Há coisas que só experimentando pra saber. Por exemplo, cálculo renal.
Tive um só e fiquei satisfeito. Inesquecível! Canal de dente: um espetáculo!.
Síndrome do pânico, nem se diga.
Tive uma, imaginem! Íamos para Maceió, o avião havia decolado de São
Paulo e faria um pouso em Campinas. Só 15 minutos. Mas?
Eu comecei a suar frio. Um medo, um terror, um pânico. Fui apertando a
mão de Sônia até a aliança marcar os dedos. Eu só pensava em pular fora assim
que aterrissasse.
Curiosamente, como já puderam observar, eu não contava com a
possibilidade do avião cair. De jeito nenhum! O pensamento obsessivo era de que
eu iria apear em Campinas, jamais que o avião pudesse cair.
E não caiu. Assim que aterrissou, e parou no canto da pista, eu olhei
pela janelinha, vi os
outros aviões “estacionados” à beira da guia, olhei de volta pra
dentro e pensei: Ah! É só um avião! Exatamente isso e nada mais. Era só um
avião! O inferno em que afundei, na
eternidade de 15 minutos, veio não sei de onde e foi não sei pra onde.
Passou!
Mas, então, medo de quê?
A tentativa da psicanálise é o de dizer o não-dito, aquilo que não há
como dizer porque não
cabe em palavras. Mas mesmo assim precisa ser dito nem que seja para
poder existir. Há
áreas do saber onde não se sabe tudo de forma exata. Tirante as
matemáticas, o restante é
incerto como a vida. Foi a psicanálise que nos ensinou que todo ato
falho é um discurso bem
sucedido. Assim sendo, por que deixaria de ser um discurso bem
sucedido o terror de uma
síndrome do pânico?
Na síndrome do pânico pior que o medo de morrer é o sentimento de
estar prestes a
enlouquecer, a empanicar. O termo pânico vem do grego, panikón, e pode
ser traduzido
livremente como “jeito de Pã”, o fauno da mitologia que barbarizava
por onde passeava:
deixava as pessoas caotizadas, catatônicas, esvaziadas de si mesmas.
A natureza tem horror ao vazio. Quando a gente não tem resposta,
inventa uma. Há quem
prenda o pássaro na gaiola para estudar a dinâmica do voo. Mas o pânico
resiste a
respostas, simplesmente, por se recusar a fazer perguntas. Claro que
cada ciência vai puxar
o cobertor por cima do próprio frio. Respostas aparecerão. Preferíveis
são aquelas
ancoradas no porto seguro da História. Os condicionantes históricos,
muito mais que os
determinantes biológicos ou psíquicos, dão o tom e a cor daquilo que
vivemos.
Na História da sociedade ocidental, uma das coisas que mais chamam a
atenção, no
momento, é a crescente preocupação com a aparência física. Muitos se
tornaram
desesperadamente ansiosos por mínimos defeitos corporais, reais ou
imaginários: o excesso
de peso, o tamanho do busto, a perda de cabelo. Por aí vai. Em épocas
anteriores, isso mal
seria notado, menos ainda estaria entre os temas que provocasse
ansiedade aguda. Mas
hoje, vivemos a ditadura da forma. O conteúdo esvaziou. Sobrou a
forma: do corpo, da casa,
do carro…
O que o pânico tem a ver com isso?
Tem que, quando a sociedade contemporânea reduz as causas das
ansiedades reais, como
pragas, epidemias, guerras, escassez de alimentos, simultaneamente, há
uma tendência a
agravar as causas particulares de ansiedade. (Ninguém, por exemplo,
fica doente em hora
de jogo da Copa do Mundo. Os Prontos-socorros ficam vazios!) Sem
falar, claro, em todas as
outras mazelas que assolam as sociedades modernas industrializadas:
segurança de
trabalho, saúde, padrões de consumo, performance sexual, nível
sociocultural ou posição
social, tudo o que tem sido os motores econômicos do estilo de vida
das sociedades
capitalistas, criando novos desejos em consumidores sempre
insatisfeitos. Afinal, o IPhone 5 já caducou!
Os fatos só acontecem depois de serem inventados. Cada um cria o seu.
Mão de afogado é
cheia de mato. Na hora do perigo, a gente se agarra no que tiver
perto. Na medida do
possível, aumente o conhecimento. Quando ele aumenta, o medo diminui.
Essa é a melhor
opção em época de crise. Meu mundo pode se afogar, eu não. Se meu
mundo cair, eu que
aprenda a levitar.
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