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18 de março de 2013

VAI, FRANCISCO, RESTAURA MINHA IGREJA - Renato Lobo



Erra quem pensa que a História é linear, ela é cíclica. As coisas vêm e vão, vão e vêm, com regularidade, ritmo, repetição. Mudam os personagens, mas a trama é quase sempre a mesma.

Na virada do século 12-13 surgiu Francisco de Assis (1182-1226), numa época em que os edifícios morais pareciam desmoronar. Mas Francisco não nasceu pronto. Na juventude, foi um bon-vivant, filho único de um pai comerciante rico e uma mãe, dama provençal francesa, que o mimou em excesso. Chamava-se João. Francesco era um apelido, “o francesinho”. Ele adorava um torneio e uma guerra.
Mas quando a guerra entre Assis e Perugia terminou num desastre e Francisco ficou algum tempo aprisionado, ele pensou, pensou e pensou. Esses tempos em que alguém fica preso, numa cela ou numa cama, sempre produzem revoluções internas. E Francisco começou a questionar a validade de tudo a que ele conferia imenso prestígio. E entrou em crise. E ficou doente. E voltou para casa.

No meio da crise, teve um sonho. Um pequeno frade, vestido de estopa, segurava uma igreja que ameaçava ruir. Então, uma voz lhe disse: “Vai, Francisco, restaura minha igreja”. Naquela mesma manhã, ele se dirigiu à periferia de Assis, onde a pequena igreja de S. Damião descambava em ruinas, e deu início ao restauro, com as próprias mãos. Nisso, rumores correram pela cidade: O filho de Pietro di Bernardone enlouqueceu de vez! Por essas e por outras, é possível perceber que Francisco já gozava da fama de ser, pelo menos, excêntrico.

Não faço a menor ideia de quando ele se deu conta de que o que a voz do sonho lhe havia dito, deixando à sua intuição o trabalho de captar, não era que ele, saísse por aí reformando ruínas de capelas de beira de estrada, mas, sim, mais, muito mais. Na verdade, era para que ele se erguesse acima do seu tempo e criasse um novo paradigma da existência humana. Quem, dali pra frente, quisesse reencontrar a essência perdida, saberia que havia um novo caminho, diferente das estradas anteriores. Coube a Francisco de Assis, naquela encruzilhada da História, a tarefa de um gigante: expurgar pensamentos atrasados e atitudes retrógadas. Abrir novos caminhos. E, sobretudo, numa época de imensos rancores, não deixar os homens do século 13 esquecerem de que, no fim, a força do amor é maior que a do ódio.

800 anos depois, desponta um novo Francisco. Nós, os homens e mulheres do século 21, estamos com a sensação de assistir um renascimento. A primeira vez que a força gravitacional se desloca da Europa para a periferia do mundo, o primeiro papa latino-americano, o primeiro papa jesuíta, o primeiro Francisco. Qual deles: de Assis, de Sales ou Xavier? Não importa. Todos os olhos vão se voltar mesmo para o poverello de Assis, que fez nome e teve tudo, simplesmente, por não querer nada. Quando aquele senhor de 76 anos apareceu no balcão da Basílica de São Pedro para sua primeira bênção Urbi et Orbi – sobre a Cidade e o Mundo – parece que voltei no tempo e constatei, admirado, a incrível capacidade da Igreja em se reinventar. Mas será tarefa de gigante!
“Vai, Francisco, restaura minha igreja”. Será que foi essa a intuição que o papa Francisco teve ao assumir para si esse novo nome? Nunca saberemos. Podemos apenas conjeturar, e torcer para que tenha, realmente, começado ontem um novo tempo.

Já no final da sua vida, Francisco de Assis enfrentou uma nova crise. A dois anos de sua morte, não era mais a igreja que ruía, mas a própria Ordem que ele havia fundado. E como fazia, em momentos de crise, ele se retirou para o Monte Alverne, na companhia de apenas um frade, o fiel Irmão Leão. Pelo caminho, Francisco lhe perguntou: Irmão, o que seria a verdadeira alegria? Morto de frio e fome, Leão lhe respondeu que, naquele momento, com certeza, nada menos que uma boa comida e uma cama de palha quente. Francisco ponderou. Francisco respondeu: Se nesse momento, ao chegar lá em cima, no convento, mortos de frio e fome, nossos irmãos nos fechassem a porta à cara, nos negassem comida e calor, e ainda nos dissessem que não nos conheciam, e se, apesar disso, nós não perdêssemos a alegria interna... essa, sim, Irmão Leão, seria a verdadeira alegria.

Se você tiver de desejar algo de novo ao novo papa, deseje-lhe, de coração, a verdadeira alegria. Afinal, ele é Francisco! Também.

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