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3 de maio de 2010

A Rua Silvestre Ferraz - p/Fátima Noronha

A Rua Silvestre Ferraz sempre fez parte de nossas vidas. Foi palco de muitas reuniões, muitas festas e muitas brincadeiras. Ali, na casa da vó Cotinha, passávamos os nossos finais de semana. Ali assistimos, pela primeira vez na vida, o desenho do Pica-pau. A família reunida, o almoço gostoso. As jaboticabeiras carregadas, os galhos disputados com os marimbondos e abelhas, que às vezes nos deixavam bochechudos e doloridos.
Ah! Quanta saudades! Saudades de sentar no sofá e ouvir a vó Cotinha contar suas histórias enquanto fazia seu crochê. O barulhinho do seu chinelo que arrastava no chão era como uma cantiga de ninar. Na hora de ir embora, não se saía sem dizer "a benção Vó" e ela com um sorriso "Deus te abençoe, minha filha e cuidado com o automóvel!".
Ali vivemos grande parte de nossa infância, nossa adolescência e mais tarde foi também palco de tantas aventuras da nova geração, os nossos filhos.
A rua, nada mais era , que a extensão da casa da Vó Cotinha.
As jaboticabeiras se foram, vó Cotinha se foi, muita coisa aconteceu, mas a Silvestre Ferraz está lá, fazendo a gente sentir saudades. Saudades de ouvir o Luís Gustavo pedir: "Vó Totinha ,telo tota tola no topo". Saudades de ouvir o João Cláudio reclamar quando a vó Cotinha lhe servia café com leite em uma caneca muito grande: "Ah vó, na panela não..." . Saudades de ver o Patrick deixando todos nervosos com as suas sumidas na hora do ônibus, para tentar ficar em Brazópolis no final das férias. Saudades de ver o Rodrigo, tão pequenino, cumprir as pesadas tarefas que os maiores lhe impunham. Saudades das brigas constantes do Adolfo com a Bianca. Saudades de ver o Rafael estragando as brincadeiras dos maiores e correndo prá escapar das broncas. Saudades de ver as meninas brincando de casinha no meio da rua. Saudades de ver todos sentados na calçada conversando. Saudades...
As férias eram especiais. Os que moravam fora eram esperados com ansiedade, os que aqui moravam, praticamente se mudavam para lá. Era só aparecer a turma, que a rua já virava uma quadra de vôlei. A rede era amarrada nos postes , as equipes escolhidas, e logo começava o jogo, com torcida e tudo.
Em junho era a vez das festas juninas, quando reuníamos, os da família, os vizinhos , os amigos, para soltar bombinhas, comer pipocas, bolo de fubá, pé de moleque e o gostoso quentão feito sem álcool para a criançada.
Tinha também, o campeonato de Futebol de botão, organizado e patrocinado pelo tio João, que já chegava exibindo o tão disputado troféu. Os que eram classificados disputavam como se fosse copa do mundo.
O "Clubinho dos meninos" tinha até prova para entrar. O candidato era aceito apenas depois de passar por pesadas provas de resistência, que eram impostas pelos mais velhos: João Cláudio, Luís Gustavo e Marquinho. E para o desespero das meninas, desse clube elas ficavam de fora.
No Natal tinha a novena das crianças, organizada pela tia Rita. A peça teatral com Nossa Senhora , São José, os pastorzinhos, os anjinhos, tudo bem ensaiado, todos bem caracterizados. O dia da novena era como uma estréia no teatro. Crianças nervosas, decorando algumas partes dos textos, mães ansiosas para ver a "atuação" dos filhos. Depois tinha o "amigo secreto" das crianças, que na maioria das vezes era apenas uma troca de caixas de bombons. Natal também era a época do presépio, muito bem cuidado pela vó Cotinha e sempre uma grande atração para a criançada. A montagem do presépio já era uma festa: tingir serragem de verde para imitar a grama, colher bambu para enfeitar e fazer um laguinho com água de verdade para os patinhos.
E o "pique" de ano novo! Ah! Esse era esperado e disputado pelas crianças. Enquanto em outras famílias, as crianças ceavam comportadamente em suas casas, as "nossas" crianças iam para a Silvestre Ferraz brincar de pique. O limite para se esconder era a cidade inteira. Depois do sorteio para escolher quem ia procurar os outros, começava-se a brincadeira. O sorteado ia encontrando as crianças que partiam também na busca dos outros. A brincadeira só terminava quando a última criança era encontrada, às vezes isso acontecia quando o dia estava quase chegando. Vó Cotinha já não está mais lá para pedir que "tomemos cuidado com o automóvel", mas continua, lá do céu, nos dando a sua benção.
Hoje, já não somos mais crianças, nossos filhos também já não são mais crianças, mas quando nos reunimos na Silvestre Ferraz, todos nós voltamos a ser aqueles que pediam a benção para a Vó e tomavam cuidado com o automóvel...

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