CARÇAMENTO DA CIDADE - Maria do Vá

“Óia, mai num há quem num recrame dessi danado de carçamento da cidade qui já tá tudo estrupiado. Tava conversano com uma amiga e ela disse qui a parte que tem us paralepípus tá tombada. Pensei: “É isso intão, tá tombano tudo e ninguém arruma”. Mai um amigo, mais insclarecido mi explicô que tombá num é derrubá, é que fica fazeno parti du patrimônio du povo. Mai quem vai querê uma coisa feia dessa?

Tem lugá qui as pedra tão sartada pa fora, tem otros qui as pedra tão fundada pa dentro...

Eu vinha andano assussegada e pensano na vida, cás mão cheia de sacola... num é qui na minha distração num apercebi um paralepípus sartado e trupiquei neli? Vigi Maria, foi um istrago só! Meu corpo foi e o pé ficô preso nu dito cujo. Fui numa carrera só, catano cavaco, tombano pra frente e só parei dentro dum bar, estatelada no chão. Assustada, cu o coração saino pras boca ainda tive qui iscuitá um mardiçuado ingraçadinho falá: “Ta bebeno muito, hem muié!” . Bebeno, eu? Óia, quem anda bebeno muito é essa turma que pôe essas pedra de quarqué manera na rua. Êta serviçinho mar feito dessi povo! E num tem um cristu pá mode vê essa marmota e mandá arrumá?

Ficá tombano as coisa e num cuidá é fáci, mas é nóis qui sai trupicano pur aí. E si quebrá uma perna o um braço? Quem vai cuidá de nóis? Só ispero qui num seja us memo home qui arruma us carçamento. Senão a gente vai acabá tudo torto.

Mai tamém roguei uma praga: essis home qui faiz esse serviço mar feito vai acabá caindo qui nem eu caí, mai eu quero é ta perto pra morrê di dá risada.”