Mais um dia
dos pais...mais um dia que não poderei lhe dar meu abraço!
Meu pai era
Adolfo Maurício Dias, nasceu na zona rural de Piranguinho em 1916 e era filho de Benedito Romeiro Dias e Gertrudes Dias.
Teve apenas uma irmã mais velha, Maria.
Ficou órfão
de mãe aos 3 anos de idade.
Seu pai,
fazendeiro abastado, trabalhador, não soube conviver com a ausência de sua
Gertrudes e se enveredou na bebida e no jogo. Perdeu tudo o que tinha.
Mudou-se
para Brazópolis com seus dois filhos e foram morar na Rua 24 de maio.
Meu pai com
7 anos e sua irmã com 10. Ele entrou na escola aos 7. Estudou no Grupão. E foi
lá que ganhou o apelido de Girassol. Era
um aluno rebelde e revoltado. Na 3ª
série, aos 10 anos, seu pai
faleceu. Ficaram ele e Maria, que já mocinha, não tinha muito juízo.
Sem dinheiro
pra nada, não teve outra solução a não ser trabalhar. Era entregador de leite.
Aquela
criança trabalhava de sol a sol, sem descanso pra se sustentar e à irmã.
Ficou mocinho, continuava rebelde e brigão, mas
sempre trabalhador.
Sua irmã
fugiu um dia com um namorado. Ele nunca mais a viu. Teve apenas a notícia de
que ela havia se casado e tinha muitos
filhos.
Ele
entregava leite na casa do Seu Joaquim Inácio e de sua esposa D. Rita, que o
consideravam como a um filho. Daí ele passou a morar com eles.
Bem apessoado, bonito, de olhos azuis, era um grande
conquistador. Chegou a ficar noivo três vezes.
Arrumou
emprego na fazenda do Seu Juca Brito. Lá
ele era carreiro. Quando vinha à cidade, passava pela estrada onde morava minha
mãe Therezinha, que nesta época era criança ainda. Ela com 8 e ele com 23.
Ela e seus
irmãos corriam pra pegar carona no carro de boi. Ele brincava com meu avô
Agenor, olhando pra minha mãe, dizendo: ”Cuida bem desta loirinha aí, que um
dia vou casar com ela”.
Quando fez
24 anos, seu patrão lhe perguntou a idade, “24” ele respondeu, “Serviu o exército?”, perguntou o patrão. “Não,
nunca me alistei”. Seu patrão preocupado com a lei procurou saber e descobriu que
ele nunca tinha sido registrado. Então alguém sugeriu: “Vai ser registrado como
nascido em 1920 pra não ter problemas e vai se alistar esse ano”. Assim ele foi registrado, com 4 anos de atraso e
serviu o exército. Comprou então seu primeiro cavalo, e vinha pra cidade tomar uma pinguinha com os
amigos e na volta passava na Fecularia de meu avô e brincava com minha mãe que
ficava muito brava.
Assim os
anos foram passando. Ele pulando de namorada em namorada. Minha mãe cresceu,
ficou uma moça muito bonita e começou a não mais achar ruim as brincadeiras
dele. Acabaram namorando, noivando e casando e deste casamento viemos nós, seus
7 filhos: Seis meninas e um menino. E assim foram vivendo. Minha mãe
professora, ele trabalhando com o café e pescando quase todas as tardes. Peixe
em nossa casa nunca faltou.
Ele passou a tomar conta das máquinas de café e
da fazenda do Seu João Pinto Gonçalves. Trabalhava muito, mas nos finais de
semana, depois de um dia inteiro de pescaria, gostava de ir pra praça, à noite, conversar com os amigos. Nesta época já era
uma pessoa pacata, amável, amigo de todos. Fumava muito, uns 4 maços por dia.
Bebia muito também, mas nós, os filhos, não notávamos que ele bebia. Sabíamos
que sim porque ouvíamos minha mãe brava com ele.
Um dia ele
resolveu parar com o cigarro e com a bebida. Assim, de supetão...
Comprou um
garrafão de 5 litros de pinga e um pacote com 10 maços de cigarros. Pegou sua
vara de pescar e foi para a beira do rio. Naquele dia esvaziou o garrafão e fumou
todos os cigarros. Desmaiou. Foi trazido ao hospital. Depois dessa data nunca mais fumou ou bebeu um drinque sequer.
Tinha uma
saúde de ferro. Única internação de sua vida foi pra retirar a vesícula que
estava lhe dando problemas.
Saudável,
forte, alegre, sempre trabalhando e pescando...assim viveu seus últimos 22 anos
depois do dia em parou de fumar e beber.
Sempre
brincava dizendo: “Vou morrer pescando, na beira do rio, junto com o Compadre
Rubens, com 102 anos”.
E vou assim
que ele nos deixou. Morreu pescando, na beira do rio, na companhia de uns
amigos e do compadre Rubens Chaves. Teve um enfarte fulminante. Mas não esperou
completar seus 102 anos. Ele partiu às vésperas de completar 84 anos, em
setembro de 2000. Assim foi a vida do Adolfo Girassol, meu pai, meu amigo, meu
mestre, meu herói.
“Caridade,
honestidade e bom caráter, são coisas que deixarei de herança pra vocês, meus
filhos”, ele sempre repetia.
Obrigada
pai! Obrigada por esta herança sem preço que nos deixou!
Saudades eternas...
Feliz dia
dos pais, meu pai amigo pescador!
11 comentários:
Gostava muito de seu pai . Era muito divertido e dava gostosas gargalhadas... Me lembro dele sempre agachado,sentado no calcanhar, quando tava contando os causos . Era assim mesmo ou rmaginação minha? O que tenho certeza è que gostávamos muito dele
A lembrança que eu tenho do Adolfo Girassol é a alegria que ele sempre carregava, Fati. É isso que eu sentia toda vez que nos cumprimentávamos. Seu sorriso era padrão. Se um milésimo das pessoas que conhecemos tivesse esse comportamento, nosso dia a dia seria muito melhor.
Obrigada pelos elogios ao meu pai. Ele era isso tudo e muito mais. Tenho muito orgulho de ter sido filha dele. Deus não poderia ter me dado um pai melhor.
Ô Fátima, que descrição linda e real que você fez de seu querido pai.Os poucos contatos que tive com ele,pude notar a sua alegria de viver. Ele deixou um legado muito bom aqui na terra! Paulo Valim
Voce esta comentando sobre seu pai que tb conheci era um grande homen, mais tenho que falar e sobre sua mae, estudei com ela nos anos 70 ela ajudou-me e muito nas provas dona Terezinha era um cranio eu nao sabia algumas questoes da prova entao escrevia as perguntas e dobrava o papelzinho jogava na carteira dela e ela respondia e devolvia, que saudades daquele tempo, hoje sou um velho muito doente, mais ainda estou vivendo, com muitas dificuldades pois sou limitado em tudo que penso em fazer, mais a vida e assim, Fatima que DEUS te ilumine continue fazendo o que vc faz pois traz ate agente as novas de Brazopolis, tb as coisas antigas que e tao bom recordar. agradeÇo de coraÇao um amigo .
Obrigada pelos elogios à minha mãe. Realmente ele era uma pessoa excepcional. Muitas saudades. Que Deus o abençoe e que você se restabeleça logo.
Um grande abraço. Pena não saber que você é..rsrs
Pois está aí uma pessoa para contar que trabalho não faz mal, enobrece o homem.
O globo repórter mostrou ontem crianças trabalhando, estes são o futuro do Brasil,já pensaram todas aquelas crianças badernando na rua ,brincando ao léo e os pobres dos pais trabalhando de sol a sol,pelo menos estão aprendendo que a vida é luta renhida. Parabéns Seu Adolfo pelo exemplo de vida que deixou.
ACHAVA QUE O PAI DE FÁTIMA NORONHA... FOSSE ALGUÉM DOS NORONHAS...
Faço minha suas palavras, pai e homem como ele, acho que não se encontra mais.Grande homem, grande pai, grande ser humano.Sinto tanta falta.Te amo muito papai
Conheci o sr. Adolfo ainda criança,era um homem de muitas qualidades,tratava as pessoas com amizade e carinho de pai.Gostavamos de conversar com ele,sempre calmo e alegre.Minha mãe me contava estorias do sr. Adolfo referente à Lealdade e respeito,fiquei ainda mais fã do sr. Adolfo,exemplo de ser humano.
Meu pai era Maurício Dias e minha mãe é que era Noronha. Por isso sou Fátima Noronha Dias.
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