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20 de abril de 2011

STATIO XII – MORTE - Renato Lôbo

Sabendo disso, sabendo que tudo estava realizado, para que se cumprisse a escritura, disse ele: Tenho sede. Estava ali um jarro cheio de vinagre, até à boca. Amarraram numa vara de hissopo uma esponja ensopada de vinagre. E aproximaram-na da sua boca. Ele provou o vinagre e disse: Tetélesthai. Fui muito além... Concluí. Inclinou a cabeça, e entregou o espírito. (Jo 19,28-30).

Não, não pares. É graça divina começar bem. Graça maior caminhar firme, manter o ritmo. Mas a graça das graças é não parar. Podendo ou não podendo. Caindo, embora, aos pedaços, chegar até o fim.

Não. Não desças da cruz. Não te permitas não alcançar o fim. Que será de nós se teu sacrifício parar a meio? Deixa que se arrastem as três intermináveis horas. Espera o fel para os teus lábios. Oferece o lado para o rasgão bendito. Fica. Até o fim. Ensina ao mundo a distinção sublime e essencial entre acabar e consumar-se.

Agora, durma teu sono rápido. Não tivemos água para tua sede. Agora, descansa. Nunca tivemos mais que vinagre. Então, descansa. Será um sono breve, como breve é a aragem da manhã. Com ela voltarás? Esperaremos.

Mas em lugar estivemos nos seiscentos metros que te trouxeram até esse topo de colina? Quem teríamos sido ao longo desse amargo caminho? A mãe? Cireneu? Verônica? As mulheres? Tudo é possível quando nada nos foi possível.

Agora, descansa. Foste além, muito além do esperado, do previsível, do prometido. É hora de descansares.

Lá longe, as espigas de trigo dançam ao vento, douradas de luz, do mais lindo sol poente que já houve. Os homens ainda não sabem o que aconteceu. Ainda não sabem que estão libertos de antigas cadeias. Eles nunca sabem. Mas elas, elas sabem.

E quando, por fim, sopros misteriosos apagarem todas as estrelas e mãos invisíveis soltarem todos os ventos, quando a desolação interior nos levar a exclamar: Por que me abandonaste?.. É que chegou a hora da plenitude. A hora nona. A nossa hora.

Estaremos prontos? E seremos dignos? Até o fim?

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