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7 de dezembro de 2011

O COQUEIRO DO LARGO - Carlos Noronha

Estás , melhor, amigo?
-Assim, assim...
O velho coqueiro do Largo pode estra nas últimas, fingindo ser forte, ser o arbusto do bondoso Frei Caetano. De lá para cá – 10º0 anos passados! – suas raízes estreitaram na Praça da Matriz  num  paternal abraço.
-Sentes frio.
Não. A terra é quente...
Velho coqueiro: quero-te vivo, de palmar inquietas ao vento, sustentando (sei lá se a contra-gosto!) uma faixa do próximo comício.
Como no sábado alegre da Aleluia, exibindo, justiceiro, um judas desengonçado, pesado de explosivos, aguardando o  meio-dia.
Quero-te, velho amigo, paralelo ao pau-de- sebo, assistindo ao esforço e à persistência  da garotada em atingir o cimo do poste, onde se agita uma pelega de 50 mil réis. Já sabias que o Cornelinho chegaria primeiro. Quem não sabia? Queria-te atento às canções das barraquinhas que marcaram época!
-Fé, esperança e caridade...
Como devem estra acumuladas na memórias do coqueiro as lembranças guardadas no decorrer de uma século! Se olhas a avenida Coronel Francisco Braz, recordas em que uma noite distante em que as lâmpadas, aos pares, teceram cordões numa catenária de luz. Crianças – eu entre elas – empunhavam fósforos-de-cor nas janelas. Um novo Marconi, gigante de poder aos nossos olhos, reproduzia em Brazópolis a miniatura do feito memorável que há uma quarto de século iluminou o Cristo Redentor. Se contemplas a Matriz de hoje, imponente, erguendo dois braços para o céu, um velho templo se faz recordar – primeira sentinela de nossa fé. Se diriges para a mata o olhar, sentes que foram baldados aqueles acenos verdes, pois só, nunca te sentiste abandonado. Sabes que um trem, num vai-e-vem diário, apita naquela sua direção. Já é quase hora dele chegar.
Vejo de novo a Avenida, ao longo de fila indiana das pequenas árvores copadas e vaidosas, vestidas à antiga.
Já não vejo a cruz da Serra da Bandeira.
Ela se apagou. Mas podes ver uma casinha branca. De lá – entendes? – partem para a Vargem Grande (o coqueiro adora ouvir esse nome!) a imagem e o som da Televisão. É um ponto de baldeação de imagens e sons  que nascem além da Mantiqueira  e chagam indefectíveis, aos lares brazopolenses ao simples movimento de um botão! Dentro de mais algum tempo, subirão a Avenida, bem cedo, pessoas de todas as idades para trabalhar.
-Na televisão?
O coqueiro também tem suas falhas de memória.
-Ah! A Fábrica...
Soa o primeiro toque do sino. Já não estás sós no Largo. Receio prosseguir no diálogo em que, a custo, arranquei poucas palavras do coqueiro. Pessoas há que o fazem sorrir, gargalhar até hoje! É preciso conhecer “casos” antigos para interessá-lo na palestra. Ou nada dizer e, no silêncio ,transmitir e receber sua emoção. Saber abraçá-lo e, nesse gesto, acariciar a velha árvore sem acordá-la do sono leve a que entregam suas palmas.
_ Orlando Egreja ainda não veio este mês...
A quantas vidas está ligado o coqueiro do Largo!
 A quantos sonhos!

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