Eu
tive a sorte de cair e me formar num meio profissional que ainda prioriza
coisas como história pessoal, subjetividade e singularidade. Ainda me lembro,
como se fosse hoje, do dia em que contei para o Dr. Walcy que meu filho havia
chegado. Ele sorriu e apenas me disse:
-
Parabéns! Agora... observe.
Minha
guru-master (só conto pra quem perguntar) me ensinou a fazer do ouvido a agulha
da bússola. É pra lá! É pra lá!
O
incrível é que vim de outro meio cuja prioridade deveria ser o de saber ouvir.
Nunca, mas nunca mesmo, me foi dito que eu iria ouvir um trem chamado depressão
e que ele poderia descarrilar justamente em cima do meu ouvido. Quando
descarrilou, eu não soube como lidar.
A
depressão está em todos os lugares. Os clínicos gerais a diagnosticam, as
celebridades revelam que sofrem dela, as crianças recebem receitas
medicamentosas para tratá-la, os programas do começo da manhã e do meio da
tarde a debatem na mídia, os personagens de novela lutam contra ela. No
entanto, há 50 anos, concluem os estudos, quase não havia depressão. As pessoas
eram consideradas neuróticas ou ansiosas, mas dificilmente deprimidas.
Mudou
o quê? Mais precisamente, mudou quem?
A
depressão é o nome de uma doença singular. Ela possui características
específicas e aparece em todas as sociedades. De Brazópolis, Minas Gerais, a
Brazzaville, no Congo, existe depressão. Sei que existe em Brazópolis (ara!)
porque sou de lá. Sei que existe no Congo porque, há pouco tempo, estive com
uma missionária francesa, e quando ela soube o que eu era e fazia, me contou
dos deprimidos do Congo. Voilá! Existem deprimidos no Congo.
Mas
o que é isso: depressão?
Depressão
envolve um conjunto de sintomas como tristeza, desejo de sumir, pensamentos
suicidas, perda do desejo e restrição da fala, perda do cuidado consigo mesmo
(por exemplo, banho, alimentação...), exposição a perigos e a comportamentos de
risco, auto-recriminações, pensamentos obsessivos de morte ou de ficar louco,
pavor e pânico diante da solidão, manifestações psicossomáticas, sono
conturbado (excesso durante o dia, insônia à noite), aumento ou diminuição do
apetite, reduzida capacidade de concentração, incapacidade total de encontrar
satisfação em qualquer coisa, tendência ao isolamento, vazio espiritual num
sentimento de abismo profundo, claro, choro. Bastante.
Tem
mais. O sujeito esconde a depressão e se esconde nela. Pode não ter problema
algum em contar aos amigos que fraturou a tíbia, mas não conta pra ninguém que
está deprimido. Estando deprimido, pode não ter problema nenhum em contar que
se sente exausto, mas não revela, nem sob tortura, a evasão da libido.
E
isso muda de cultura pra cultura.
A
falta de energia pode ser interpretada em algumas sociedades como tristeza ou
culpa, mas não em todas. Da mesma forma, a resposta de um grupo social pode
variar diante de um sujeito deprimido, desde a preocupação e cuidado até a
desconsideração e desprezo.
Dessa
forma, o que se chama, hoje, “depressão” (não se esqueça das aspas) é a
interpretação específica da medicina ocidental sobre um determinado conjunto de
mal-estares biológicos, desde que a química cerebral seja considerada o fator
básico. Pimba! O povo gosta de um tubo de ensaio.
Há
também a perspectiva social da depressão. O tempo se encurtou, o consumo se
expandiu, os vínculos desapareceram, as exigências do mercado re-re-dobraram
sua incalculável capacidade de sufocar o desejo no sujeito, a gente perdeu as
seguranças e os consolos de antes, as vigas não sustentam mais o peso da casa e
a casa cai.
Alguns
psicanalistas consideram a depressão como uma forma de protesto. Por ser
considerado unidade de energia na sociedade industrializada (a bateria da
Matrix) o humano resiste, consciente ou não. Daí que, quanto mais a sociedade
moderna estimula a atingir autonomia e independência na busca por satisfação,
mas a resistência assume valores completamente opostos. Ao colocar o sofrimento
no centro da plenitude, a depressão encontrou sua forma de dizer NÃO ao que nos
mandam ser. Porque alguém precisa dizer NÃO à insanidade corporativista do
momento. Não acham?
Temos
assunto!
6 comentários:
Quando li o texto acima fiquei pensando quanto aos sintomas do que é depresão percebi que em Brasópolis tem muita gente depressiva,precisando de tratamento.
Muito bom Renato.
Só quem teve ou tem alguém na família sabe o que significa isto, e Brazópolis tem muitas pessoas assim.
Depressão não é tristeza. É uma doença que precisa de tratamento.
Faraó.................................11.01.2014
É preciso tomar cuidado... até mesmo com essa palavra. Mas, pelo menos umas duas vezes por mês, eu me libero pra achar essa vida uma bosta...ou não?...
São sintomas de depressão:
Humor depressivo ou irritabilidade, ansiedade e angústia
Desânimo, cansaço fácil, necessidade de maior esforço para fazer as coisas
Diminuição ou incapacidade de sentir alegria e prazer em atividades anteriormente consideradas agradáveis
Desinteresse, falta de motivação e apatia
Falta de vontade e indecisão
Sentimentos de medo, insegurança, desesperança, desespero, desamparo e vazio
Pessimismo, ideias frequentes e desproporcionais de culpa, baixa autoestima, sensação de falta de sentido na vida, inutilidade, ruína, fracasso, doença ou morte.
O que mais se ouve aqui na cidade são casos de depressão.A população está muito insatisfeita com tudo,principalmente com as autoridades.
Ao anônimo do dia 13 de janeiro de 2014 09:01.
Temos somente uma oportunidade de vida. Não voltaremos para corrigir ou mudar algo. Então sugiro que nos intervalos do dia a dia você leia um bom livro, se for casado converse com seus filhos, com sua esposa, participe da vida em família, se for solteiro dedique aos estudos, se tiver horas livres seja um voluntário em alguma Instituição. Isto e muitas outras coisas te darão bons motivos para ser feliz e não se deprimir.
Paz e Bem.
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