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14 de janeiro de 2011

Brazopolense foi fundador de cidade, hoje desaparecida, no Norte do Paraná!

Cidades e Vilas Desaparecidas do Norte Pioneiro do Paraná

==== SÃO JOSÉ DO CRISTIANISMO ====

Prof.Me. Roberto Bondarik

bondarik@utfpr.edu.br

Universidade Tecnológica Federal do Paraná

Campus Cornélio Procópio

Em filmes e livros de arqueologia é comum nos depararmos com ruínas de cidades e construções, locais que já foram muito importantes e hoje se encontram completamente desabitados e sem os vestígios aparentes de sua glória passada. Interessante é sabermos que no Norte Pioneiro do Paraná existem pelo menos dois antigos sítios urbanos, ambos do século XIX que foram importantes centros e hoje se encontram desabitados, abandonados praticamente desaparecidos. Trata-se de duas cidades ou vilas que existiram próximas ao Rio Itararé, separadas por diversas léguas e que foram responsáveis pela passagem dos colonizadores que ocuparam a região: São José do Cristianismo mais ao sul, próxima a atual São José da Boa Vista e Espírito Santo do Itararé quase na foz desse rio no atual município de Ribeirão Claro.

Uma das cidades desaparecidas do Norte Pioneiro do Paraná que tratarei aqui é São José do Cristianismo povoado que foi fundado em 1848 em terras que pertenciam a Domiciano Correa Machado, fazendeiro mineiro que fomentaria a ocupação do Norte Pioneiro. Em 1853 por ocasião da criação da Província do Paraná esta localidade já devia ser uma vila de tamanho aprazível, chegando em 1872, conforme o censo daquela época, a possuir 3.572 habitantes; havia ainda 585 domicilios, chamados à época de “fogos” (devido ao fogão existente em cada casa).

A exemplo do que aconteceria praticamente em toda a região, dava-se inicio em São José do Cristianismo da ocupação e colonização por migrantes oriundos de Minas Gerais. Essa seria ao longo do século XIX e boa parte do século XX uma peculiar característica do Norte Pioneiro.

Domiciano Corrêa Machado era natural de São Caetano da Vargem Grande, hoje conhecida por Brazópolis, em Minas Gerais. Ali era proprietário de terras, fazendeiro, mas atuava também como tropeiro na rota de Sorocaba até o Rio Grande do Sul. Conduzia gado e especialmente mulas desde o Sul, passando pelos Campos Gerais paranaenses até São Paulo e pode-se supor até as Alterosas. Foi na pratica desta atividade que Machado tomou conhecimento sobre as terras devolutas (sem titulação) que existiam no Vale do Rio Itararé, em especial na sua margem esquerda, corria ainda o ano de 1842 ou 1843 e a Província do Paraná ainda não havia se emancipado de São Paulo, aliás ninguém supunha que um dia ela teria esse nome tirado do maior rio de seu território.

Naquele tempo, antes da aprovação da Lei de Terras de 1850, uma propriedade fundiária poderia ser adquirida somente de duas formas:

· Pela compra de terras que houvessem sido tituladas;

· Pela formação de posses em áreas devolutas e seu posterior registro.

Destaque-se que um dos nomes pelos quais a região do Norte Pioneiro era conhecida no século XIX era justamente “Valuto”, derivado do fato da totalidade de suas terras serem de fato ainda devolutas.

Após informar-se sobre a natureza legal da área que desejava, Domiciano Corrêa instalou sua posse após trazer sua família e proceder a venda de suas terras em Minas Gerais. A posse foi registrada em Faxina-SP e após a criação da Província do Paraná em 19 de Dezembro de 1853, repetiu o registro desta feita em Castro. Outras famílias de mineiros seguiram seus passos, é possível que a malograda Revolução Liberal de 1842 em São Paulo e Minas Gerais tenha influenciado os simpatizantes, envolvidos e derrotados neste movimento pelo Governo Imperial, a procurar novos ares e a sair de sua terra natal.

Devidamente instalado Domiciano Corrêa doou as terras para o primeiro núcleo urbano do Norte Pioneiro. Chamado então de São José do Cristianismo, como já dissemos, foi fundado ao que consta em 1848, alguns anos antes do estabelecimento da Colônia Militar do Jatahy, bem mais ao norte, em 1853.

Relatórios dos Presidentes da Província atestam que a produção de tabaco e fumo era uma das principais atividades do lugar, além da produção agrícola de subsistência. Seu principal contato para comercio foi por muito tempo Itapeva-SP, que era atingido por meio de uma picada e trilha.

São José do Cristianismo prosperou e serviu de apoio aos colonizadores mineiros e paulistas que por ali passavam para adentrar pelo lado Leste do Norte Pioneiro em direção aos sertões do Rio das Cinzas e do Rio Laranginha. Conforme Ruy Christovam Wachowizk que historiou a região e cujo livro serve de base para esse texto, o estabelecimento das posses e seu desenvolvimento eram difíceis e custosos para serem conduzidos. Os custos eram elevados e apenas aqueles que já dispunham de algum capital se arriscavam pela região neste primeiro momento.

Quase que ao mesmo tempo em que se estabelecia São José do Cristianismo, ali perto surgia um novo núcleo, São José da Boa Vista, em terras mais altas e livres da malaria, sezões e outras pestes palustres que assolavam a população daquele povoado pioneiro. Desta forma São José do Cristianismo passou a declinar em população e em importância logística devido as novas estradas que ligavam o novo núcleo aos Campos Gerais.

A Lei nº 421 de 29 de Março de 1875 transferiu a sede distrital e administrativa do Cristianismo para São José da Boa Vista, que afinal se tornaria posteriormente município e comarca.

São José do Cristianismo acabou sendo extinto, hoje devem existir alguns vestígios ainda aparentes em seu antigo sítio. O local desta pioneira vila norte-paranaense que deserta e abandonada é hoje apenas uma lembrança histórica que ainda teima e permanecer e manter-se viva em alguns relatos de antigos moradores da região ou pesquisadores curiosos.

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