RACIONALIDADE - Rosa Noronha

Às vezes nos sentimos tristes, embora não saibamos exatamente por quê.

Isso também acontece com a alegria - quantas vezes parecemos rir à toa...

A alma da gente é estranha.Existem nela esconderijos, onde se instalam nossas mais variadas emoções.

Sentimos medo das coisas banais, e nos enchemos de força e coragem nas horas mais inusitadas.

Sentimos amores que não valem a pena, e raivas desproporcionais.

Sentimo-nos apáticos quando a energia deveria revigorar-nos, e nos energizamos para situações de pouca importância.

Ficamos eufóricos com pouco, assim como nos deprimimos com quase nada.

A questão é que nossas emoções sofrem, não raro, desequilíbrios, e por conta disso deixamos de dar aos momentos o peso que valem, e à vida o valor que merece.

Lembro-me de um livro que herdei de Tio Quinzinho, o Monsenhor Noronha, na adolescência, intitulado "O Diário de Ana Maria", de Michel Quoist, que, em um de seus trechos, enfatizava a necessidade do equilíbrio das emoções. Dizia o autor que o homem equilibrado deveria valorizar, em primeira instância, o espírito; depois, a emoção; por último, o corpo. Em minhas crenças holísticas, acredito, hoje, que sejamos tudo ao mesmo tempo, seres complexos, e potencialmente completos. No entanto, creio que, de fato, a ênfase que damos ao emocional nos desestrutura, e que não é nada fácil esta luta pelo equilíbrio.

Uma de minhas armas prediletas para combater os exageros do coração é a racionalidade. Consigo usá-la, muitas vezes, na proteção de mim mesma e do outro.

Talvez por isso mesmo a tempere com este sentimentalismo que empresto às letras. Outros ao pincel, ou à voz, ou a qualquer atividade que, ao mesmo tempo, massageie, acalme, encha e esvazie a alma.

Precisamos nos cuidar para que a emoção exacerbada não nos derrube, ou a racionalidade cega não nos congele.

Fomos criados para o equilíbrio, esta é a verdade. Se enchemos muito um lado, tombamos; se esvaziamos, murchamos.

Precisamos nos acostumar à moderação: do corpo, da emoção. E quanto ao espírito, necessário que combatamos o fanatismo. Ou a descrença. Portanto, também aí a necessidade do equilíbrio.