Minha irmã Ledinha e eu estávamos
no café da manhã e vieram as lembranças da nossa querida Vó Maria. Chegamos a
conclusão que não existem mais avós como a nossa. A nossa avó era uma típica e
tradicional avó, com cara de vó, roupa de vó, cheiro de vó, casa de vó comida
de vó, tanta coisa boa...
Que saudades daquele chazinho
naquela chaleira , que tinha um protetor de bico de crochê de galinha. Detalhe
importante: chá natural da horta atrás da casa dela onde antes era depósito de
lixo. Que saudades de ir buscar as ervas com ela, a cada erva que pegava
explicava-nos o bem que fazia e nos dava para experimentar ali mesmo. Íamos
andando e mastigando. Ali também tinham muitas flores bonitas e cheirosas.
Persistente, ela conseguiu convencer que rosas eram melhores que lixo, até que
desistiram de jogar lixo. Nossa avó sempre transformava as coisas para o bem.
Quem nunca entrou na casa dela se sentindo um lixo e saiu de lá se sentindo tão
bem, bonita e leve como as suas rosas? Vó Maria tinha uma sabedoria nata, antes
mesmo dessa moda de feng shui (não sei como escreve), ela sempre teve o espelho
na frente da porta de entrada, a lei do bate volta, que a protegia de qualquer
energia negativa, por isso sua casa era tão harmoniosa. E falando em porta,
esta nunca estava fechada, sempre aberta escorada por uma pedra, quantas
pessoas se sentiam acolhidas ao ver aquela porta aberta e poder entrar. E todo
tipo de pessoa entrava. Na casa dela nao existia classe social, cor, eram todos
filhos de Deus e amados por ela.Se a porta estivesse fechada era sinal de que
ela não estava em casa, porém antes de ir embora era sempre bom olhar pra cima
do morro, pois diariamente subia o morro de terra que dava acesso à rodovia.
Como apreciava a beleza do lugar que vivia, como sabia apreciar a natureza,
valorizar e agradecer a Deus. Da nossa casa conseguíamos ver pela varanda a Vó
Maria no morro, gritávamos e ela acenava com a mão, que saudade...
E as roupas da vó, verdadeira vó,
vestidinhos floridos, xale e casacos de lã no frio, sempre com perfume de
alfazema ou lavanda ou conturrê (alguém se lembra desse aroma?). Os cabelos
brancos encaracolados, bem arrumados, uma linda vó. Quando sentava na cadeira
de balanço nos sentíamos numa verdadeira história de contos de crianças. Mas
ela não era apenas a nossa vó, era vó da
cidade inteira, todo mundo a chamava de vó. Eu Aline, morria de ciúmes, a
Ledinha disse que não, mas deve ser mentira, rs.
Servia as visitas com bandejinha
e as xícaras pequenas de café ou chá. Para cada situação ela oferecia um tipo
de chá. Se estivesse nervoso, se estivesse de ressaca, sempre tinha um boldo.
Que saudade da comida da Vó. Além
de ser sábia também fazia milagres, pois um frango conseguia servir bem muita
gente. E se chegássemos lá a qualquer hora com fome, ela sempre conseguia fazer
de uma simples comida um banquete. Ou alguém discorda da maravilha que era o
seu arrozinho branco com ovo frito? Trocaria qualquer ceia de natal por isso.
Mesmo em uma família de tantos irmãos que não gostavam de leite, todos éramos
doidos pelo seu pão com nata, vai entender isto.
Sempre alegre, sorridente, bem
humorada, brincalhona, besteirenta e com uma gargalhada contagiante, uma
verdadeira terapeuta. E o dinheirinho que dava para os netos? E a poupança que
abriu pra gente? E quando pedia para buscarmos alguma coisa no Bar do Dico com
a sua caderneta? E a gente pegava um docinho: maria mole, canudo, suspiro rosa,
que delícia!
E a decoração da sua casa? E
aquela mesa de madeira com dois bancos lembrando a última ceia, o teto baixo, as
fotos da família, os quadros do Papa, do "Ser Mineiro". E o muro do
Grupão, que nos intervalos das aulas a Ledinha ia pedir pão? Ela dava pão com a
deliciosa nata que batia e café com leite. Minha irmã Ledinha confessa que
jogava fora o leite já que ela não via mesmo. E a prancheta no quartinho com
todas contas juntas organizadinhas?
Nós nunca vimos a vó reclamar de
ninguém, brigar com ninguém. Como será que alimentava tanta sabedoria? Deveria
ser nas suas orações diárias, com terço na mão. O Altar de N.Sa Aparecida em
seu quarto com a luz sempre acesa.
Ai Vó, quanta saudades nós temos,
mas somos gratas pelo tempo que vivemos ao seu lado. Você continua viva quando
contamos suas histórias para os seus netos, bisnetos e tataranetos. Como eles
gostam das suas histórias. Sua tataraneta
Rafaela não entende a Vó Leda não gostar de leite, mas gostar da nata do
leite no pão. “Milagres” da Vó Maria. Guilherme Arantes deve ter feito aquela
música pra ela "tudo que ela toca vira ouro"!!!
Autoras: Leda Maria e Aline
Cristina com um monte de coisas pra fazer, arrumar as malas, comprar presentes
de Natal, ir à escola dos filhos, pagar contas, né tia Ca? Mas como uma das
irmãs de Lázaro, escolhemos estender o café da manhã por duas horas para viver
o melhor da vida. Lembrar da nossa Vó Maria que tinha muito Jesus no coração e
agora está lá com Ele.
Um comentário:
Coisa boa, hein? Lembro bem da D. Maria. Como é bom ter uma avó assim! Graças a Deus eu também tive e só tenho coisas boas para lembrar.
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