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22 de abril de 2010

ZEZÉ GONÇALVES “O POETA SOLITÁRIO”

Olhando Seu Zezé com seus cadernos de poesias nas mãos, escritas por ele com caligrafia invejável, contando a história de cada uma delas, com sua voz mansa e conversa simples, a gente imagina: “Que pena que este homem não pôde aprender mais nos bancos da escola”.
Suas poesias, escritas na forma simples de sua fala, contam histórias de sua vida, da cidade, de pessoas...
Sem completar ao menos a terceira série primária, começou a escrever seus versos aos 15 anos e nunca mais parou. Hoje a poesia virou sua companheira e o ajuda afastar a solidão.
TUDO QUE É VIVENTE ACABA (VERSOS SERTANEJOS)
I
José Gonçalves Sobrinho
Levantou um dia, cedinho
Em Brazópolis, sua cidade
Pensativo deixou sua morada
Afundou o pé na estrada
Carregando uma grande saudade.

Alguns quilômetros andei
O dia do mês eu não marquei
Faltou a minha curiosidade.
Eu fui rever a minha terra
Parei no pico daquela serra
Enxerguei lá em baixo o grotão
Lá eu avistei tudo diferente
Não existe aquele grupo de gente
Mudaram todo aquele povão.
Eu perguntei ao pensamento
Faltou resposta no momento
Fiquei queimando a imaginação.
O grande serrado virou capoeira
Acabou a lavoura cafeeira
Que enchia o grande terrerão.
Da fazenda sumiu todo camarada
Velho e moço rastador de enxada
Alavanca do patrão!
II
Eu fui caminhando serra abaixo
O meu pé-dois era o macho
Que tava me conduzindo.
Ao chegar em frente à fazenda
O meu dizer não é lenda
A lembrança do menino fui sentindo
Fiquei recordado o meu papai
Da lembrança ele não sai
Porque com Deus ele foi seguindo
A mamãe mocinha viúva ficou
Nunca mais ela se casou
Com Deus viveu a vida sozinho
A mamãe foi uma heroína
Criou cindo homens e uma menina
E o mais velho irmãozinho
Na Fazenda Paiol Velho fui retireiro
Também fui tropeiro
Engolindo poeira do caminho
Eu sou neto dessa pessoa
Tenho sangue de gente boa
Sua jornada conheci um pouquinho
Agradeço tudo que me ensinô
O meu idolatrado avô
Antonio Gonçalves Torres Sobrinho.
III
Meu avô grande agricultor
Na pecuária deu grande valor
Com vacada de leite jóia fina
A sua colônia vivia cheia
A noite, todo casal vivia pareia
Pra ir rezar na cruz da Nhina.
Aquela gente enfeitava a Santa Cruz
Toda vela acessa era uma luz
Todo ano era essa rotina.
Tinha reza junina, soltava rojão
Santo Antonio, São Pedro e São João
O povo se divertia

A Fazenda Paiol velho na Floresta
Foi um recanto de festa
Ali ninguém entristecia.
Ao dia era só pra trabalhar
A noite em qualquer lugar
Escutava aquele dueto de cantoria
Nas casas do Amaro e Dito Braiz
Agora elas não existem mais
Para lá em grupo eu seguia
Os dois velhos, em dupla satisfeitos
Com as violas em seus peitos
Duetava aquela melodia.
IV
Ao rever aonde fui nascido
Balançou o meu sentido
Veio aquela tristeza me aproximar.
Lembrei coisa boa que foi
Não avistei rastro de carro de boi
Lembrei o avô esbravejar
Quando estava pra chover
Algum café seco pra colher
Era hora do berrante trabalhar
Soprando na boca a colônia chamava
Com ele ninguém brincava
Não acontecia discussão
Meu avô era homem positivo
Alguma hora era explosivo
A sua peteca não caia no chão.
Agora a sua grande fazenda já era
A colônia toda virou tapera
Transformou numa solidão
Na mente fiquei pensando
No peito meu pobre coração pulando
Por ter visto a transformação.
Dali continuei o meu caminho
Para eu ver de pertinho
Aquela antiga Fazenda do Matão!
V
Ao chegar naquela fazenda
Igual bagaço de uma moenda
Ali eu fiz a minha interpretação.
Acabou o campo com o time de futebol
Ali com chuva ou com sol

No campo tinha diversão.
Dali mudou todo camarada
Ali conquistei minha amada
Meu sogro deu a sua permissão.
Ali moramos princípio de vida
Ali conheci Maria Aparecida
Minha flor humana preferível
Eu infelizmente perdi a mulher
Deus é bom e sabe o que quer
A Maria voltar não é possível.
Meu sogro e sogra ali viveu
Também ele e ela já faleceu
Deixou uma lacuna terrível
Ninguém fica para semente
Somos igual água corrente
Seu destino é além e mar visível
Nessa terra tamos de passagem
Pensar na morte é bobagem
Para o infinito tudo é cabível.
VI
Com tudo que eu vi, analisei,
A estrada de volta eu peguei
Vim conduzindo meu pensamento
Minha cachola veio cheia
O sangue fervendo na veia
A morte leva tudo ao firmamento.
Eu fiquei viúvo na saudade
Deus levou Maria para a eternidade
Desfazendo meu casamento.
O Pai Onipotente nos dá vida
Seja curta ou bastante comprida
Não escolhendo sua criatura
Em fila entramos na bica.
Bens materiais aqui tudo fica
Não adianta sabedoria e cultura
Somente vai o corpo no caixão
Ninguém voltou, se é ruim ou bão
Essa mudança de figura
Ainda não prevaleceu um apelo
Evitando a soneca no gelo
Não existe remédio a esse cura
Por que? “Tudo que é vivente acaba”
Quando a estrutura desaba
Morta na fria sepultura.

2 comentários:

Anônimo disse...

Puxa! Quanta coisa....tô até zonza!!!
Ficou muito bom o jornal virtual! Parabéns!
Bjs...

Anônimo disse...

QI ZeZé achei um homem de fé.UM abraço.Continua escrevendo,sua prima Ana Maria.

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