toda a carga na esperança de que teus pés não se afundem no lodo. O peso que conta, a carga sem a qual teus pés se tornam alados, é o teu próprio eu.
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