Eu vim de
Minas.
Não sei pra
quê.
Procurar o
quê?
minas tem
fogueira
em volta da
qual se senta
pra
espantar o frio
ou pra
quentar o fogo
e se
conversa a noite inteira
e a vida
inteira,
pitando um
cigarro de palha.
E o frio
não corta mais,
pois que
passa como a noite,
enquanto a
vida não passa,
ou se
recolhe na brasa
do cigarro
ou da conversa
acesa como
a fogueira,
que também
nunca se apaga.
Mas eu vim
assim mesmo.
Quis voltar
pra Minas,
não soube
mais o caminho.
Procurando-a
rodei mundo:
fui até
Brasília!
E passei
por Minas
procurando
Minas!
Em Minhas
apenas se estende o braço
e se apanha
no pé uma laranja,
que se
descasca e se chupa,
sentindo-se
o beijo da terra:
tão bom...
tão doce...
Doce como
um certo rio
que também
brotou em minas
e, não sei
se por incauto
ou por
querer ser mais doce,
rolou
serras, correu curvas,
fez
caminhos, descaminhos
e perdeu
sua doçura
ao
perder-se pelo mar.
Voltei pra
cá
procurando
Minas
(tanta
volta em minha vida,
e a minha
vida não volta):
qual
passarinho perdido
que não
acha o próprio ninho,
outra vez
passei por Minas
procurando
Minas!
Minas tem
uma cantiga
que é de
deixar um doido:
“Como pode
um peixe vivo
viver fora
da água fria?”
longe,
peixe fora d’água,
eu canto
doida cantiga:
como pode u
lambari
viver fora
da água doce?
Minas tão
distante!
– Minas
não há mais... – chora-me o poeta.
– Não há
mais? – suspiro eu –
Seja o que
Deus quiser...
E me
espanto, me indagando:
– E Deus, o
que quererá,
se ele
próprio ainda não sabe
se é do céu
ou se é de Minas?...
Eu vou
morrer resfolegando como um trem
subindo
serras
gemendo
curvas,
apitando
triste,
chorando
fumaça,
procurando
Minas...
E assim
decerto tocarei as nuvens,
ou me
confundirei com as nuvens,
ou me
azularei...
e assim
decerto chegarei ao céu.
Que pena!
Ainda não
estarei em Minas
e nem sei
se verei Deus.
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