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27 de novembro de 2013

HÁ 51 ANOS FALECIA O PROFESSOR ANTONIO DE OLIVEIRA NORONHA



           Antônio de Oliveira Noronha, Filho de Eugênio Luiz Gonçalves Noronha e Elisa de Oliveira Noronha, nasceu em Brazópolis, a 5 de junho de 1908. Fez o curso primário em Brazópolis, no Grupo Escolar “Cel. Francisco Braz”  e os estudos secundários no Ginásio São José, de Pouso Alegre. Foi professor de Português no Colégio Estadual Presidente Wenceslau, onde foi também foi diretor. Hoje a biblioteca desta Escola leva seu nome.
Teve os irmãos: João Noronha (Músico), Zéca (Fotógrafo) Agenor (Comerciante), Quinzinho (Religioso), Alfredo (Escrivão e poeta)  e Titi (Professora).
Nas horas vagas gostava de compor poemas. O amor era o seu tema preferido. Deixou verdadeiras pérolas literárias. Em suas horas vagas  gostava muito de pescar.
Ainda muito jovem , o professor Antonio Noronha  já escrevia poesias com uma profundidade e sensibilidade  capazes de fazer inveja à qualquer poeta de renome.  Por detrás daqueles óculos, era muitos homens em um só:  Amigo, professor, psicólogo, poeta,  músico, pescador...                                                                                             
Era culto, inteligente e nunca se vangloriava por isso. Não deu valor às coisas materiais, mas soube valorizar as  coisas do coração. Era, acima de tudo, um “professor poeta pescador de amigos”.
Segundo sua irmã Titi, tinha por volta dos 6 anos de idade, quando, observando a mãe e a irmã nos afazeres da cozinha, compôs seu primeiro versinho:

"Titi é uma princesa
Minha mãe uma rainha
Titi toma café
E mamãe café com farinha."
          Casou-se em 1ª núpcias em 1936 com Jandira com quem teve a filha Regina.  Em 1948 casou-se pela 2ª vez com  Rosinha Rezende de Noronha, com quem teve os filhos: Francisco Regis, Cláudia Lúcia, Nívea Maria, Elisa Maria, Eugênia Simone, Félix Adalto e Rosa de Fátima.

            Faleceu  precocemente, aos 54 anos, no dia 26 de novembro de 1962.
Um de seus poemas mais lindos:
 SÓ ISTO
      
Seja a mais simples de todas:
Simples cova sem mentiras,
Terra cobrindo o meu pó.
Mas quero três companheiros:
Plantem ao lado um cipreste,
Finquem também uma cruz,
Em volta plantem saudades,
E é só. Não quero inscrição.

                                                             
Que importa o meu pobre nome
O bem que fiz aos amigos,
O mal que também lhes fiz,
As mágoas que me feriram,
Se sofri, se fui feliz?
Nada mais faz diferença.

Mas reparem no cipreste:
A sombra é convidativa,
Reparem na cruz desperta
No coração a humildade,
E olhem meu pé de saudades:
Tanta vida sobre a morte...

Eu tenho tudo isso amigos.
Venham ver! Mas não perguntem
Meu nome _ que já não tenho
E aproveitem minha sombra,
Beijem também minha cruz,
Apanhem minhas saudades.
Mas, rezem sobre o meu pó...
Só isto faz diferença...


À MEMÓRIA DO PROFESSOR
(Artigo publicado no jornal “ Brazópolis” em 08.06.1969)
                                          X’.

Passos tardos...
Alguém que passa!
Um senhor de estatura mediana, cabelos vastos, levemente grisalhos, óculos claros, simplicidade cativante; o olhar baixo no disfarce da fulgurante intelectualidade que extravasava em sua humilde pessoa.
Dói-me tomar a pena e delinear, num misto de pranto e saudades, a imagem do meu falecido mestre, professor Antonio de Oliveira Noronha.
Lembrança dos bancos escolares, onde tive com ele os primeiros rudimentos do vernáculo.
Parece-me vê-lo novamente agora, sentado a um canto da sala, tirando longas baforadas do seu “Pullman”, sendo envolto pelo fumo cinzento, circunscrito ao derredor.
Mestre inolvidável, sagaz e psicólogo profundo, deslindava com exatidão os problemas mais inextricáveis concernentes ao idioma Pátrio.
Ministrou também aulas de Ciências Naturais da qual era profundo conhecedor e apaixonado estudioso.
Quantas vezes vira-o, de cócoras, e num olhar acurado, observar uma planta encravada pelos calçamentos.
E daí lhe vinha logo o nome específico designado pela ciência...
À repreensão não conhecia  outra voz senão a de amizade, que seria a um mesmo tempo de conselho.
Muitos o desconheceram no integral valor de sua inteligência e realizações; seu proceder fazia-o quase ignorado, (talvez não achasse fazer jus às aspirações mais elevadas) dando-lhe uma vida rotineira, sem fazê-lo pensar em grandezas  ou apoteoses, através de suas resplandecentes e líricas páginas de poesia, cantantes como a água de sonora fonte, em jorros sutis; de nuanças maravilhosas, tal qual velhas baladas de amor...
_ Integridade moral e personalidade marcante definiam sua pessoa; exemplar, de ações e fineza de caráter.
Exímio esteta, autor de “Tapera!, “ Só Isto”, “Malva”, para não citar a vastidão de suas criações, transcendentais em sentimentalismo.
“Tapera”...
Casebre abandonado, somente ervas daninhas o cercam no desconsolo das horas de amargar.
Perfeita analogia desse casebre nos é feita com o coração humano.
Onde também houvera amor, hoje são as lembranças amargas.
“Só Isto”...
O homem que repousa o sono esterno, na tumba gélida, e que por companheiros quer apenas “um pé de saudades, um cipreste e uma cruz”, plantados à cabeceira da última moradia.
Rezem também sobre o meu pó!...
“Malva”...
Soneto de maravilhoso e inebriante sentimento íntimo, de rara expressão verbal, traduzindo em merencória forma, aquele amor cujo viço se esvaiu, mas restando ainda a saudade, a perpetuar sempre nos corações, aquilo que de último ficou das ilusões.
Escreveu ainda diversas peças teatrais, de fino humor, sátiras perfeitas, porém de perceptível sagacidade e elevado teor artístico.
Foi, embora poucos o saibam, músico de perspicaz sensibilidade, fazendo vibrar nas cordas de seu bandolim estro, enternecedor buscado no recesso d’alma.
Dessa alma generosa, que sabia amar a vida, as agruras, que sabia sorrir aos infortúnios e se alimentava das tardes mornas, em que cerúleas pinceladas do sol poente fazia-o derramar rebuscadas frases poéticas, sentimentos rasgados nesses instantes sublimes em que o êxtase e a agonia nos fazem umedecer os olhos, róridos pela harmonia dos momentos vividos.
Era a alma que vivia com a intensidade dos sentimentos e em verdadeiros clarões do gênio que era, embebia em sôfregos versos a noite de breu, o pálido luar a beijar os outeiros, as lantejoulas rutilantes dispersas na imensidão sideral. Como me plangem as fibras íntimas ao relembrá-lo!
Morte!
A manifestação mais rude e incompreensível do Altíssimo, que em espasmos últimos faz sucumbir aquilo que de mais precioso guardamos: a existência.
_Quantas vezes vira-o, em trajes que o tornavam mais irreconhecível, com um chapelão de palhinha, samburá e caniço pendentes no ombro.
Lá ia o professor pela tarde esvanescente, procurar no silêncio das ribeiras o entretenimento que tanto o aprazia: a pescaria.
No escondido das capitubas, ou entre o denso da vegetação, onde corressem remansosas as águas, se encontrava o Professor Noronha.
Aí passava horas de sua vida, apreciando gárrulas aves ribeirinhas em farândolas  pela vegetação aquática, ou aquelas enormes borboletas azuis em nervosas tarantelas, debruando em vistoso matiz sobre a superfície líquida.
Afinal, por que lembrar?
Nem o deveria; as cicatrizes são amostras de males ainda não de todo curados...
E quanto mais lembramos, mais elas se abrem e tornam a sangrar...
Fora ainda apreciador incondicional da arte cinematográfica e rara a noite em que, juntos, não conversávamos sobre melodramas ou policiais, ouvindo atento, a profundeza analítica e o senso crítico por ele apresentados.
Professor, mais um natalício seria transposto por vós nessa quinta-feira p.p. e eu, desejaria de viva voz parabenizar-vos.
Infelizmente já não pertence a esta vida, mas hei sempre de lembrar-me daquele mestre cuja sapiência e conhecimentos fez legar numa demonstração de perfeito entrosamento humanitário e condigno a quantos o ouviram.
Nada mais direi!
Só isto!...
Beijarei também vossa cruz; rezarei também sobre o vosso pó...
Só isto fará diferença...

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