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13 de maio de 2010

UMA PESSOA INESQUECÍVEL - Pe. Quinzinho


Recebendo, das mãos do Pe. Vítor, a imagem de N. S. Aparecida, por ocasião de suas Bodas de Ouro Sacerdotal.


Às seis horas da manhã, tudo envolto em brumas, rangem sonolentas as portas da Matriz e a voz sonora do bronze enche os ares; uma figura magra, vestida de crepe, assoma à porta central. E, às brumas matinais se misturam as brumas de seus cabelos.
Humildemente se afeiçoara ,desde a muito, a esse serviço: primeiro abrir a igreja, depois tanger os sinos, esperando os fiéis para oficializar o ato litúrgico. Que de beleza e misticismo não havia naquelas arcadas de simetria gótica, trescalando a incenso, os vitrais colorido filtrando o sol das manhãs plenas de luz, os brancos cor de ébano, os confessionários, o gesso piedoso dos mártires da Igreja nos respectivos nichos, o carrara dos altares. Sim, o que não representaria tudo isso ao velho Pastor que fizera dali o seu mundo?
Quantas prédicas não fizera, e que não eram senão retratos do seu íntimo desapegado dos bens terrenos, e voltado à misteriosa beleza da Eternidade!
Quantas vezes encilhara a cavalgadura para ir ter a um moribundo distante ou rezar missa numa capelinha longe, bem longe, encravada nessas serras das gerais!
Quantas vezes saíra à frente doa préstitos empunhando no hábito o estandarte de Cristo, e a sua figura franzina se erguia gigantesca.
Quantos por ele não se batizaram, não se casaram, não receberam a unção final, com a mesma voz de sempre, paternal e inalterável.
À gravidade do sacerdote estava o lado anedótico, posto que na vida nem tudo é seriedade, como nem tudo risos.
Convidado a lecionar francês, no primeiro dia de aula uma pergunta capciosa de um aluno parecia desmoronar certa regra enunciada. Respondeu o professor sem titubear : ‘É, você tem razão, mas não sabe que toda regra comporta uma exceção?”
Doutra feita, esqueceu-se de dar a benção final e saiu. Saindo lembrou-se e voltou para encerrar a missa, quando quase todos já haviam saído.
Um pobre bateu-lhe à porta e pediu um par de sapatos. Como fizera anos àqueles dias, tomou do presente que recebera, justamente um par de sapatos, e deu-o ao miserável.
Suas últimas palavras em Brazópolis, quando se preparava para ir à Pouso Alegre, a fim de buscar recursos médicos, pareciam-lhe vaticinar a morte: “Esta é a última viagem que faço”. E, de fato, foi.
A morte colheu-o numa manhã fria de julho, dia 16, com 74 anos de idade e 51 de sacerdócio.
Não desejou nada além de uma morte simples, sem epitáfio.
A alma generosa do povo deu-lhe um túmulo de mármore negro, onde perenemente ardem velas votivas e se pedem graças por intermédio de sua alma que continua esparzindo suas graças e consolando os infelizes.

( Artigo publicado no jornal “Can-Can” em 14.07.1974)

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