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29 de agosto de 2013

O “JEITINHO BRASILEIRO” É UMA “SOLUCIONÁTICA”? - Luiz Fernando da Silva



                             A miscigenação da sociedade brasileira sempre foi vista por alguns antropólogos e sociólogos como um aspecto negativo da sociedade brasileira. O Jesuíta André João Antonil, estudioso da área, já analisava no século XVIII que a mistura das raças traria grandes problemas para a nação brasileira. Posteriormente, para teóricos como Nina Rodrigues, no século XIX, a tendência da sociedade brasileira era tornar-se “parda”. Dessa forma, as “qualidades” da “raça” branca tenderiam a ser reduzidas, já que o cruzamento com a “raça” negra, de “qualidade” inferior, haveria um nivelamento por baixo de nossa sociedade. Nina tentava demonstrar, por A mais B, que isso era uma tendência irreversível. Para tanto, afirmava que a inferioridade do negro era genética.

                            Para situar a questão racial do ponto de vista esquemático, no Brasil temos uma triangulação entre o branco, o negro e o mulato. Nos EUA, há apenas uma relação dual, ou seja, entre brancos e negros. Nesse sentido, se, no Brasil, temos o fenótipo cor como demarcação social, nos EUA, temos fenótipo genético, ou seja, basta ter o sangue de negro para ser caracterizado como tal, independentemente se é, na aparência, branco.

                            Roberto DaMatta, antropólogo brasileiro, é um grande analista da questão do mosaico racial brasileiro. Assim, afirma que o aspecto fundamental nesse estudo é a intermediação entre as “raças” branca, negra e índia. DaMatta, no livro “O que faz brasil, Brasil”, procura “... discutir os caminhos que tornam a sociedade brasileira diferente e única, muito embora esteja, como outros sistemas sociais, também submetida a certos fatores sociais, políticos e econômicos comuns. Nesse sentido, concorda com Otávio Paz, autor do livro Labirinto da Solidão e Post-Scriptum, que escreveu: “Alguns acham que todas as diferenças entre os norte-americanos e nós são econômicas, isto é, que eles são ricos e nós somos pobres, que nasceram na democracia, no capitalismo e na Revolução Industrial e nós nascemos na Contra-Reforma, no monopólio e no Feudalismo”.

                            Como se vê, o estudo das etnias ou “raças” foi um grande desafio para os antropólogos desvendarem o que subjazia, em certos aspectos “sui generis”, à alma brasileira.

                            A criação da famosa expressão “jeitinho brasileiro” foi um produto dessa relação entre as etnias do povo brasileiro. Num largo espaço de tempo, o termo sempre foi eivado de um caráter pejorativo. Afinal, o “jeitinho brasileiro” era sinônimo do livre trânsito de pessoas dotadas de bastante influência nos círculos sociais detentores de poder ou, ainda, de pessoas dotadas do famoso “jogo de cintura”. Na verdade, mais do que isso, representava a insubordinação às regras sociais. Nesse sentido, toda maracutaia do tipo “Gersoniana”, expressa, por exemplo, numa antiga propaganda de cigarro “leve vantagem você também”, era incluída no “jeitinho brasileiro”. Assim, essa “qualidade” do povo brasileiro contrastava com o estilo sisudo do povo de origem germânica, que era tido como um exemplo a ser seguido por qualquer povo que quisesse alcançar desenvolvimento e cidadania plena.

                            O “jeitinho brasileiro” tem perdido espaço em tempo de uma grande marcha em favor do sentimento de cidadania. A propósito, tempos atrás, mais precisamente em 18 de abril de 1999, o jornal americano “The New York Times” publicou uma matéria onde o “jeitinho brasileiro” era elogiado do ponto de vista econômico. Naquele artigo, o jornalista Simon Romero elogiava a pujança da sociedade brasileira em termos de capacidade em encontrar soluções inteligentes para se safar das crises financeiras que assolavam o país. O famoso “jogo de cintura” fazia com que o país se sobressaísse em tempos de dificuldade burocráticas e financeiras nos grandes períodos de recessão.

                            De repente, o mundo começava a ver que havia um país abaixo da linha do Equador que tinha um estilo muito peculiar e atrativo em relação às respostas dadas à sociedade em tempo de crises. Para tanto,  “pai da matéria” em antropologia, Roberto DaMatta explicou que essa capacidade do povo brasileiro “... propicia mais espaço para negociações”. Em outros termos, “é uma ponte entre dois mundos”. “Um no qual dominam os velhos métodos e o senso comum e outro no qual a nova estrutura da sociedade não é justa ou racional”, completava o antropólogo.

                            Essa característica brasileira é o que poderíamos chamar de tecnologia “genuinamente” nacional na área de relações humanas. Portanto, um “know how” tupiniquim que poderia assombrar os asiáticos, europeus e norte-americanos. Segundo o jornal americano, muitas empresas brasileiras começaram a adotar o “jeitinho brasileiro” como técnica de sobrevivência ante as imensas crises econômicas do país.
                            O estilo de atuar do povo brasileiro, que antes era um “patinho feio” consubstanciado no “Jeitinho brasileiro”, pode se tornar uma inovação nas relações humanas. O grande paradigma no estilo chinês, onde são conciliadas a economia de mercado com uma vasta burocracia autoritária chamada de “socialista”, juntamente com um grande território, um grande e poderoso exército e uma população com mais de um bilhão e meio de pessoas pode, em futuro breve, tornar-se obsoleto.

Luiz Fernando da Silva, nasceu em 1962, em Brazópolis/MG, irmão de nosso amigo Marquinho Mistura Fina e hoje mora em Natércia/MG.
Graduou-se em Ciências Sociais pela Universidade Federal de Minas Gerais em 1990 e fez pós-graduação em Sociologia entre 1995/97. Foi Coordenador do Centro Acadêmico de Ciências Sociais em 1988, sindicalista entre 1989 e 1991 no SINDADOS/MG, professor de sociologia no ensino médio entre 1991 e 1996 e professor universitário na Faculdade de Ciências Médicas de Minas Gerais em 2002. Atualmente, é servidor público estadual em Minas Gerais.
“Sou um tanto quanto rebelde às coisas mundanas... Gosto de sociologia, antropologia, política, história, internet, livros e de rock and roll.”, completa Luiz Fernando.

Blog do Luiz Fernando: http://luizfernandoecia.blogspot.com.br/

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