Quem acreditou naquilo que dissemos? A quem foi revelado o braço do Senhor? Ele cresceu como broto na presença do Senhor, com raiz em terra seca. Não tinha aparência nem beleza para atrais nosso olhar, simpatia alguma para ser apreciada. (Is 53,1).
Saído da Torre Antonia, por volta do meio-dia, o cortejo cambaleava pelas ruas de pedra quebrada de Jerusalém. Se, hoje, aquilo é um horror, imagine vinte séculos atrás! Gente por todo lado, por todo lado, curiosidade, publicidade, insultos. Com outros dois, de péssima reputação, ele caminhava carregando a haste transversal, os braços abertos e amarrados ao longo da trave. Supõe-se que só a trave pesasse bastante. 30, 40, 50 quilos? Para um homem arrebentado e febril, qualquer peso é demais. Tudo aquilo facilitava a perda de equilíbrio e a queda, com o rosto por terra, no cascalho da rua. O rosto esfolado havia virado uma chaga só, suja de sangue e poeira.
Então, ela aparece. De onde, não se sabe. Ela aparece. Traz no nome a razão do momento, Verônica: verdadeiro ícone, verdadeira face. A imagem por excelência da excelência da Imagem. Se aquele rosto desfigurado de dor, sangue e poeira, ficou impresso no pano oferecido, não sabemos. De quanta coisa não sabemos! Só o que sabemos é que, com certeza, a face dele, a face real, nela ficou impressa, impregnada, na alma, para sempre. E ela foi Verônica: a verdadeira face.
Os evangelistas não a registraram. Quem fez o registro foi a sensibilidade do povo, sensibilidade própria a ser impressa pelas marcas de um sofrimento maior que o seu, infinitamente maior, que minimiza a própria dor e a torna suportável. Como diz Milton: O povo esquece a sua paixão para viver a dor Senhor.
Existem tantos por aí, de rosto marcado, edemaciado, desfigurado! Existem tantas por aí que nem mais rosto tem! Quem se aproximará deles? Quem lhes estenderá o sudário para colher sua dor? Quem pode? Quem tem tempo? Disposição, quem terá?
Este rosto inchado, sujo, coberto de sangue e suor, com sinais de queda ou de pancada, será o de um bêbado, um mendigo, ou estaremos de novo na rota do Calvário, lidando com a face, por si só sagrada, do Filho de Deus?
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