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21 de dezembro de 2013

Lembranças da Vó Maria - Leda e Aline Moraes



 Minha irmã Ledinha e eu estávamos no café da manhã e vieram as lembranças da nossa querida Vó Maria. Chegamos a conclusão que não existem mais avós como a nossa. A nossa avó era uma típica e tradicional avó, com cara de vó, roupa de vó, cheiro de vó, casa de vó comida de vó, tanta coisa boa...
Que saudades daquele chazinho naquela chaleira , que tinha um protetor de bico de crochê de galinha. Detalhe importante: chá natural da horta atrás da casa dela onde antes era depósito de lixo. Que saudades de ir buscar as ervas com ela, a cada erva que pegava explicava-nos o bem que fazia e nos dava para experimentar ali mesmo. Íamos andando e mastigando. Ali também tinham muitas flores bonitas e cheirosas. Persistente, ela conseguiu convencer que rosas eram melhores que lixo, até que desistiram de jogar lixo. Nossa avó sempre transformava as coisas para o bem. Quem nunca entrou na casa dela se sentindo um lixo e saiu de lá se sentindo tão bem, bonita e leve como as suas rosas? Vó Maria tinha uma sabedoria nata, antes mesmo dessa moda de feng shui (não sei como escreve), ela sempre teve o espelho na frente da porta de entrada, a lei do bate volta, que a protegia de qualquer energia negativa, por isso sua casa era tão harmoniosa. E falando em porta, esta nunca estava fechada, sempre aberta escorada por uma pedra, quantas pessoas se sentiam acolhidas ao ver aquela porta aberta e poder entrar. E todo tipo de pessoa entrava. Na casa dela nao existia classe social, cor, eram todos filhos de Deus e amados por ela.Se a porta estivesse fechada era sinal de que ela não estava em casa, porém antes de ir embora era sempre bom olhar pra cima do morro, pois diariamente subia o morro de terra que dava acesso à rodovia. Como apreciava a beleza do lugar que vivia, como sabia apreciar a natureza, valorizar e agradecer a Deus. Da nossa casa conseguíamos ver pela varanda a Vó Maria no morro, gritávamos e ela acenava com a mão, que saudade...
E as roupas da vó, verdadeira vó, vestidinhos floridos, xale e casacos de lã no frio, sempre com perfume de alfazema ou lavanda ou conturrê (alguém se lembra desse aroma?). Os cabelos brancos encaracolados, bem arrumados, uma linda vó. Quando sentava na cadeira de balanço nos sentíamos numa verdadeira história de contos de crianças. Mas ela não era apenas a  nossa vó, era vó da cidade inteira, todo mundo a chamava de vó. Eu Aline, morria de ciúmes, a Ledinha disse que não, mas deve ser mentira, rs. 
Servia as visitas com bandejinha e as xícaras pequenas de café ou chá. Para cada situação ela oferecia um tipo de chá. Se estivesse nervoso, se estivesse de ressaca, sempre tinha um boldo.
Que saudade da comida da Vó. Além de ser sábia também fazia milagres, pois um frango conseguia servir bem muita gente. E se chegássemos lá a qualquer hora com fome, ela sempre conseguia fazer de uma simples comida um banquete. Ou alguém discorda da maravilha que era o seu arrozinho branco com ovo frito? Trocaria qualquer ceia de natal por isso. Mesmo em uma família de tantos irmãos que não gostavam de leite, todos éramos doidos pelo seu pão com nata, vai entender isto. 
Sempre alegre, sorridente, bem humorada, brincalhona, besteirenta e com uma gargalhada contagiante, uma verdadeira terapeuta. E o dinheirinho que dava para os netos? E a poupança que abriu pra gente? E quando pedia para buscarmos alguma coisa no Bar do Dico com a sua caderneta? E a gente pegava um docinho: maria mole, canudo, suspiro rosa, que delícia!
E a decoração da sua casa? E aquela mesa de madeira com dois bancos lembrando a última ceia, o teto baixo, as fotos da família, os quadros do Papa, do "Ser Mineiro". E o muro do Grupão, que nos intervalos das aulas a Ledinha ia pedir pão? Ela dava pão com a deliciosa nata que batia e café com leite. Minha irmã Ledinha confessa que jogava fora o leite já que ela não via mesmo. E a prancheta no quartinho com todas contas juntas organizadinhas?
Nós nunca vimos a vó reclamar de ninguém, brigar com ninguém. Como será que alimentava tanta sabedoria? Deveria ser nas suas orações diárias, com terço na mão. O Altar de N.Sa Aparecida em seu quarto com a luz sempre acesa. 
Ai Vó, quanta saudades nós temos, mas somos gratas pelo tempo que vivemos ao seu lado. Você continua viva quando contamos suas histórias para os seus netos, bisnetos e tataranetos. Como eles gostam das suas histórias. Sua tataraneta  Rafaela não entende a Vó Leda não gostar de leite, mas gostar da nata do leite no pão. “Milagres” da Vó Maria. Guilherme Arantes deve ter feito aquela música pra ela "tudo que ela toca vira ouro"!!!
                                                                                                                                    
Autoras: Leda Maria e Aline Cristina com um monte de coisas pra fazer, arrumar as malas, comprar presentes de Natal, ir à escola dos filhos, pagar contas, né tia Ca? Mas como uma das irmãs de Lázaro, escolhemos estender o café da manhã por duas horas para viver o melhor da vida. Lembrar da nossa Vó Maria que tinha muito Jesus no coração e agora está lá com Ele.

Um comentário:

Anônimo disse...

Coisa boa, hein? Lembro bem da D. Maria. Como é bom ter uma avó assim! Graças a Deus eu também tive e só tenho coisas boas para lembrar.

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