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7 de junho de 2011

TAPERA - Antonio Noronha

Tapera. O mato entrando, a chuva entrando,

E entrando o sol. E o cheiro bom,

Que ninguém sente

Das flores fresquinhas do mato.

E as risadas dos passarinhos

Cantando à toa, para ninguém.

E o luar suave, muito mansinho,

Como um infinito olhar de piedade

Numa grande benção envolvente.


Entra também o olhar inquieto do caminheiro...

_Cruz ! Credo! Casa assombrada!

E quem passa reza baixinho

E alarga o passo pela estrada.

_ Tapera, os caminheiros fogem!


Eu não, Tapera, eu não.

Meus olhos te olham molhados,

Enquanto minh'alma te envolve

Vendo-te melhor do que os olhos,

Porque, Tapera desagasalhada,

Há uma dorida identidade

Entre teus escombros silenciosos

E às ruínas do meu coração.


Não foste mesmo uma casinha branca,

A mais feliz da redondeza?

Vejo ainda, numa tarde distante,

O brasido vermelho do teu fogão

E, à tua porta, bom e feliz,

Com o pensamento na sua amada.

O caboclo rijo que te ergueu.

Depois... o caboclo morreu.

_ Casa abandonada!


E foste virando tapera,

Numa agonia estranha,

Cheia de saudade do teu dono,

Deixando entrar a chuva e o vento,

Morrendo ao abandono,

Na quietude de um velho mocho sonolento.


No meu coração,

Tapera,

Ardia um grande amor.

Era

Como o brasido vermelho do teu fogão.

Depois...eu fiquei sozinho

E meu coração virou tapera...


Por isso, eu te olho com os olhos molhados,

Enquanto minh'alma te envolve

Vendo-te melhor do que os olhos.


Por isso, quando te olho

É como se eu olhasse para dentro de mim mesmo,

Numa infinita comiseração,

Ó Tapera,

Ó minha irmã Tapera,

Ó triste irmã do meu triste coração!


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