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23 de agosto de 2010

PAIS - Renato Lôbo


Há um tempo em que os pais
vão ficando órfãos dos seus próprios filhos.

Eles crescem independentes de nós
como árvores tagarelas e pássaros estabanados.
Crescem sem pedir licença à vida.
Sem pedir licença... Simplesmente, crescem.
Crescem com uma estridência alegre e, às vezes,
com alardeada arrogância.

Mas não crescem todos os dias, de igual maneira. Não!
Crescem... de repente.
Um dia, sentam-se perto de você no terraço
e dizem uma frase com tal maturidade
que você sente que não pode mais
trocar as fraldas daquela criatura.

Por onde andou crescendo aquele danadinho,
que você nem percebeu?

Os filhos crescem num ritual
de obediência orgânica e desobediência civil.
E você está, agora, ali, à porta da balada,
esperando que ele não apenas cresça,
mas apareça!

Como muitos outros pais, ao volante,
esperando que eles saiam esfuziantes
Sobre patins ou coisa que o valha,
cabelos longos, camisetas largas, tênis sujos,
soltos e livres, como, um dia, também fomos.

Entre hambúrgueres e refrigerantes, nas esquinas,
lá estão eles com o uniforme de sua tribo:
incômodas mochilas nos ombros,
e muitas, muitas idéias na cabeça.

Esses são os filhos que conseguimos gerar e amar,
apesar dos golpes dos ventos,
das colheitas, das notícias
e da ditadura das horas.

E eles crescem meio amestrados,
observando e aprendendo de nossos erros e acertos.
Principalmente com os erros.
Que sempre esperamos jamais repitam.

Há um período em que os pais
vão ficando um pouco órfãos dos próprios filhos.
Não mais os pegaremos às portas das festas.
Passou-se o tempo do ballet, do inglês,
da natação, do judô...

De repente (e não vimos!),
eles saíram do banco de trás
e passaram para o volante:
o volante de suas próprias vidas.

É aí que nos damos conta de que deveríamos
ter ido mais à cama deles, ao anoitecer,
para ouvirmos sua alma
respirando conversas e confidências
entre lençóis da infância
e adolescentes cobertores...
naquele quarto cheio de adesivos, posters,
agendas coloridas e barulho ensurdecedor.

Eles cresceram sem que esgotássemos neles
todo nosso afeto e nossa capacidade de amar.

Por isso, é necessário fazer alguma coisa a mais,
antes que eles cresçam. E apareçam? Não!
Antes que eles cresçam e desapareçam.
Não basta apenas amá-los.
É preciso, é urgente,
que eles saibam que a gente os ama.

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