É difícil
entender o adolescente. Mais difícil é atender. Às vezes, a família insiste.
Por que, é claro, é sempre a família que insiste. Eles mesmos nunca nem querem
nem precisam! O problema é que a família pode, quando muito, querer para eles,
nunca, por eles. Já não são mais crianças. Certo! Mas ainda não são adultos.
Pois é! Já começaram a querer o que querem. Ok! Mas ainda não sabem direito o
que querer. Né!
A primeira
pergunta é sempre o que se passa na família quando um filho vira adolescente?
Então…
Família!
Família é um
organismo vivo. Com brigas, discussões, vulcões, tsunamis, desbarrancamentos,
alegrias, festas, contentamentos, mortes, nascimentos…Tudo isso e
muito mais à
mostra da vitalidade desse organismo, em suas nuances e mudanças, nas
interpretações
que são feitas para que tudo aconteça e nas leituras que são corrigidas depois
que tudo acontece. Sem mencionar as dificuldades de mudar, a partir do momento
em que os acontecimentos desabam, ou a facilidade com que se muda ou a mudança
em si mesma.
Família é
que nem passarinho: troca de pena. Só que passarinho quando troca de pena, fica
mudo, não
canta. Família nem sempre!
Nesse
canteiro familiar de emoções, brotam e crescem plantas novas, seres que mais
tarde
constituirão
outras famílias. Nascem, crescem, adoecem, adolescem. As mudanças externas
aparecem
logo: o desengonço total de pernas e braços, as espinhas, ah, as espinhas. O
que
quase
ninguém nota são as mudanças internas. Em cada adolescente caminha uma
multidão,
que provoca tumultos, como toda multidão, pelo simples fato de caminhar.
Há horas em
que o pobre sujeito adolescente se sente perdido e atormentado por vozes que
comentam e
criticam, induzem, só para depois punir. E ele não sabe como conter os
moradores do seu condomínio interior.
Ficaria mais
fácil, se ele, adolescente, soubesse que ninguém nasce no dia que nasceu.
A gente
nasceu muito antes de nascer. Nasceu no dia em que nossos pais se conheceram,
no dia em
que começaram a planejar que a gente viria, no sonho que tiveram a nosso
respeito, no
dia em que resolveram pintar o quarto sem saber direito a cor, no dia em que
comunicaram
para os mais próximos que estavam planejando uma certa vinda para uma
incerta
data, no dia em que já sabiam que a nossa história mudaria completamente a
deles.
A história
de qualquer um nasceu muito antes dele ter nascido. A gente só levou 40 semanas
para chegar. Mas quando chegou, boa parte nossa já estava aqui, esperando por
nós. Nossa história havia chegado antes.
Quando o
adolescente se dá conta de que ele não apenas faz parte dessa história, mas ele
é
essa
história, algo lhe salta por dentro. Aquele ser desconhecido que havia virado
criança
tornou-se
obsoleto. Não serve mais. O novo ser desconhecido que agora salta cada vez que
o espelho
lhe passa em frente também se tornará obsoleto. Terá de se tornar. É sempre
triste
quando se torna. Mas é ainda mais triste quando não se torna. Sempre haverá um
longo
percurso: 3, 6, 9, 12, 15 anos. Ou mais! Parece que hoje a adolescência se
espicha
sem fim.
Nessa longa
jornada, cheia de temores e tremores, descobertas e frustrações, amizades que
vem e vão,
perigos por todo lado, os candidatos a se tornarem gente mostrarão armas e
estratégias
que desenvolveram durante os primeiros longos 12 anos de vida, quando o
mundo
inteiro tinha as cores de um quarto de criança. Mas terão de mudá-las. Como se
a
mesma planta
fosse replantada inúmeras vezes, para não morrer.
Adolescência
é planta, já quase árvore.
Gosto de
pensar que somente o que a gente planta nos dará sombra nos dias seguintes.
Gosto também
de pensar que a terra é boa. E que com cuidado e tempo e paciência e
esperança e
bondade e uma sadia loucura de sempre querer o bem, o arbusto adolescente
se tornará
árvore frondosa. E que se não houver frutos, valeu a beleza das flores. Se não
houver
flores, valeu a sombra das folhas. Se não houver folhas, valeu a intenção da
semente.
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