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30 de outubro de 2010

Very Well, um brazopolense no Palácio do Planalto

Palácio do Planalto - 1 de dezembro de 2003
Bastidores do Planalto, o Palácio do poder.

O brazopolense José Henrique Nazareth é um dos funcionários mais antigos na Presidência. Ele trabalhou desde 1961 no Planalto, e acompanhou o dia a dia da sede do Executivo desde o governo de Jânio Quadros. Apelidado de “Very Well”, por causa de sua mania de falar palavras soltas em outros idiomas, José Henrique foi auxiliar dos jornalistas que trabalham no Comitê de Imprensa do Palácio. Mas ele já exerceu as mais diversas funções dentro do Palácio. A principal delas foi durante o governo de Humberto Castello Branco, entre 1964 e 1967.

Nesse período, Very Well trabalhava no gabinete do presidente e colecionou uma série de histórias para contar. “Uma vez, o Castello me pegou dormindo no gabinete, mas apenas deu um sorriso. Mas o momento em que eu passei o maior aperto foi quando eu tive que vir do Rio para Brasília, numa noite chuvosa, para trazer os últimos decretos assinados pelo Castello. Eu vim em um teco-teco que só cabia uma pessoa, enfrentamos uma viagem terrível, e só consegui ficar aliviado quando pousamos em Belo Horizonte”, contou José Henrique.


No desempenho de minhas atribuições funcionais de Chefe, tinha o encargo adicional de controlar o dinheiro que o Deputado recebia como subsídio da Câmara, cujo montante era utilizado aqui mesmo em Brasília, em suas despesas pessoais, salários e previdência de empregados domésticos, caridade, material de expediente, publicidade e na ajuda a pessoas que acorriam ao gabinete na busca de algum refrigério, notadamente solicitando passagem para retornar ao Rio de Janeiro. Assim, um talão de cheques, assinado em branco, ficava sempre em meu poder.
Estávamos no final do recesso, e a correspondência, aberta, lida e selecionada, se avolumava na mesa do Deputado. Num detalhe, Jorge Cury costumava pegar em meu pé: adorava chegar às sete horas, quando o expediente principiava às nove! Naquele primeiro dia de reinício das atividades, já o encontrei no batente, acompanhado de José Henrique Nazaré, o popular Very Well, funcionário do Comitê de Imprensa do Palácio do Planalto.
Nem bem me instalo, e recebo a voz de comando:
– Doutor, faça aí um cheque bem salgado para o Very Well, que ele vai casar a filha!
– Mas deputado…
– Doutor, não argumente, que meu amigo está muito apressado!
Sapequei o cheque e o entreguei ao Very Well que, rapidamente, se retirou.
De sua mesa, lendo a papelada que se amontoara no recesso, de repente, o Deputado me grita:
– Doutor, venha cá, correndo!
Corri.
– Veja, doutor, o Very Well me levou na conversa. A filha dele está casada desde janeiro. Olhe aqui o convite!
– Deputado, era isso que eu queria falar, e o senhor não permitiu!
Mas Jorge Cury não era homem de dar, facilmente, o braço a torcer. Sem pestanejar, retrucou:
– Doutor, o convite era para o casamento, não era? O cheque que o senhor deu foi para ajudar nas despesas, não foi?
– Sim senhor, Deputado!
– Pois então? Casou, tá casada. Deu, tá dado. E estamos conversados. Tô certo, ou tô errado?


Fonte: Jornal do Commercio

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