Nem de longe, eu faço a menor ideia porque a
minha memória insistiu esses anos todos em me enganar garantindo que o dia 20
de setembro de 1970 havia caído numa quinta-feira. Foi num domingo. Olhei o
Google: domingo!
Por que essa data? Porque naquele dia,
celebrava-se o jubileu de ouro do Padre Quinzinho com a ordenação sacerdotal de
outro padre, e a cidade estava em clima de festa. Eu não tinha noção da
grandeza do momento e brincava de pique na praça quando fui atraído por uma
música de dentro da igreja matriz. Entrei. Ouvi. E disse para mim mesmo: Eu
gosto disso! E nunca mais deixei de ouvir e de gostar. Era o Coral Vozes de
Euterpe, com 8 anos, ele, e com 12 anos, eu. Gente ainda muito nova para
apreciar a beleza que a beleza tem.
Hoje somos cinquentões, ele e eu. Aprendemos
que a vida só é suportável por causa da beleza. Só a beleza faz desse gap em
que vivemos algo de que possamos nos lembrar, depois de vivido, sem remorsos
nem arrependimentos. Só a beleza!
O resto passa como a vida passa, como passam
os anos e os momentos. A beleza permanece, nos êxtases da cor e do som. A
beleza ficará para sempre naquilo que se vê: nas reentrâncias da Sagrada
Família em Barcelona, no monumental Cristo Redentor do Rio, nas paredes de Petra
na Jordânia, nas Quedas do Niágara, e em tanta coisa mais. A beleza ficará para
sempre naquilo que se ouve: na Quinta de Beethoven, na Lacrimosa do Réquiem de
Mozart, no Ave Verum, tão pequeno, tão raro.
A beleza ficara para sempre no altar da
Aparecida, na pedra do Can-Can, na fachada da Matriz, no por do sol visto do
hospital, nas vozes do Coral. A beleza nos faz viver, sustenta a vida até na
morte. Nietzsche estava cheio de razão: Se não fosse a arte, a vida seria pura
insanidade.
Hoje, o Coral Vozes de Euterpe está completando
50 anos de existência. Viva o Coral do Zé! Nunca mais veremos algo assim!
50 anos de existência dentro da nossa
existência. Isso significa que quando tudo começou, nós, os que por aqui estávamos,
ainda éramos crianças ou jovens ou jovens adultos, mas nunca podíamos imaginar,
naquele 12 de maio de 1962, que estaríamos aqui, neste mesmo lugar, onde tudo
começou, para celebrar a marca dos 50 anos ininterruptos.
Decerto, nunca mais veremos algo assim!
Quem de nós não se embalou nos sons dessas
vozes? Ainda nos tempos da fita K7, quantas vezes a mesma fita foi e veio,
desenrolou-se e enrolou-se de novo, correu o risco de enroscar-se e perder tudo!
Mas o desejo de ouvir as vozes era maior. Vozes, Vozes de Euterpe: vocês fazem
parte do que há de melhor no melhor de nossas vidas.
Esta data é única. Nunca mais viveremos algo
assim!
Saudamos o Coral e seus participantes.
Saudamos os ex-participantes: aqueles que ainda estão aqui e os que já se
foram. Saudamos José, o nosso Zé Vilela, alma do coral, do mesmo coral que
também é a alma da sua vida. Saudamos Brazópolis, sua cultura e sua eterna beleza.
Aqui, dessa Janela do Braz, vemos o tempo
passar e nos vemos superiores a ele. Daqui a 50 anos, quando o Coral Vozes de
Euterpe completar 100 anos, em 12 de maio de 2062, com quase certeza, nós que
aqui estamos não estaremos mais aqui. Mas os que estiverem irão se lembrar de
nós. Vejam as crianças que brincam por aqui. Elas estarão lá. Elas irão se
lembrar desse dia. Elas irão se lembrar de nós. E dirão com igual orgulho ao
que dizemos hoje: A gente estava lá, naquele dia.
Hoje, cabe a quem esteve, encher o peito de
orgulho e dizer: Eu estive lá, naquele dia. Quando tudo começou, estávamos lá. E,
hoje, estamos aqui. Talvez, nenhum de nós irá sobreviver para ver os 100 anos. Mas
o Coral sobreviverá a tudo. E enquanto o Coral estiver vivo, nós também estaremos:
lá atrás, aqui e lá na frente. Enquanto o Coral existir, de algum modo, seremos
eternos.
Longa vida ao Coral Vozes de Euterpe! Longa vida
à música, à harmonia, à beleza e ao desejo de continuar e seguir em frente! Há
50 anos, 12 de maio de 1962 também foi um sábado, assim diz o Google. Conforme
a mesma fonte, em 2062, cairá numa sexta-feira. Seja como for, será um bom dia
para estarmos lá – também – aplaudindo a eternidade da beleza que sustenta a
vida.
Seja como for, até lá então!
2 comentários:
É isto ai, Renato. O Coral realmente é a pérola de Brazópolis. Há 50 anos cantando graças a Deus nas celebrações liturgicas e participando de eventos em várias cidades, levando o nome de Brazópolis. Vi este coral ser fundado sob a vontade e disposição de vários jovens entusiastas da boa mísica, e hoje conservados pela diretoria e componentes atual.
Esqueci de dizer que eu nunca fiz parte do Coral, mas o Coral sempre fez parte de mim. Mas acho que de alguma forma, foi dito. - Renato Lôbo
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