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11 de agosto de 2015

UMA ÁRVORE CHAMADA ADOLESCÊNCIA – Renato Lôbo



É difícil entender o adolescente. Mais difícil é atender. Às vezes, a família insiste. Por que, é claro, é sempre a família que insiste. Eles mesmos nunca nem querem nem precisam! O problema é que a família pode, quando muito, querer para eles, nunca, por eles. Já não são mais crianças. Certo! Mas ainda não são adultos. Pois é! Já começaram a querer o que querem. Ok! Mas ainda não sabem direito o que querer. Né!

A primeira pergunta é sempre o que se passa na família quando um filho vira adolescente?

Então… Família!

Família é um organismo vivo. Com brigas, discussões, vulcões, tsunamis, desbarrancamentos, alegrias, festas, contentamentos, mortes, nascimentos…Tudo isso e
muito mais à mostra da vitalidade desse organismo, em suas nuances e mudanças, nas
interpretações que são feitas para que tudo aconteça e nas leituras que são corrigidas depois que tudo acontece. Sem mencionar as dificuldades de mudar, a partir do momento em que os acontecimentos desabam, ou a facilidade com que se muda ou a mudança em si mesma.

Família é que nem passarinho: troca de pena. Só que passarinho quando troca de pena, fica
mudo, não canta. Família nem sempre!

Nesse canteiro familiar de emoções, brotam e crescem plantas novas, seres que mais tarde
constituirão outras famílias. Nascem, crescem, adoecem, adolescem. As mudanças externas
aparecem logo: o desengonço total de pernas e braços, as espinhas, ah, as espinhas. O que
quase ninguém nota são as mudanças internas. Em cada adolescente caminha uma
multidão, que provoca tumultos, como toda multidão, pelo simples fato de caminhar.

Há horas em que o pobre sujeito adolescente se sente perdido e atormentado por vozes que
comentam e criticam, induzem, só para depois punir. E ele não sabe como conter os moradores do seu condomínio interior.

Ficaria mais fácil, se ele, adolescente, soubesse que ninguém nasce no dia que nasceu.

A gente nasceu muito antes de nascer. Nasceu no dia em que nossos pais se conheceram,
no dia em que começaram a planejar que a gente viria, no sonho que tiveram a nosso
respeito, no dia em que resolveram pintar o quarto sem saber direito a cor, no dia em que
comunicaram para os mais próximos que estavam planejando uma certa vinda para uma
incerta data, no dia em que já sabiam que a nossa história mudaria completamente a deles.

A história de qualquer um nasceu muito antes dele ter nascido. A gente só levou 40 semanas para chegar. Mas quando chegou, boa parte nossa já estava aqui, esperando por nós. Nossa história havia chegado antes.

Quando o adolescente se dá conta de que ele não apenas faz parte dessa história, mas ele é
essa história, algo lhe salta por dentro. Aquele ser desconhecido que havia virado criança
tornou-se obsoleto. Não serve mais. O novo ser desconhecido que agora salta cada vez que
o espelho lhe passa em frente também se tornará obsoleto. Terá de se tornar. É sempre
triste quando se torna. Mas é ainda mais triste quando não se torna. Sempre haverá um
longo percurso: 3, 6, 9, 12, 15 anos. Ou mais! Parece que hoje a adolescência se espicha
sem fim.

Nessa longa jornada, cheia de temores e tremores, descobertas e frustrações, amizades que
vem e vão, perigos por todo lado, os candidatos a se tornarem gente mostrarão armas e
estratégias que desenvolveram durante os primeiros longos 12 anos de vida, quando o
mundo inteiro tinha as cores de um quarto de criança. Mas terão de mudá-las. Como se a
mesma planta fosse replantada inúmeras vezes, para não morrer.

Adolescência é planta, já quase árvore.

Gosto de pensar que somente o que a gente planta nos dará sombra nos dias seguintes.

Gosto também de pensar que a terra é boa. E que com cuidado e tempo e paciência e
esperança e bondade e uma sadia loucura de sempre querer o bem, o arbusto adolescente
se tornará árvore frondosa. E que se não houver frutos, valeu a beleza das flores. Se não
houver flores, valeu a sombra das folhas. Se não houver folhas, valeu a intenção da
semente.

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