Tapera. O mato entrando, a chuva entrando,
E entrando o sol. E o cheiro bom,
Que ninguém sente
Das flores fresquinhas do mato.
E as risadas dos passarinhos
Cantando à toa, para ninguém.
E o luar suave, muito mansinho,
Como um infinito olhar de piedade
Numa grande benção envolvente.
Entra também o olhar inquieto do caminheiro...
_Cruz ! Credo! Casa assombrada!
E quem passa reza baixinho
E alarga o passo pela estrada.
_ Tapera, os caminheiros fogem!
Eu não, Tapera, eu não.
Meus olhos te olham molhados,
Enquanto minh'alma te envolve
Vendo-te melhor do que os olhos,
Porque, Tapera desagasalhada,
Há uma dorida identidade
Entre teus escombros silenciosos
E às ruínas do meu coração.
Não foste mesmo uma casinha branca,
A mais feliz da redondeza?
Vejo ainda, numa tarde distante,
O brasido vermelho do teu fogão
E, à tua porta, bom e feliz,
Com o pensamento na sua amada.
O caboclo rijo que te ergueu.
Depois... o caboclo morreu.
_ Casa abandonada!
E foste virando tapera,
Numa agonia estranha,
Cheia de saudade do teu dono,
Deixando entrar a chuva e o vento,
Morrendo ao abandono,
Na quietude de um velho mocho sonolento.
No meu coração,
Tapera,
Ardia um grande amor.
Era
Como o brasido vermelho do teu fogão.
Depois...eu fiquei sozinho
E meu coração virou tapera...
Por isso, eu te olho com os olhos molhados,
Enquanto minh'alma te envolve
Vendo-te melhor do que os olhos.
Por isso, quando te olho
É como se eu olhasse para dentro de mim mesmo,
Numa infinita comiseração,
Ó Tapera,
Ó minha irmã Tapera,
Ó triste irmã do meu triste coração!
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