Lendo o artigo “Na pele do outro” de Eliane
Brum, eu me reportei imediatamente ao trágico e triste acontecimento da
estudante assassinada em nossa cidade há poucos dias.
Embora as situações sejam totalmente
diferentes, refleti sobre a reação e atitudes das pessoas diante da tragédia
ocorrida aqui. É óbvio que todos os itajubenses ficaram consternados com essa
tristeza e quiseram se solidarizar com os pais e irmãos da jovem. Entretanto,
nem toda a solidariedade do mundo vai aplacar a dor inimaginável dessa mãe e
família enlutada. E que sabemos nós dessa dor? Pois não estamos e nem queremos
estar na pele do outro num momento terrível como este. No íntimo de cada um
ecoa uma frase: e se tivesse sido com minha família? Mas não, não queremos nem
pensar nessa funesta possibilidade. E o que nos resta então a fazer, como
pessoas que pretendemos ser?
Sei que é quase impossível não falar sobre
este fato, sei que o trágico sempre exerce uma estranha atração, haja vista o
miserável interesse mórbido das pessoas em geral, de permanecer o dia todo e
vários dias em frente à televisão assistindo aos mais terríveis acidentes, como
no caso do incêndio da boate em Santa Maria no início do ano. Quanto ao
lamentável acontecimento da menina barbaramente assassinada, passado o primeiro
impacto, passados os primeiros dias, ainda ouço comentários aqui e ali. Mas o
que me estarrece são os detalhes cruéis que brotam não se sabe de onde e se
propagam numa incrível velocidade, sendo modificados e aumentados de acordo com
a imaginação e o caráter de quem ouve. É preciso dar um basta.
Existe sempre uma mórbida tendência à
curiosidade em torno de tragédias. Infelizmente, isso é miseravelmente humano.
Faz parte das misérias que trazemos atreladas à nossa imperfeição e que devemos
a todo o custo combater. Já nos alertava Santo Agostinho sobre a curiosidade,
chamada na Sagrada Escritura de concupiscência dos olhos. Embora a relação
esteja no olhar, na verdade está ligada aos outros sentidos também. A
curiosidade é de conhecer, seja vendo ou ouvindo.
Enfim, o que podemos oferecer a quem coube
sofrer de forma tão cruel a pior das tragédias? Um abraço? Orações? Sim, mas,
sobretudo o sagrado silêncio, significando nossa atitude de respeito. Se não
podemos estar na pele do outro, pelo menos, o silêncio. O silêncio para não
propagar mais ainda detalhes que não interessam, que nada acrescentam, que só
fazem sofrer a família dilacerada pela dor. O silêncio que nos permite refletir
sobre a insegurança da vida que não nos dá garantia alguma de que estamos
protegidos disso ou daquilo. Todos estamos debaixo do mesmo céu, do mesmo sol e
da mesma chuva. O sofrimento atinge a todos, de uma forma ou de outra.
O silêncio, sim. Apenas o silêncio.
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