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21 de abril de 2011

STATIO XIII – Descimento - Renato Lôbo

Aquele era o dia de preparativos para a Páscoa. Os judeus queriam evitar que os corpos ficassem na cruz durante do Sábado, porque esse Sábado era particularmente solene para eles. Então pediram que Pilatos mandasse quebrar as pernas dos crucificados e os tirasse da cruz. Os soldados foram e quebraram as pernas de um e depois do outro, que estavam crucificados com ele. E se aproximaram dele. Vendo que já estava morto, não lhe quebraram as pernas, mas um soldado lhe atravessou o lado com uma lança e, imediatamente, saiu sangue e água. Aquele que viu dá testemunho. E o seu testemunho é verdadeiro. E ele sabe que diz a verdade, para que vocês acreditem. (Jo 19,31-35)


Das profundezas minha alma clama a ti, Deus meu. Deus meu, ouve o meu grito!” (Sl 129).


Do fundo de sua alma sobe um clamor ao Pai. Ele desceu até águas profundas e se afogou cercado de sombras. É nessa hora em que a mão do Pai, que parecia ausente, começa a se manifestar.


Só depois. Só depois!


Não era possível que a morte ocupasse o centro da sua vida. Não será possível que o vazio ocupe o centro da sua existência. Só depois. Só depois!


Arimatéia e Nicodemos sequer desconfiam que a dor e o amor já se abraçam como a noite e a aurora. E a redenção estende seus ramos até onde houver um alguém a ser redimido. Ainda não sabem que já chegou a hora de empurrar a humanidade inteira para o lar desconhecido, libertar os pés cansados de pesadas correntes e por em movimento um amor que nem possui nem é possuído.


Mas depois. Só depois!


Ele arrastou consigo a miséria do mundo para o nada em que se viu convertido. Enfim, agora, está nas mãos do Pai. Está nas mãos do Pai o sangue vertido nos seiscentos metros de horror, da Torre Antonia ao Golgothá. Tudo se encontra nas mãos do Pai. Ele próprio repousa na mão do Pai.


Mas ainda depois. Só depois! É preciso esperar. Sempre é preciso esperar.


Tudo se consumou.


Pelas rotas escuras da noite avança a aurora. Das entranhas da morte brota e cresce, ereta como o cipreste, a árvore da ressurreição. A mão do Pai já está se manifestando. Já está. Não, morte: dou-te a primeira palavra, mas não terás nenhuma outra. Jamais terás a palavra final.


Mas ainda é preciso esperar. Sempre e ainda será preciso... esperar.

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