Antônio de Oliveira Noronha, Filho de
Eugênio Luiz Gonçalves Noronha e Elisa de Oliveira Noronha, nasceu em
Brazópolis, a 5 de junho de 1908. Fez o curso primário em Brazópolis, no Grupo
Escolar “Cel. Francisco Braz” e os
estudos secundários no Ginásio São José, de Pouso Alegre. Foi professor de
Português no Colégio Estadual Presidente Wenceslau, onde foi também foi
diretor. Hoje a biblioteca desta Escola leva seu nome.
Teve os irmãos: João Noronha
(Músico), Zéca (Fotógrafo) Agenor (Comerciante), Quinzinho (Religioso), Alfredo
(Escrivão e poeta) e Titi (Professora).
Nas horas vagas gostava de compor
poemas. O amor era o seu tema preferido. Deixou verdadeiras pérolas literárias.
Em suas horas vagas gostava muito de
pescar.
Ainda muito jovem , o professor
Antonio Noronha já escrevia poesias com
uma profundidade e sensibilidade capazes
de fazer inveja à qualquer poeta de renome.
Por detrás daqueles óculos, era muitos homens em um só: Amigo, professor, psicólogo, poeta, músico, pescador...
Era culto, inteligente e nunca se
vangloriava por isso. Não deu valor às coisas materiais, mas soube valorizar
as coisas do coração. Era, acima de
tudo, um “professor poeta pescador de amigos”.
Segundo sua irmã Titi, tinha por volta
dos 6 anos de idade, quando, observando a mãe e a irmã nos afazeres da cozinha,
compôs seu primeiro versinho:
"Titi é uma princesa
Minha mãe uma rainha
Titi toma café
E mamãe café com farinha."
Casou-se em 1ª núpcias em 1936 com
Jandira com quem teve a filha Regina. Em
1948 casou-se pela 2ª vez com Rosinha
Rezende de Noronha, com quem teve os filhos: Francisco Regis, Cláudia Lúcia,
Nívea Maria, Elisa Maria, Eugênia Simone, Félix Adalto e Rosa de Fátima.
Faleceu precocemente, aos 54 anos, no dia 26 de
novembro de 1962.
Um de seus poemas mais lindos:
SÓ ISTO
Seja a mais simples de todas:
Simples cova sem mentiras,
Terra cobrindo o meu pó.
Mas quero três companheiros:
Plantem ao lado um cipreste,
Finquem também uma cruz,
Em volta plantem saudades,
E é só. Não quero inscrição.
Que importa o meu pobre nome
O bem que fiz aos amigos,
O mal que também lhes fiz,
As mágoas que me feriram,
Se sofri, se fui feliz?
Nada mais faz diferença.
Mas reparem no cipreste:
A sombra é convidativa,
Reparem na cruz desperta
No coração a humildade,
E olhem meu pé de saudades:
Tanta vida sobre a morte...
Eu tenho tudo isso amigos.
Venham ver! Mas não perguntem
Meu nome _ que já não tenho
E aproveitem minha sombra,
Beijem também minha cruz,
Apanhem minhas saudades.
Mas, rezem sobre o meu pó...
Só isto faz diferença...
À MEMÓRIA DO PROFESSOR
(Artigo publicado no jornal “ Brazópolis”
em 08.06.1969)
X’.
Passos tardos...
Alguém que passa!
Um senhor de estatura mediana,
cabelos vastos, levemente grisalhos, óculos claros, simplicidade cativante; o
olhar baixo no disfarce da fulgurante intelectualidade que extravasava em sua
humilde pessoa.
Dói-me tomar a pena e delinear, num
misto de pranto e saudades, a imagem do meu falecido mestre, professor Antonio
de Oliveira Noronha.
Lembrança dos bancos escolares, onde
tive com ele os primeiros rudimentos do vernáculo.
Parece-me vê-lo novamente agora,
sentado a um canto da sala, tirando longas baforadas do seu “Pullman”, sendo
envolto pelo fumo cinzento, circunscrito ao derredor.
Mestre inolvidável, sagaz e
psicólogo profundo, deslindava com exatidão os problemas mais inextricáveis
concernentes ao idioma Pátrio.
Ministrou também aulas de Ciências
Naturais da qual era profundo conhecedor e apaixonado estudioso.
Quantas vezes vira-o, de cócoras, e
num olhar acurado, observar uma planta encravada pelos calçamentos.
E daí lhe vinha logo o nome
específico designado pela ciência...
À repreensão não conhecia outra voz senão a de amizade, que seria a um
mesmo tempo de conselho.
Muitos o desconheceram no integral
valor de sua inteligência e realizações; seu proceder fazia-o quase ignorado,
(talvez não achasse fazer jus às aspirações mais elevadas) dando-lhe uma vida
rotineira, sem fazê-lo pensar em grandezas
ou apoteoses, através de suas resplandecentes e líricas páginas de
poesia, cantantes como a água de sonora fonte, em jorros sutis; de nuanças
maravilhosas, tal qual velhas baladas de amor...
_ Integridade moral e personalidade
marcante definiam sua pessoa; exemplar, de ações e fineza de caráter.
Exímio esteta, autor de “Tapera!, “
Só Isto”, “Malva”, para não citar a vastidão de suas criações, transcendentais
em sentimentalismo.
“Tapera”...
Casebre abandonado, somente ervas
daninhas o cercam no desconsolo das horas de amargar.
Perfeita analogia desse casebre nos
é feita com o coração humano.
Onde também houvera amor, hoje são
as lembranças amargas.
“Só Isto”...
O homem que repousa o sono esterno,
na tumba gélida, e que por companheiros quer apenas “um pé de saudades, um
cipreste e uma cruz”, plantados à cabeceira da última moradia.
Rezem também sobre o meu pó!...
“Malva”...
Soneto de maravilhoso e inebriante
sentimento íntimo, de rara expressão verbal, traduzindo em merencória forma,
aquele amor cujo viço se esvaiu, mas restando ainda a saudade, a perpetuar
sempre nos corações, aquilo que de último ficou das ilusões.
Escreveu ainda diversas peças
teatrais, de fino humor, sátiras perfeitas, porém de perceptível sagacidade e
elevado teor artístico.
Foi, embora poucos o saibam, músico
de perspicaz sensibilidade, fazendo vibrar nas cordas de seu bandolim estro,
enternecedor buscado no recesso d’alma.
Dessa alma generosa, que sabia amar
a vida, as agruras, que sabia sorrir aos infortúnios e se alimentava das tardes
mornas, em que cerúleas pinceladas do sol poente fazia-o derramar rebuscadas
frases poéticas, sentimentos rasgados nesses instantes sublimes em que o êxtase
e a agonia nos fazem umedecer os olhos, róridos pela harmonia dos momentos
vividos.
Era a alma que vivia com a intensidade
dos sentimentos e em verdadeiros clarões do gênio que era, embebia em sôfregos
versos a noite de breu, o pálido luar a beijar os outeiros, as lantejoulas
rutilantes dispersas na imensidão sideral. Como me plangem as fibras íntimas ao
relembrá-lo!
Morte!
A manifestação mais rude e
incompreensível do Altíssimo, que em espasmos últimos faz sucumbir aquilo que
de mais precioso guardamos: a existência.
_Quantas vezes vira-o, em trajes que
o tornavam mais irreconhecível, com um chapelão de palhinha, samburá e caniço
pendentes no ombro.
Lá ia o professor pela tarde
esvanescente, procurar no silêncio das ribeiras o entretenimento que tanto o
aprazia: a pescaria.
No escondido das capitubas, ou entre
o denso da vegetação, onde corressem remansosas as águas, se encontrava o
Professor Noronha.
Aí passava horas de sua vida,
apreciando gárrulas aves ribeirinhas em farândolas pela vegetação aquática, ou aquelas enormes
borboletas azuis em nervosas tarantelas, debruando em vistoso matiz sobre a
superfície líquida.
Afinal, por que lembrar?
Nem o deveria; as cicatrizes são
amostras de males ainda não de todo curados...
E quanto mais lembramos, mais elas
se abrem e tornam a sangrar...
Fora ainda apreciador incondicional
da arte cinematográfica e rara a noite em que, juntos, não conversávamos sobre
melodramas ou policiais, ouvindo atento, a profundeza analítica e o senso
crítico por ele apresentados.
Professor, mais um natalício seria
transposto por vós nessa quinta-feira p.p. e eu, desejaria de viva voz
parabenizar-vos.
Infelizmente já não pertence a esta
vida, mas hei sempre de lembrar-me daquele mestre cuja sapiência e
conhecimentos fez legar numa demonstração de perfeito entrosamento humanitário
e condigno a quantos o ouviram.
Nada mais direi!
Só isto!...
Beijarei também vossa cruz; rezarei
também sobre o vosso pó...
Só isto fará diferença...
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