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28 de setembro de 2012

Fotos e comentários sobre OPD de portas abertas - Leo Augusto



O Observatório do Pico dos Dias (OPD), a casa do maior telescópio em solo brasileiro, abre suas portas ao público geral uma vez por ano, normalmente em setembro ou outubro. Nesta semana, a previsão de chuva ameaçou os planos dos curiosos e entusiastas da astronomia, mas felizmente as nuvens não deram as caras e tivemos belas tarde e noite para apreciar o céu e conhecer os telescópios do OPD.

Obs.: desde já eu peço desculpas pela qualidade das fotos, que não é das melhores, pois a câmera que eu usei é daquelas bem casuais, e eu também não sou fotógrafo! As imagens foram alteradas por software para diminuir o ruído, realçar as cores e desfocar rostos.

Eu fui para lá no ônibus fretado pela minha universidade, junto com outros alunos. Quando cheguei lá, fui recebido pelo pôr do Sol mais bonito que eu já vi na vida. Mas não era por menos, eu moro em uma cidade encravada no vale do Sapucaí, cercada por montanhas, então os fins de tarde por aqui não são tão espetaculares. Mas lá no OPD, por ser o ponto mais alto na região (1684 m de altitude), os horizontes estavam limpos de obstruções.

   Montanhas a se perder de vista

  Por do Sol no Pico dos Dias. Esta é a minha foto favorita da visita

Durante a tarde, todos os telescópios do OPD estavam apontados para a Lua (que coincidentemente estava no exato quarto crescente), e alta magnificação dos equipamentos permitiu observar as crateras do satélite em altíssima resolução. Mas para a maioria das pessoas eu imagino que não deve ter sido assim tão interessante, pois estavam vendo apenas um pedaço branco da Lua. Felizmente, para ver todo o disco bastava olhar na buscadora (uma lente menor que serve para encontrar os objetos no céu).

O primeiro telescópio que eu visitei foi o de 40 cm, mas eu esqueci de tirar fotos dele! Ele era o telescópio mais “estiloso” de todos, deu vontade de ter um só para mim. O problema é que um daqueles provavelmente custa quase o mesmo que um carro de luxo, sem contar o domo e a câmera CCD.

Depois fui visitar o famoso telescópio Zeiss, aquele que foi enviado pela Alemanha em troca de café. Ele é controlado manualmente, então um astrônomo que queira usá-lo deve ir ao OPD para operá-lo, ao invés de fazer isso remotamente. Meu professor disse que uma vez ele observou a Nebulosa de Órion pela ocular do Zeiss, e que foi uma das imagens mais belas que ele já viu: dava para ver a cor esverdeada produzida pela passagem de luz através do gás hidrogênio na nuvem.

   Zeiss: um telescópio hipster

Tinha muita, mas MUITA gente lá na visita. Eu não imaginei que iriam tantos. Tinha até uns loucos que subiram a montanha de bicicleta! Sério mesmo, isso é mais doido que estudar mecânica quântica! Mas uma coisa que eu notei foi que algumas dessas pessoas não conseguiam esconder uma certa decepção: quem chegou lá achando que veria imagens como as do Hubble, provavelmente ficou a ver navios. Esses tipos de imagens não podem ser observadas em uma ocular, só é possível em fotos. O fato de não haver nenhum planeta visível para os telescópios também não ajudou muito. Ver Júpiter ou Saturno é algo para se contemplar por horas!

Depois do Zeiss, ficamos esperando a nossa vez de visitar o maior telescópio em solo brasileiro, aquele de 1,60 m de abertura. O mais legal de tudo foi chegar lá bem na hora que estavam movimentando o telescópio para apontar para outro objeto: o barulho causado pela movimentação do domo era quase assustador! O objeto que eu observei foi um aglomerado globular em Sagitário, provavelmente M22 ou M28. Um objeto que no meu telescópio não passa de uma mancha acinzentada no céu se transformou em uma enorme coleção de estrelas naquele equipamento.

 Compare o tamanho deste brinquedo com a pessoa observando ali embaixo

É importante ressaltar que apesar de o público estar observando nos telescópios através da ocular, a ciência não é feita ali: todas as imagens usadas em pesquisas são obtidas por computador ao invés dos nossos próprios olhos.

Apesar de um dos funcionários do OPD ter se esforçado para explicar para o público o que é um aglomerado globular, a maioria das pessoas provavelmente não faz ideia do significado de um objeto como esse. Eu acredito que seria mais interessante se fossem distribuídos folhetos que explicassem esses objetos, aí provavelmente as pessoas conseguiriam entender melhor o que significam; ou então alguns pôsteres informativos poderiam ser utilizados. Um cara falando lá no meio da muvuca não é o melhor ambiente para se absorver informações.

Mas é claro que também tem o problema intrínseco do público geral, que é o fato de ele ter preguiça de tentar entender o que significam as coisas. A maioria das pessoas não entende que, para obter uma imagem como essa aí do lado, é necessário MUITO suor, paciência, dinheiro, tempo, sorte e disponibilidade de neurônios para serem tostados.

Tá, eu tô reclamando disso porque tinha muita gente lá que provavelmente acabou não tirando muito proveito da visita, criando um vuco-vuco desnecessário. Mas de qualquer modo, é melhor do que ter ficado em casa assistindo Caldeirão do Huck… não?

Depois fui dar mais uma volta em outro telescópio, um de 60 cm de abertura que foi doado pelo IAG/USP: ele também estava apontado em um aglomerado globular em Sagitário, e a visão nele acabou sendo até mais legal que no telescópio de 1,60 m, porque o campo de visão era menor, e as estrelas acabavam ficando mais “espremidas” na imagem, fazendo parecer um enxame. Ah, se eu tivesse um desse no meu quintal!

   Ô lá em casa!

Para mim, eu estava em um paraíso astronômico. Além da bela paisagem e dos telescópios, eu também pude apreciar um céu magnífico, sem nuvens, em um dos locais mais escuros que se têm acesso na região. Eram tantas estrelas no céu que eu não conseguia identificar todas as constelações. Eu sou bastante adepto da observação do céu a olho nu, então eu aproveitei o máximo que pude, e até conseguir ver o que parecia ser um pequeno borrão no horizonte norte: a Galáxia de Andrômeda. Não fosse pela posição baixa no horizonte e pelo brilho da Lua, daria para ter visto bem melhor. Eu também fiquei procurando a Pequena Nuvem de Magalhães, mas infelizmente não consegui observá-la, pelos mesmos entraves de antes.

É uma pena que eu não tenho uma câmera profissional, daquelas que expõem o obturador, para tirar uma foto panorâmica do céu, teria dado resultados bastante interessantes. Outro equipamento que também fez falta foi um binóculo astronômico; eu espero que já tenha comprado um da próxima vez que eu vá ao OPD ou a outro local de céu escuro.

De qualquer modo, eu ainda recomendo que qualquer um que tenha uma oportunidade de visitar o OPD o faça, é uma oportunidade bastante legal, mas eu recomendo fortemente que você vá com a cabeça aberta, e não cometa o mesmo erro que os outros fazem de chegar lá achando que vão ver uma cratera em Plutão ou uma criatura verde em Marte. Ah sim, e também é necessário um pouco de sorte!

   Mais uma foto da paisagem sul-mineira para encerrar

 23 de setembro de 2012

 OPD - Observatório do Pico dos Dias - fica em Brazópolis, sul de Minas Gerais.
 

Leo Augusto  é graduando em Física (ênfase em Astrofísica), apaixonado por astronomia, anatomia humana, animais, música experimental e rock contemporâneo, videogames e uma boa comida mineira.

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