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31 de janeiro de 2012

ALQUIMIA - Renato Lobo

ALQUIMIA

Os humanos são as únicas criaturas do mundo para quem existir já é um problema. A gente não se conforma com muita coisa da vida, e a morte é a maior delas. E a inconformidade é, ao mesmo tempo, o nosso grande problema e a nossa maior força. (Durma com um barulho desses!)

Veja o João-de-Barro: não é inconformado, mas não é feliz! Alguém por acaso já recebeu carta ou e-mail desse ilustre cidadão contando da nova casa que construiu ou, melhor, alguém já recebeu convite de casamento do João-de-Barro? Tai um cidadão plenamente conformado. No entanto, o que o João-de-Barro nos faz pensar não é o fato dele ser conformado. Na verdade, ele nem é conformado nem informado nem feliz nem infeliz. Ele é apenas João-de-Barro. E é isso que aciona a locomotiva do pensamento: ele ser apenas João-de-Barro!

Nós humanos queremos ser tanto. E, no entanto, somos tudo isso e nada disso e quase sempre ao mesmo tempo: conformados, inconformados, felizes e infelizes. Ou não! Nós humanos somos humanos. Apenas, humanos. Mas isso cansa e de certa forma nos horroriza. A gente não queria ser apenas humano. A gente queria ser mais.

E aí, nesse afã de ser mais, a gente provoca mudanças.

Aconteceram mudanças muito rápidas no panorama mundial nos últimos 50 anos. Há 50 anos, tudo estava no lugar, tão bonito e certo que dava gosto de ver! Até os inimigos mundiais eram claros: capitalismo de um lado, comunismo do outro. EUA X Rússia. Havia em quem jogar todas as bombas e todo ódio. O inimigo (sempre precisamos de um) era de uma obviedade maçante.

Hoje, aquele mundo confiável implodiu. As pessoas se sentem inseguras sem as certezas de antes, sema s crenças de antes e sem os inimigos de antes, pra ter onde botar a culpa de tudo. O cardápio do mundo em que vivemos exige adaptação constante, e temos muito maior dificuldade em nos adaptar a uma nova realidade todo dia. Novos padrões trazem novas exigências. Veja as novelas: são os novos padrões globais de família, honestidade, sexualidade, relações humanas. Há também os padrões que não são globais. Mas esses nem contam.

Enquanto grandes mudanças foram acontecendo do lado de fora, ainda maiores mudanças vão acontecendo do lado de dentro. Da gente, claro. Era muito mais fácil viver na infância adocicada, sem os perigos da vida adulta. Mas você teve de crescer e crescer é complicado e dá trabalho. Para crescer, você teve de fazer escolhas e renúncias. Numa palavra, tivemos de desejar. E desejar implica e subentende correr riscos. “Será que vai dar certo?”

A pergunta que vale 10 milhões de Euros (porque dólar já não vale muita coisa!) é essa: Era isso mesmo que você queria da vida? Aquilo que você quer, você pode? Aquilo que você pode, você tem coragem? Dia desses um sujeito me confidenciou: “Eu já havia me encontrado naquilo que queria... Mas não tive coragem de ir adiante, e mudar minha vida!”

Quem perde a coragem de ir atrás do desejo, se deprime. O gatilho dessa depressão é o recuo diante do desejo. Essa situação poderia ser comparada à depressão do animal do zoológico. O tigre anda pra lá e pra cá, pra lá e pra cá... Até que se deita e não faz mais nada. Bem que os tratadores tentam ao máximo transformar a jaula em habitat natural. Mas jaula alguma é habitat natural! O animal se deprime, não come, derruba o pelo, acaba morrendo. Melhor, acaba se deixando morrer.

Não somos animais de zoológico. Mas a cada dia fica mais difícil saber o que queremos. “To com vontade de comer alguma coisa, mas não sei o que é.” A insatisfação invade, empurra, congela, exige, afronta, amedronta... Muitas vezes, deprime. Tanto é possível ficar deprimido quando o sujeito não tem o que quer, quando ele alcança mais do que quer. Sabe por quê? Porque nunca é o que ele queria. Já se declamava na escola Dona Maria Carneiro, o famoso “Grupinho”: “Felicidade é a árvore de dourados pomos, que sempre pomos onde não estamos e sempre estamos onde não a pomos.” Vê lá se a gente entendia qualquer coisa desse amplo espectro da existência humana naqueles idos dos passados 9 anos! Mas declamava! E ficou. Pra eu me lembrar hoje. Valeu, Elisinha!

A nossa é a primeira sociedade da história a tornar as pessoas infelizes, simplesmente, por não serem felizes. Vivemos a época da “felicidade compulsória”: Tudo começa na prateleira do supermercado e termina na lata de lixo. (Acho que já falei isso, mas adoro essa frase!) O fato surpreendente é que as pessoas pagam caro por uma satisfação que não tem. Adições, drogas, medicamentos, diversão, consumo... A vida ficou cara. E sem graça. Somos infelizes pelo simples fato de não sermos felizes. “Onde estiver o seu tesouro, aí estará o seu coração.” (Alguém procure a citação, por favor, e obrigado.)

O gatilho dessa depressão é o recuo diante do desejo. Mas como assim? As pessoas não andam justamente realizando o seu desejo? Cada um, hoje, não tem justamente a oportunidade de fazer o que bem entende? Sim. E não. Porque a pergunta continua insistindo: Você já sabe o que quer?  E você já sabe o que não quer? Fazer o que bem entende significa entender o que foi declarado ”bem entender”. Mas, realmente, entende?

O recuo diante do desejo não é o recuo de realizar o desejo, mas o recuo de reconhecer o desejo. Esse é o grande mal estar contemporâneo. Que haja pessoas fazendo o que querem à hora em que querem não significa que elas saibam o que estão fazendo a ponto de poderem reconhecer como sua a realização daquele desejo. Que, pensando bem, sequer é desejo. É apenas ímpeto, impulso cego, fazer por fazer, gozar a qualquer preço. Os nossos avos queriam, mas não tinham. Os netos deles tem... mas não querem. Bela troca!

Se você é o maior responsável pelo que deu certo e pelo que deu errado na sua vida, só você pode mudar. A primeira coisa a fazer é não terceirizar a vida. Diga: Sou eu! É comigo! Esse é o começo de todas as mudanças. Diga: Eu quero! Sou eu que quero! Esse é o começo das transformações.

Essa é a alquimia possível. Mudar ferro-velho em ouro... humm! Não sei! Mas mudar você em você mesmo, e ainda melhor, e ainda mais dono de si, pronto a ir apenas aonde você se levar, parece ser uma alquimia exigente. Mas é inteligente é real. É ouro.

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