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10 de abril de 2013

MINHA CANÇÃO DO EXÍLIO – José Eustáquio Cardoso



Eu vim de Minas.
Não sei pra quê.

Procurar o quê?
minas tem fogueira
em volta da qual se senta
pra espantar o frio
ou pra quentar o fogo
e se conversa a noite inteira
e a vida inteira,
pitando um cigarro de palha.
E o frio não corta mais,
pois que passa como a noite,
enquanto a vida não passa,
ou se recolhe na brasa
do cigarro ou da conversa
acesa como a fogueira,
que também nunca se apaga.

Mas eu vim assim mesmo.

Quis voltar pra Minas,
não soube mais o caminho.

Procurando-a rodei mundo:
fui até Brasília!
E passei por Minas
procurando Minas!

Em Minhas apenas se estende o braço
e se apanha no pé uma laranja,
que se descasca e se chupa,
sentindo-se o beijo da terra:
tão bom... tão doce...
Doce como um certo rio
que também brotou em minas
e, não sei se por incauto
ou por querer ser mais doce,
rolou serras, correu curvas,
fez caminhos, descaminhos
e perdeu sua doçura
ao perder-se pelo mar.

Voltei pra cá
procurando Minas
(tanta volta em minha vida,
e a minha vida não volta):
qual passarinho perdido
que não acha o próprio ninho,
outra vez passei por Minas
procurando Minas!

Minas tem uma cantiga
que é de deixar um doido:
“Como pode um peixe vivo
viver fora da água fria?”
longe, peixe fora d’água,
eu canto doida cantiga:
como pode u lambari
viver fora da água doce?

Minas tão distante!
 Minas não há mais... – chora-me o poeta.
– Não há mais? – suspiro eu – 
Seja o que Deus quiser...
E me espanto, me indagando: 
– E Deus, o que quererá,
se ele próprio ainda não sabe
se é do céu ou se é de Minas?...

Eu vou morrer resfolegando como um trem
subindo serras
gemendo curvas,
apitando triste,
chorando fumaça,
procurando Minas...
E assim decerto tocarei as nuvens,
ou me confundirei com as nuvens,
ou me azularei...
e assim decerto chegarei ao céu.
Que pena!
Ainda não estarei em Minas
e nem sei se verei Deus.

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