SAUDADES DA CASCATA - Maria Maria

Anos 70. Todo domingo e feriado o destino  era o mesmo:  Cascata!

Combinávamos no sábado à noite. Dormíamos pouco, levantávamos com o sol. Biquinis por baixo das roupas, toalhas e um lanche reforçado.

Local de encontro na beira da linha.

E lá íamos em bando, mais de 20, para a cascata. Trocadinho guardado para a entrada e o lanche já ia sendo devorado. O “conversê” era tanto que acordávamos todo mundo quando passávamos pelas casas.

Quando a conversa não fluía, íamos cantando. Não me esqueço de “Levava uma vida sossegada, gostava de sombra e água fresca. Meu Deus quanto tempo eu passei, sem saber...” da Rita Lee, música cantada em grandes proporções, tanto no volume quanto no desafino.

Ao chegarmos, primeiro uma visita e uma prosinha com os animais. O leão, enorme, parecia até que já nos reconhecia.

Depois era o banho delicioso pra tirar a poeira da estrada. Pulávamos do trampolim como quem queria voar. Um tempinho para bronzear passando coca-cola batida com cenoura no corpo. Se fazia mal? Não sei. Mas que deixava uma cor linda, isso deixava. O difícil era ficar espantando as moscas que insistiam em lamber a mistura doce de nossos corpos.

Paradas para beber e comer nossa “matula”. E um passeio para fazer o “quilo” antes de voltar pra água. Nossos pais tinham nos ensinado que nadar de barriga cheia era perigoso... na dúvida dávamos um tempinho que era aproveitado para flertar com os meninos de fora que chegavam aos bando nos ônibus. A ilha dos namorados era o lugar ideal para as paqueras.

Destas paqueras até namoros saíram e até um casamento que dura até hoje.

Dias maravilhosos...

Final de tarde, voltávamos pra casa, exaustos, mas ainda com forças pra voltar cantando “Ana Maria entrou na cabine e  foi vestir um biquíni legal, mas era tão pequenino o biquíni que Ana Maria até sentiu-se mal. Ai, ai, ai, mas ficou sensacional!...”

Hoje, vendo a destruição e o abandono do nosso lugar preferido, fico triste. Triste por não poder voltar lá, triste por não ver nossos filhos fazendo o que fazíamos...

Tempo bom que não volta mais.

Saudades, muitas saudades...