Passava por ali um homem chamado Simão de Cirene, pai de Alexandre e Rufo. Ele voltava do campo para a cidade. Então os soldados o obrigaram a carregar a sua cruz (Mc 15,21).
Nada disse ao entrar. Ao sair, não pronunciou palavra alguma. Não esboçou nenhum sinal, nenhuma revolta, qualquer descontentamento. Não houve palavras. Apenas gestos. O que contou foi o gesto. O que conta não é o ato, é o gesto. Só o gesto. Mas, que gesto foi aquele! Rompeu a barreira dos séculos, atravessou dois milênios, chegou até onde estamos. Sem nada ter sido dito. Foi só a força do gesto.
O que sabemos dele? Não muita coisa, quase nada. Apenas que “voltava do campo...” O texto insinua um pequeno lavrador. E era de Cirene, antiga colônia grega da atual Líbia, uma das 5 maiores cidades gregas da região, naquele tempo. O nome Simão era judeu, mas os nomes dos filhos são de origem grega: Alexandre e Rufo.
Pois é, um pequeno lavrador grego do norte da África. Fazia o que, ali? Não sabemos nem imaginamos. Apenas imaginamos mãos rudes, mãos fortes. Fortes o bastante para sustentar o peso do mundo.
Não deve ter durado muito aquele gesto. A distância entre a Torre Antonia e o lugar da crucifixão media 600 metros. Mas o condenado estava esgotado, no limite das forças físicas, morais e emocionais. Precisava de ajuda. A ajuda chegou. Ele precisou de alguém. Alguém apareceu.
O texto termina dizendo que Simão carregou a “sua cruz”. De quem? Do Outro ou a dele mesmo. Há um jogo de palavras e não sabemos ao certo o que o escritor quis dizer. Aliás, eles sempre deixam “no ar”, que é pra gente pensar.
O Homem das dores precisou de Simão. Simão esteve lá. Não era pra falar nada. Simão não falou. Há entendimentos que superam mil frases. Palavras que não precisam ser ditas, porque já foram percebidas. Melhor calar.
Olhe ao redor. Desde os milhões de estrelas pelas alturas, às pedras, à água, aos animais e plantas, você caminha entre seres sem voz. Olhe mais. Ainda mais ao redor. Olhe te ver o invisível. Logo tremerá ante o silêncio dos anjos e o silêncio de Deus. Então... se puder... fale.
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