14 DE MARÇO, DIA DA POESIA!
PARA COMEMORAR ESCOLHI "TAPERA", DO PROFESSOR ANTONIO DE OLIVEIRA NORONHA, UMA DAS PREFERIDOS DOS AMANTES DA POESIA.
Tapera. O mato
entrando, a chuva entrando,
E entrando o
sol. E o cheiro bom,
Que ninguém
sente
Das flores
fresquinhas do mato.
E as risadas
dos passarinhos
Cantando à toa,
para ninguém.
E o luar suave,
muito mansinho,
Como um
infinito olhar de piedade
Numa grande
benção envolvente.
Entra também o
olhar inquieto do caminheiro...
_Cruz ! Credo!
Casa assombrada!
E quem passa
reza baixinho
E alarga o
passo pela estrada.
_ Tapera, os
caminheiros fogem!
Eu não, Tapera,
eu não.
Meus olhos te
olham molhados,
Enquanto
minh'alma te envolve
Vendo-te melhor
do que os olhos,
Porque, Tapera
desagasalhada,
Há uma dorida
identidade
Entre teus
escombros silenciosos
E às ruínas do
meu coração.
Não foste mesmo
uma casinha branca,
A mais feliz da
redondeza?
Vejo ainda,
numa tarde distante,
O brasido
vermelho do teu fogão
E, à tua porta,
bom e feliz,
Com o
pensamento na sua amada.
O caboclo rijo
que te ergueu.
Depois... o
caboclo morreu.
_ Casa
abandonada!
E foste virando
tapera,
Numa agonia
estranha,
Cheia de
saudade do teu dono,
Deixando entrar
a chuva e o vento,
Morrendo ao
abandono,
Na quietude de
um velho mocho sonolento.
No meu coração,
Tapera,
Ardia um grande
amor.
Era
Como o brasido
vermelho do teu fogão.
Depois...eu
fiquei sozinho
E meu coração
virou tapera...
Por isso, eu te
olho com os olhos molhados,
Enquanto
minh'alma te envolve
Vendo-te melhor
do que os olhos.
Por isso,
quando te olho
É como se eu
olhasse para dentro de mim mesmo,
Numa infinita
comiseração,
Ó Tapera,
Ó minha irmã
Tapera,
Ó triste irmã
do meu triste coração!
Ainda muito jovem , o professor
Antonio Noronha já escrevia poesias com
uma profundidade e sensibilidade capazes
de fazer inveja à qualquer poeta de renome.
Por detrás daqueles óculos, era muitos homens em um só: Amigo, professor, psicólogo, poeta, músico, pescador...
Era culto, inteligente e nunca se vangloriava por isso.
Não deu valor às coisas materiais, mas
soube valorizar as coisas do coração.
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