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11 de agosto de 2013

Que saudade de você, meu velho pescador! - Fátima Noronha



Mais um dia dos pais...mais um dia que não poderei lhe dar meu abraço!
  
Meu pai era Adolfo Maurício Dias, nasceu na zona rural de Piranguinho em 1916 e era  filho de Benedito Romeiro Dias e Gertrudes Dias. Teve apenas uma irmã mais velha, Maria.
Ficou órfão de mãe aos 3 anos de idade.
Seu pai, fazendeiro abastado, trabalhador, não soube conviver com a ausência de sua Gertrudes e se enveredou na bebida e no jogo. Perdeu tudo o que tinha.
Mudou-se para Brazópolis com seus dois filhos e foram morar na Rua 24 de maio.
Meu pai com 7 anos e sua irmã com 10. Ele entrou na escola aos 7. Estudou no Grupão. E foi lá que  ganhou o apelido de Girassol. Era um aluno rebelde e revoltado. Na  3ª série, aos 10 anos,    seu pai faleceu. Ficaram ele e Maria, que já mocinha, não tinha muito juízo.
Sem dinheiro pra nada, não teve outra solução a não ser trabalhar. Era entregador de leite.
Aquela criança trabalhava de sol a sol, sem descanso pra se sustentar e à irmã.
Ficou  mocinho, continuava rebelde e brigão, mas sempre trabalhador.
Sua irmã fugiu um dia com um namorado. Ele nunca mais a viu. Teve apenas a notícia de que ela havia  se casado e tinha muitos filhos.
Ele entregava leite na casa do Seu Joaquim Inácio e de sua esposa D. Rita, que o consideravam como a um filho. Daí ele passou a morar com eles.
 Bem apessoado, bonito, de olhos azuis, era um grande conquistador. Chegou a ficar noivo três vezes.
Arrumou emprego  na fazenda do Seu Juca Brito. Lá ele era carreiro. Quando vinha à cidade, passava pela estrada onde morava minha mãe Therezinha, que nesta época era criança ainda. Ela com 8 e ele com 23.
Ela e seus irmãos corriam pra pegar carona no carro de boi. Ele brincava com meu avô Agenor, olhando pra minha mãe, dizendo: ”Cuida bem desta loirinha aí, que um dia vou casar com ela”.  
Quando fez 24 anos, seu patrão lhe perguntou a idade, “24” ele respondeu,  “Serviu o exército?”, perguntou o patrão. “Não, nunca me alistei”. Seu patrão preocupado com a lei procurou saber e descobriu que ele nunca tinha sido registrado. Então alguém sugeriu: “Vai ser registrado como nascido em 1920 pra não ter problemas e vai se alistar esse ano”. Assim  ele foi registrado, com 4 anos de atraso e serviu o exército. Comprou então seu primeiro cavalo,  e vinha pra cidade tomar uma pinguinha com os amigos e na volta passava na Fecularia de meu avô e brincava com minha mãe que ficava muito brava.
Assim os anos foram passando. Ele pulando de namorada em namorada. Minha mãe cresceu, ficou uma moça muito bonita e começou a não mais achar ruim as brincadeiras dele. Acabaram namorando, noivando e casando e deste casamento viemos nós, seus 7 filhos: Seis meninas e um menino. E assim foram vivendo. Minha mãe professora, ele trabalhando com o café e pescando quase todas as tardes. Peixe em nossa casa nunca faltou.
 Ele passou a tomar conta das máquinas de café e da fazenda do Seu João Pinto Gonçalves. Trabalhava muito, mas nos finais de semana, depois de um dia inteiro de pescaria,  gostava de ir pra praça, à noite,  conversar com os amigos. Nesta época já era uma pessoa pacata, amável, amigo de todos. Fumava muito, uns 4 maços por dia. Bebia muito também, mas nós, os filhos, não notávamos que ele bebia. Sabíamos que sim porque ouvíamos minha mãe brava com ele.
Um dia ele resolveu parar com o cigarro e com a bebida. Assim, de supetão...
Comprou um garrafão de 5 litros de pinga e um pacote com 10 maços de cigarros. Pegou sua vara de pescar e foi para a beira do rio. Naquele dia esvaziou o garrafão e fumou todos os cigarros. Desmaiou. Foi trazido ao hospital.  Depois dessa data nunca mais fumou ou  bebeu um drinque sequer.
Tinha uma saúde de ferro. Única internação de sua vida foi pra retirar a vesícula que estava lhe dando problemas.
Saudável, forte, alegre, sempre trabalhando e pescando...assim viveu seus últimos 22 anos depois do dia em parou de fumar e beber.
Sempre brincava dizendo: “Vou morrer pescando, na beira do rio, junto com o Compadre Rubens, com 102 anos”.
E vou assim que ele nos deixou. Morreu pescando, na beira do rio, na companhia de uns amigos e do compadre Rubens Chaves. Teve um enfarte fulminante. Mas não esperou completar seus 102 anos. Ele partiu às vésperas de completar 84 anos, em setembro de 2000. Assim foi a vida do Adolfo Girassol, meu pai, meu amigo, meu mestre,  meu herói.
“Caridade, honestidade e bom caráter, são coisas que deixarei de herança pra vocês, meus filhos”, ele sempre repetia.

Obrigada pai! Obrigada por esta herança sem preço que nos deixou! 

Saudades eternas...

Feliz dia dos pais, meu pai amigo pescador!

11 comentários:

Rita Noronha disse...

Gostava muito de seu pai . Era muito divertido e dava gostosas gargalhadas... Me lembro dele sempre agachado,sentado no calcanhar, quando tava contando os causos . Era assim mesmo ou rmaginação minha? O que tenho certeza è que gostávamos muito dele

Marco Noronha disse...

A lembrança que eu tenho do Adolfo Girassol é a alegria que ele sempre carregava, Fati. É isso que eu sentia toda vez que nos cumprimentávamos. Seu sorriso era padrão. Se um milésimo das pessoas que conhecemos tivesse esse comportamento, nosso dia a dia seria muito melhor.

Fátima Noronha disse...

Obrigada pelos elogios ao meu pai. Ele era isso tudo e muito mais. Tenho muito orgulho de ter sido filha dele. Deus não poderia ter me dado um pai melhor.

Paulo Valim disse...

Ô Fátima, que descrição linda e real que você fez de seu querido pai.Os poucos contatos que tive com ele,pude notar a sua alegria de viver. Ele deixou um legado muito bom aqui na terra! Paulo Valim

Anônimo disse...

Voce esta comentando sobre seu pai que tb conheci era um grande homen, mais tenho que falar e sobre sua mae, estudei com ela nos anos 70 ela ajudou-me e muito nas provas dona Terezinha era um cranio eu nao sabia algumas questoes da prova entao escrevia as perguntas e dobrava o papelzinho jogava na carteira dela e ela respondia e devolvia, que saudades daquele tempo, hoje sou um velho muito doente, mais ainda estou vivendo, com muitas dificuldades pois sou limitado em tudo que penso em fazer, mais a vida e assim, Fatima que DEUS te ilumine continue fazendo o que vc faz pois traz ate agente as novas de Brazopolis, tb as coisas antigas que e tao bom recordar. agradeÇo de coraÇao um amigo .

Fátima Noronha disse...

Obrigada pelos elogios à minha mãe. Realmente ele era uma pessoa excepcional. Muitas saudades. Que Deus o abençoe e que você se restabeleça logo.
Um grande abraço. Pena não saber que você é..rsrs

anônimo disse...

Pois está aí uma pessoa para contar que trabalho não faz mal, enobrece o homem.
O globo repórter mostrou ontem crianças trabalhando, estes são o futuro do Brasil,já pensaram todas aquelas crianças badernando na rua ,brincando ao léo e os pobres dos pais trabalhando de sol a sol,pelo menos estão aprendendo que a vida é luta renhida. Parabéns Seu Adolfo pelo exemplo de vida que deixou.

Anônimo disse...

ACHAVA QUE O PAI DE FÁTIMA NORONHA... FOSSE ALGUÉM DOS NORONHAS...

HeleniNoronha disse...

Faço minha suas palavras, pai e homem como ele, acho que não se encontra mais.Grande homem, grande pai, grande ser humano.Sinto tanta falta.Te amo muito papai

Flora Gomes. disse...

Conheci o sr. Adolfo ainda criança,era um homem de muitas qualidades,tratava as pessoas com amizade e carinho de pai.Gostavamos de conversar com ele,sempre calmo e alegre.Minha mãe me contava estorias do sr. Adolfo referente à Lealdade e respeito,fiquei ainda mais fã do sr. Adolfo,exemplo de ser humano.

Fátima Noronha disse...

Meu pai era Maurício Dias e minha mãe é que era Noronha. Por isso sou Fátima Noronha Dias.

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