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24 de janeiro de 2012

“PINHEIRINHO” DE NATAL - Renato Lôbo

“PINHEIRINHO” DE NATAL

Só a nossa espécie, só ela, possui a característica de sentir com o outro o que o outro sente. Inventamos palavras para designar esse aparelhamento sofisticado que só ocorre entre nós: simpatia, empatia, compaixão...

Nem bem foram desmontados os pinheiros de natal, nem bem os acordes natalinos foram embora, e já acordamos num triste domingo sob o impacto da vitória da experiência sobre a esperança. Pra que esperar que algo mude na sociedade humana? Pra que ter esperança na espécie humana? Chamem-se as forças, derrube-se à força, incendeie-se, bote-se no chão. Sobretudo, misture-se tudo, crianças inclusive. Queime-se o joio, e o trigo junto. Só espera os dois crescerem quem tem esperança. Nossa sociedade dita humana perdeu a esperança. Pra que ter esperança se a gente tem shopping?

É claro que o problema é grande, que os interesses são ainda maiores, que as mazelas são infinitas. É óbvio que há joio. Ô! Mas será que não temos problemas também dentro de nossas casas? Será que tudo é maravilhoso quando a gente fecha a porta da rua? Será que não temos, também nós, vontades selvagens de botar tudo abaixo? Em determinados momentos, o que a gente não faria com um litro de gasolina e uma caixa de fósforos? Mas fizemos? Faremos?

Há situações sem respostas. Mesmo assim, não percamos a nobre capacidade de manter as perguntas. Isso é nosso. Só nosso. Só do humano.

Assim mesmo, continuemos acreditando que só a nossa espécie, e só ela, possui a característica de sentir com o outro o que o outro sente. E a que as palavras que inventamos para nomear essa aquisição não são apenas vazios semânticos. Existe simpatia, empatia, compaixão. Acreditemos nisso, nem que seja só para poder ensinar a nossos filhos.

Na década de 70 – 40 anos atrás – quando as pessoas eram mais engajadas com o sofrimento social, até porque o sofrimento pessoal era maior também, um sujeito inspirado criou uma música-verdade que foi cantada nas igrejas. Ela foi o símbolo de uma época em que saber o que o outro necessitava e no quê a gente podia ajudar era mais importante do que discutir a tonalidade da cor da tinta do cabelo.

A letra é essa:

Para mim a chuva no telhado
É cantiga de ninar.
Mas o pobre meu irmão,
Para ele a chuva fria
Vai entrando em seu barraco
E faz lama pelo chão.

Para mim o vento que assovia
É noturna melodia.
Mas o pobre meu irmão,
Ouve o vento angustiado
Pois o vento, esse malvado,
Lhe desmancha o barracão.


Como posso ter sono sossegado
Se no dia que passou
Os meus braços eu cruzei?
Como posso ser feliz
Se ao pobre meu irmão
Eu fechei meu coração
Meu amor eu recusei?

Às vezes, fico pensando que mesmo quando não conseguimos resolver o problema, só o fato de tê-lo encontrado e nomeado já significa algum caminho de solução. Às vezes, quero crer que quem sabe, um dia, de tanto não somente engolir o que nos empurram pela goela abaixo, a gente até se salve, da gente mesmo.

Enquanto isso, não percamos a esperança. Foi o que sobrou da caixa de Pandora.

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