O
Observatório do Pico dos Dias (OPD), a casa do maior telescópio em solo
brasileiro, abre suas portas ao público geral uma vez por ano, normalmente em
setembro ou outubro. Nesta semana, a previsão de chuva ameaçou os planos dos
curiosos e entusiastas da astronomia, mas felizmente as nuvens não deram as
caras e tivemos belas tarde e noite para apreciar o céu e conhecer os
telescópios do OPD.
Obs.: desde
já eu peço desculpas pela qualidade das fotos, que não é das melhores, pois a
câmera que eu usei é daquelas bem casuais, e eu também não sou fotógrafo! As
imagens foram alteradas por software para diminuir o ruído, realçar as cores e
desfocar rostos.
Eu fui para
lá no ônibus fretado pela minha universidade, junto com outros alunos. Quando
cheguei lá, fui recebido pelo pôr do Sol mais bonito que eu já vi na vida. Mas
não era por menos, eu moro em uma cidade encravada no vale do Sapucaí, cercada
por montanhas, então os fins de tarde por aqui não são tão espetaculares. Mas
lá no OPD, por ser o ponto mais alto na região (1684 m de altitude), os
horizontes estavam limpos de obstruções.
Montanhas
a se perder de vista
Por
do Sol no Pico dos Dias. Esta é a minha foto favorita da visita
Durante a
tarde, todos os telescópios do OPD estavam apontados para a Lua (que
coincidentemente estava no exato quarto crescente), e alta magnificação dos
equipamentos permitiu observar as crateras do satélite em altíssima resolução.
Mas para a maioria das pessoas eu imagino que não deve ter sido assim tão
interessante, pois estavam vendo apenas um pedaço branco da Lua. Felizmente,
para ver todo o disco bastava olhar na buscadora (uma lente menor que serve
para encontrar os objetos no céu).
O primeiro
telescópio que eu visitei foi o de 40 cm, mas eu esqueci de tirar fotos dele!
Ele era o telescópio mais “estiloso” de todos, deu vontade de ter um só para mim.
O problema é que um daqueles provavelmente custa quase o mesmo que um carro de
luxo, sem contar o domo e a câmera CCD.
Depois fui
visitar o famoso telescópio Zeiss, aquele que foi enviado pela Alemanha em
troca de café. Ele é controlado manualmente, então um astrônomo que queira
usá-lo deve ir ao OPD para operá-lo, ao invés de fazer isso remotamente. Meu
professor disse que uma vez ele observou a Nebulosa de Órion pela ocular do
Zeiss, e que foi uma das imagens mais belas que ele já viu: dava para ver a cor
esverdeada produzida pela passagem de luz através do gás hidrogênio na nuvem.
Zeiss:
um telescópio hipster
Tinha muita,
mas MUITA gente lá na visita. Eu não imaginei que iriam tantos. Tinha até uns
loucos que subiram a montanha de bicicleta! Sério mesmo, isso é mais doido que
estudar mecânica quântica! Mas uma coisa que eu notei foi que algumas dessas
pessoas não conseguiam esconder uma certa decepção: quem chegou lá achando que
veria imagens como as do Hubble, provavelmente ficou a ver navios. Esses tipos
de imagens não podem ser observadas em uma ocular, só é possível em fotos. O
fato de não haver nenhum planeta visível para os telescópios também não ajudou
muito. Ver Júpiter ou Saturno é algo para se contemplar por horas!
Depois do
Zeiss, ficamos esperando a nossa vez de visitar o maior telescópio em solo
brasileiro, aquele de 1,60 m de abertura. O mais legal de tudo foi chegar lá
bem na hora que estavam movimentando o telescópio para apontar para outro
objeto: o barulho causado pela movimentação do domo era quase assustador! O
objeto que eu observei foi um aglomerado globular em Sagitário, provavelmente
M22 ou M28. Um objeto que no meu telescópio não passa de uma mancha acinzentada
no céu se transformou em uma enorme coleção de estrelas naquele equipamento.
Compare
o tamanho deste brinquedo com a pessoa observando ali embaixo
É importante
ressaltar que apesar de o público estar observando nos telescópios através da
ocular, a ciência não é feita ali: todas as imagens usadas em pesquisas são
obtidas por computador ao invés dos nossos próprios olhos.
Apesar de um
dos funcionários do OPD ter se esforçado para explicar para o público o que é
um aglomerado globular, a maioria das pessoas provavelmente não faz ideia do
significado de um objeto como esse. Eu acredito que seria mais interessante se
fossem distribuídos folhetos que explicassem esses objetos, aí provavelmente as
pessoas conseguiriam entender melhor o que significam; ou então alguns pôsteres
informativos poderiam ser utilizados. Um cara falando lá no meio da muvuca não
é o melhor ambiente para se absorver informações.
Mas é claro
que também tem o problema intrínseco do público geral, que é o fato de ele ter
preguiça de tentar entender o que significam as coisas. A maioria das pessoas não
entende que, para obter uma imagem como essa aí do lado, é necessário MUITO
suor, paciência, dinheiro, tempo, sorte e disponibilidade de neurônios para
serem tostados.
Tá, eu tô
reclamando disso porque tinha muita gente lá que provavelmente acabou não tirando
muito proveito da visita, criando um vuco-vuco desnecessário. Mas de qualquer
modo, é melhor do que ter ficado em casa assistindo Caldeirão do Huck… não?
Depois fui
dar mais uma volta em outro telescópio, um de 60 cm de abertura que foi doado
pelo IAG/USP: ele também estava apontado em um aglomerado globular em
Sagitário, e a visão nele acabou sendo até mais legal que no telescópio de 1,60
m, porque o campo de visão era menor, e as estrelas acabavam ficando mais
“espremidas” na imagem, fazendo parecer um enxame. Ah, se eu tivesse um desse
no meu quintal!
Ô lá
em casa!
Para mim, eu
estava em um paraíso astronômico. Além da bela paisagem e dos telescópios, eu
também pude apreciar um céu magnífico, sem nuvens, em um dos locais mais
escuros que se têm acesso na região. Eram tantas estrelas no céu que eu não
conseguia identificar todas as constelações. Eu sou bastante adepto da
observação do céu a olho nu, então eu aproveitei o máximo que pude, e até
conseguir ver o que parecia ser um pequeno borrão no horizonte norte: a Galáxia
de Andrômeda. Não fosse pela posição baixa no horizonte e pelo brilho da Lua,
daria para ter visto bem melhor. Eu também fiquei procurando a Pequena Nuvem de
Magalhães, mas infelizmente não consegui observá-la, pelos mesmos entraves de
antes.
É uma pena
que eu não tenho uma câmera profissional, daquelas que expõem o obturador, para
tirar uma foto panorâmica do céu, teria dado resultados bastante interessantes.
Outro equipamento que também fez falta foi um binóculo astronômico; eu espero
que já tenha comprado um da próxima vez que eu vá ao OPD ou a outro local de
céu escuro.
De qualquer
modo, eu ainda recomendo que qualquer um que tenha uma oportunidade de visitar
o OPD o faça, é uma oportunidade bastante legal, mas eu recomendo fortemente
que você vá com a cabeça aberta, e não cometa o mesmo erro que os outros fazem
de chegar lá achando que vão ver uma cratera em Plutão ou uma criatura verde em
Marte. Ah sim, e também é necessário um pouco de sorte!
Mais
uma foto da paisagem sul-mineira para encerrar
23 de
setembro de 2012
OPD - Observatório do Pico dos Dias - fica em Brazópolis, sul de Minas Gerais.
Leo
Augusto é graduando em Física (ênfase em
Astrofísica), apaixonado por astronomia, anatomia humana, animais, música
experimental e rock contemporâneo, videogames e uma boa comida mineira.
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