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8 de janeiro de 2011

VIVA O TOTÓ! – Renato Lôbo

Muito interessa aos governos um povo emburrecido. (Se essa palavra não existir, me permitam a liberdade poética.) Nesse sentido, e quando dá, tenho acompanhado a novela global das nove porque, sobretudo, naquela tem havido o que se possa chamar de progressiva e sistemática infantilização das pessoas. Aliás, nem precisei acompanhar. Aquilo é de uma mesmice pior que samba-enredo de escola de samba.

Tomo como padrão essa novela das nove recém findante, porque, nesse quesito, ela foi clássica.

Pra começar, ninguém ali toma banho, porque os personagens não trocam de roupa. A feirante começou e terminou com o mesmo vestido estampado, a menina do cabelo de play-mobil nunca lavou nem precisou cortar porque o cabelo não cresceu, o Totó passou os duzentos capítulos vestido de roupa de frio (camiseta, camisa e blusão), mesmo quando o restante do elenco apreciava o calor nacional em trajes menores, o personagem bígamo apareceu sempre com a mesma blusa branca jogada nas costas e amarrada à frente, o tio vagabundo, enquanto pobre, vestiu a mesma bermuda, pra ficar só aí. Se não o personagem não mudar de aspecto, o distinto público nem precisa se esforçar para saber quem ele é.

Sem falar que a vela da Santa nunca se acabou, nenhum telefone nunca esteve ocupado, ninguém trabalhou na metalúrgica (nem a diretoria) e ela se manteve às expensas dos rolos e desmandos da Presidência, e nunca vi o “cara do segredo psiquiátrico” trabalhar de fato a não ser brincar em carrinho de corrida. Chamou-me vivamente a atenção a chantagem que a personagem play-mobil patrocinou em cima da cabeça da retardada da namorada do presidente da empresa: qualquer criança se sairia melhor daquele enrosco. Preciso falar alguma coisa do canastrão central? Preciso demonstrar que ridículos ficaram os personagens idosos fazendo sexo feito adolescentes? Não preciso lembrar que a gloriosa octogenária Fernanda Montenegro, para ter filhos daquela idade, com certeza, deu à luz depois dos cinqüenta. Nada é impossível! E o italiano que falavam, hein? Que primor! Só pra completar, o Totó (esse nome tem poder) morreu, andam dizendo, só pra depois ressuscitar.

Que espetáculo! Isso é, no mínimo, chamar o público de imbecil.

E pensar que tem um monte de gente contratada só pra escrever um besteirol daqueles que nem texto de diálogo tem! E pensar como ganham bem!

Não é pra questionar o enredo, que aqui escrevo. É pra analisar a intenção obscura de quem patrocina todos os feitores da trama. Ao que tudo indica (foi o que apareceu na telinha toda noite de segunda a sábado), aquilo ali é montado e mostrado para exercer um fascínio e executar um programa sistemático de emburrecimento do povo. É como se a senha fosse: Não vamos deixar o povo pensar. Aliás, vamos colaborar para que haja um desbarrancamento nas fronteiras da mente. Nesse sentido, que se facilite ao máximo o enredo para que, não existindo nenhum esforço de compreensão, ninguém precise exercitar o pensamento nem aprender a pensar. Vamos deixar bem facinho... porque o público é criança e não gosta de coisa dificinha.

Quem será que está por trás disso? Quem paga? Quem ganha? Quem se refestela com esse banquete de comida estragada oferecida todo dia ao jantar? Quem teve a maravilhosa idéia de ligar esse cano de esgoto diretamente na sala e na cabeça da maioria do povo?

Quem quer que seja, acertou na mosca! Funciona. Uma emenda na outra, desde que foram inventadas.

Mas não precisa ficar triste. Terminado esse festival de insulto ao pensamento humano, abre-se a temporada de caça do Big Brother. E todos poderemos ver o velho e gordo Pedro Bial brincando de adolescente voyerista. E pensar que o mesmo Pedro Bial foi quem transmitiu emocionado e ao vivo a queda do muro de Berlim, em novembro de 89, no maior furo de reportagem daquilo que foi um dos maiores acontecimentos do século XX. Lembram-se? Pois é... O que não faz o dim-dim!

Depois xingaram pra dedéu o Marshall McLuhan quando, na década de 60, ele preconizou que a mídia seria o ofício da prostituição. Tai!

Um comentário:

La Nostra Italia disse...

O que falar então da OTABOL que só depois de vários capítulos alguém finalmente descobriu que era o anagrama de Lobato?
Quanto ao "italiano" usado, aquilo é um atentado à língua de Dante Alighieri. Inventam palavras que não são nem italiano, nem português e nem "portuliano". As referências à Toscana do século XXI estão longe de serem verídicas e são absurdamente estereotipadas.
E depois ainda dizem que a Globo investe em cultura...

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