Uma chama ardente de patriotismo percorre neste momento o Brasil, de um extremo ao outro, ateando o incêndio por todos os Estados da União.
Já, de há muito, que nossa Pátria adormecida nos braços do mais funesto desânimo, mantinha-se como que indiferente a respeito de sua honra e de seu futuro. A angustiosa situação em que subitamente se veria atirada, é que prostou-a em tão lastimável desalento.
E, confessemos que, a inexperiência dominante na maioria dos filhos deste País, em tratando-se da eleição de seus chefes, teve notável parte na responsabilidade dos grandes desastres nacionais que temos presenciado.
Um grupo de ambiciosos, iludindo a seus concidadãos com a máscara do mais acrisolado patriotismo, conseguira apoderar-se do governo supremo da Nação. Impelido, pois, por cabeças desmioladas e corações não muito bem formados, pouco tempo bastou para que o Brasil reconhecesse o péssimo estado em que o haviam lançado seus governantes: Tesouro exausto, dívidas sobre dívidas, transgressões impunes das leis, perturbação da ordem pública, e outros inúmeros males cuja enumeração não teria fim.
Foi, pois, diante de tanta e tão tremendas calamidades, que o desânimo parecia ter-se apoderado dos intrépidos brasileiros.
Todavia, o Brasil não podia perecer: seus filhos eram por demais fortes para tolerarem que sua Pátria se visse humilhada perante as outras nações. Desde que à sua frente se colocou um cidadão realmente digno da direção deste País, enchera-se de alento e um raio de esperança brilhou em todo o espírito verdadeiramente patriota. E, notemos que o início deste último quatriênio presidencial, fora apenas um prelúdio da maravilhosa reforma por que devia passar nossa Pátria. Seu reerguimento tem sido quase completo. Almas grandes, de nobilíssimos sentimentos não têm faltado, dispostas a tomarem sobre si as mais árduas empresas em prol do engrandecimento de nosso querido Brasil. Assim, ainda há pouco, vimos levantar-se dentre as multidões um apóstolo incansável do bem comum, cuja palavra forte, arrebatadora e convincente, reboou por todos os recantos do Brasil.
Esse propagador da prosperidade de nossa Pátria, todos o sabem, é Bilac (Olavo), a cuja voz todos os corações se unem em comum sentimento, reanimando-se e transbordando de entusiasmo pela Pátria querida.
E, então, em vez dos prantos e queixumes, que ainda ontem se faziam ouvir, ergue-se hoje de todos os pontos deste imenso País, um grito entusiástico e animador de – Viva o Brasil!
Guaxupé, 11 de Novembro de 1916
Joaquim de Oliveira Noronha (Padre Quinzinho)
Fonte: Wikipédia, a enciclopédia livre.
Olavo Brás Martins dos Guimarães Bilac (Rio de Janeiro, 16 de dezembro de 1865 — 28 de dezembro de 1918).
Conhecido por sua atenção principalmente, pela participação cívica, Bilac era um ativo republicano e nacionalista, também defensor do serviço militar obrigatório em um período em que o exército usufruía de amplas faculdades políticas em virtude do golpe militar de 1889. O poeta foi o responsável pela criação da letra do Hino à Bandeira, inicialmente criado para circulação na capital federal da época (o Rio de Janeiro), e mais tarde sendo adotado em todo o Brasil. Também ficou famoso pelas fortes convicções políticas, sobressaindo-se a ferrenha oposição ao governo militar do marechal Floriano Peixoto.
Um comentário:
Esse texto é um primor; um documento histórico datado de 1917, e por incrível que pareça, mostra a situação do País daquela época com características muito semelhantes ao nosso atual quadro sócio-político-econômico, escrito pelo próprio punho do Monsenhor Quinzinho. Isso é história do Brasil, contada em carta. Existe até a menção ao patriotismo e um de seus defensores. Falta-nos, no momento, aquele entusiasmo citado, como fora no passado. Leitura enriquecedora, para quem se interessa por fatos históricos. Postagem revigorante. Parabéns.
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