Em certo país, dava-se o nome de metáfora a qualquer recipiente que contivesse algum líquido. Havia nesse país uma fonte de água cristalina. Porém era tão amarga que se dizia bastar um único gole para matar de desgosto um homem adulto. No entanto, o que se dizia, também, era que diluída em pequenas doses essa mesma água tinha propriedades medicinais.
Deram, então, a ela o nome de Verdade.
Levas de peregrinos acorriam incessantemente à fonte. E depois partiam para suas casas levando a Verdade nos vasos das metáforas.
Porém, uma rigorosa seita acreditava que a Verdade deveria ser experenciada sem o auxílio das metáforas. Em nome de sua verdade, essa seita atacava as caravanas de peregrinos que buscavam a Verdade. Querendo ensiná-los a obter a Verdade em estado puro, os sectários destruíam a pauladas as metáforas que a continham. Quebrados os recipientes, a Verdade se derramava e desaparecia no solo, ficando sem ela peregrinos e sectários.
Certa vez um rapaz voltava da fonte levando a Verdade em sua metáfora, quando viu de longe a aproximação dos sectários, não querendo ver derramada e perdida a Verdade que trazia consigo, não hesitou e bebeu toda água da vasilha.
- Onde está a Verdade que você trazia nessa metáfora? – perguntaram os sectários.
- Eu bebi. – Desafiou o rapaz. Agora, a Verdade está dentro de mim.
E os sectários mataram-no a pauladas.
Em compensação, começou a correr a notícia de que a Verdade, embora amarga, não era mortal. E que o recipiente próprio para conter a Verdade poderia ser um humano. Com o passar do tempo, os próprios homens criaram metáforas. Mas conta-se também que, com isso, eles se afastaram da Verdade, transformando-se, eles próprios, cada um numa verdade.
Um comentário:
Existe no mínimo DUAS verdades. Somente um hermitão ou seres isolados do mundo (autistas) possuem verdades únicas.
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