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2 de setembro de 2010

DIAS IGUAIS – Raphael Noronha Dias

Maio já não tem o gosto de frio chegando, já não vejo mais montanhas brancas de tanto frio, não vejo nem a igreja que olhava sempre da porta de casa, tampouco escuto os carros no fim do expediente da prefeitura.
Não escuto a Maria gritar, nem a Branca latir.
Não escuto mais as pessoas, nem as reclamações de minhas tias.
Era pacata, mas tinha sempre novidade, era um que morria, outra que engravidava, uma que apanhava do marido, outros que nasciam e uns que morriam...Bastava tocar música na igreja e todos corriam pra escutar quem era o coitado.
Era filho de quem? Marido de quem? Tava com que? Durante a semana corre também a fofoca, se é um defunto popular.
Não vejo nem as senhoras que saem da missa de braço cruzado e segurando guarda chuva, nem o pipoqueiro da praça, nem os bares.
Não sinto cheiro de doce da fábrica, nem do café da beira da linha, nem da minha casa.
Hoje permaneço sem ar, sem montanha, com tanta informação que nem paro pra olhar o tempo, o agora, ele simplesmente passa, passa batido, passa.
Acordo, mando filho pra escola, faço almoço, arrumo a casa, faço café, jantar; dou remédio, vou no hospital...
Agora ele dorme com a barriga cheia, cheiroso, tranquilo, como se nada tivesse acontecido. Que bom, só isso já está muito bom, bom, bom mesmo, mas cansa ...
O que passou, passou, mas não sei porque sempre volta à minha cabeça,coisas passadas, coisas mortas, cheiros e sensações inesquecíveis.
Deve ser por isso...são inesquecíveis.

Campinas, maio de 2007

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