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31 de março de 2013

PÁSCOA – Renato Lôbo



 DO FUNDO DA ALMA subiu um clamor ao Pai. Ele descera até águas profundas e se afogou cercado de sombras. Nessa hora, a mão do Pai, que parecia ausente, põe-se a se manifestar. “Das profundezas minha alma clama a ti. Deus meu, ouve o meu grito!”.

Só depois. Só depois!

Não era possível que a morte ocupasse o centro daquela vida. Não seria possível que o vazio ocupasse o centro daquela existência.

Só depois. Só depois!

Arimateia e Nicodemos sequer desconfiam que a dor e o amor já se abraçam como a noite e a aurora. E a redenção estende os ramos até onde houver alguém a ser redimido. Eles ainda não sabem que já chegou a hora de encaminhar a humanidade inteira para o lar desconhecido, libertar os pés cansados das correntes e por em movimento um amor que nem possui nem é possuído.

Mas depois. Só depois!

Ele arrastou consigo a miséria do mundo para o nada em que se viu convertido. Enfim, ele se encontra nas mãos do Pai. Nas mesmas mãos, o ódio e o sangue vertido. Tudo se encontra nas mãos do Pai. Ele próprio repousa na mão do Pai.

Mas depois. Só depois!
É preciso esperar. Sempre será preciso esperar. Nada é tão fácil!

Tudo se consumou. Haverá um terceiro dia?

Pelas rotas escuras da noite avança a aurora. Das entranhas da morte brota e cresce, ereta como o cipreste, a árvore da ressurreição. A mão do Pai já está se manifestando.
- Morte, dou-te a primeira palavra, mas não terás nenhuma outra. Jamais a palavra final.

Ainda é preciso esperar. Sempre será preciso esperar?

“O Senhor é o pastor que me conduz, nada me falta. Passarei os mais negros abismos, sem temer mal nenhum”.

Aconteceu, então, naquela tarde, a consciência de quem ele era e da batalha que havia sido travada extramuros de Jerusalém. Aquele dia havia sido escuro. Contra todos os espelhismos das sensações, a certeza se ergueu no centro de sua alma, como uma lâmina de espada, reta e brilhante. Agora, eu sei que estás aqui comigo, Pai. Agora eu sei. “Em tuas mãos me entrego”.

Acontece para cada um, mais dia menos dia, a chance única da confiança de saber que a grande homenagem, a mais pura a ser prestada a Deus é a de aceitar, todo dia e a cada instante, não poder ver sequer um palmo diante dos olhos, e assim mesmo prosseguir.

Que rumo tomará minha vida? Não sei nem me importo. O Pai sabe. Isso importa.

Quando a noite estava tão escura, tão sem um ponto de luz, tão noite, cheguei a me angustiar, apesar do amor que sempre tive à noite. Foi quando ela me segredou:
- Quanto mais noite for a noite, mais bela costuma ser a aurora que ela carrega no seio!

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