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6 de setembro de 2015

SE MEU MUNDO CAIR – Renato Lobo



Há coisas que só experimentando pra saber. Por exemplo, cálculo renal. Tive um só e fiquei satisfeito. Inesquecível! Canal de dente: um espetáculo!. Síndrome do pânico, nem se diga.

Tive uma, imaginem! Íamos para Maceió, o avião havia decolado de São Paulo e faria um pouso em Campinas. Só 15 minutos. Mas?

Eu comecei a suar frio. Um medo, um terror, um pânico. Fui apertando a mão de Sônia até a aliança marcar os dedos. Eu só pensava em pular fora assim que aterrissasse.

Curiosamente, como já puderam observar, eu não contava com a possibilidade do avião cair. De jeito nenhum! O pensamento obsessivo era de que eu iria apear em Campinas, jamais que o avião pudesse cair.

E não caiu. Assim que aterrissou, e parou no canto da pista, eu olhei pela janelinha, vi os
outros aviões “estacionados” à beira da guia, olhei de volta pra dentro e pensei: Ah! É só um avião! Exatamente isso e nada mais. Era só um avião! O inferno em que afundei, na
eternidade de 15 minutos, veio não sei de onde e foi não sei pra onde. Passou!

Mas, então, medo de quê?

A tentativa da psicanálise é o de dizer o não-dito, aquilo que não há como dizer porque não
cabe em palavras. Mas mesmo assim precisa ser dito nem que seja para poder existir. Há
áreas do saber onde não se sabe tudo de forma exata. Tirante as matemáticas, o restante é
incerto como a vida. Foi a psicanálise que nos ensinou que todo ato falho é um discurso bem
sucedido. Assim sendo, por que deixaria de ser um discurso bem sucedido o terror de uma
síndrome do pânico?

Na síndrome do pânico pior que o medo de morrer é o sentimento de estar prestes a
enlouquecer, a empanicar. O termo pânico vem do grego, panikón, e pode ser traduzido
livremente como “jeito de Pã”, o fauno da mitologia que barbarizava por onde passeava:
deixava as pessoas caotizadas, catatônicas, esvaziadas de si mesmas.

A natureza tem horror ao vazio. Quando a gente não tem resposta, inventa uma. Há quem
prenda o pássaro na gaiola para estudar a dinâmica do voo. Mas o pânico resiste a
respostas, simplesmente, por se recusar a fazer perguntas. Claro que cada ciência vai puxar
o cobertor por cima do próprio frio. Respostas aparecerão. Preferíveis são aquelas
ancoradas no porto seguro da História. Os condicionantes históricos, muito mais que os
determinantes biológicos ou psíquicos, dão o tom e a cor daquilo que vivemos.

Na História da sociedade ocidental, uma das coisas que mais chamam a atenção, no
momento, é a crescente preocupação com a aparência física. Muitos se tornaram
desesperadamente ansiosos por mínimos defeitos corporais, reais ou imaginários: o excesso
de peso, o tamanho do busto, a perda de cabelo. Por aí vai. Em épocas anteriores, isso mal
seria notado, menos ainda estaria entre os temas que provocasse ansiedade aguda. Mas
hoje, vivemos a ditadura da forma. O conteúdo esvaziou. Sobrou a forma: do corpo, da casa,
do carro…

O que o pânico tem a ver com isso?

Tem que, quando a sociedade contemporânea reduz as causas das ansiedades reais, como
pragas, epidemias, guerras, escassez de alimentos, simultaneamente, há uma tendência a
agravar as causas particulares de ansiedade. (Ninguém, por exemplo, fica doente em hora
de jogo da Copa do Mundo. Os Prontos-socorros ficam vazios!) Sem falar, claro, em todas as
outras mazelas que assolam as sociedades modernas industrializadas: segurança de
trabalho, saúde, padrões de consumo, performance sexual, nível sociocultural ou posição
social, tudo o que tem sido os motores econômicos do estilo de vida das sociedades
capitalistas, criando novos desejos em consumidores sempre insatisfeitos. Afinal, o IPhone 5 já caducou!

Os fatos só acontecem depois de serem inventados. Cada um cria o seu. Mão de afogado é
cheia de mato. Na hora do perigo, a gente se agarra no que tiver perto. Na medida do
possível, aumente o conhecimento. Quando ele aumenta, o medo diminui. Essa é a melhor
opção em época de crise. Meu mundo pode se afogar, eu não. Se meu mundo cair, eu que
aprenda a levitar.

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